Capítulo 09

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No final do século XIX, a Itália passava por grandes dificuldades. Após a longa Guerra da Unificação, o Reino da Itália passou por uma grande crise econômica e, para agravar a difícil situação, a população crescia consideravelmente, como também o desemprego causado pela Revolução Industrial.
Para fugir do caos, milhares de italianos abandonaram sua terra. Corajosos, aventuraram-se em longas viagens, muitos sem bagagem alguma e com destino incerto. Estavam esperançosos de que, saindo dali, as dificuldades não os acompanhariam. Um grande engano. E, apesar de todas as dificuldades encontradas, o espírito alegre, característico dos italianos, não os abandonou e espalhou-se por onde quer que fossem.
Estima-se que um milhão e meio de italianos chegaram ao Brasil no período de 1870 a 1920 e que, atualmente, quinze por cento da po- pulação brasileira tenha descendência italiana.

Os italianos se concentraram, principalmente, nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. No Sul fundaram colônias, como Bento Gonçalves, Garibaldi e Caxias do Sul, e se dedicaram à plantação de uva para a produção do vinho tinto. Mas foi o Sudeste a região que recebeu o maior número de italianos, especificamente a cidade de São Paulo, onde trabalhavam nas lavouras de café e, ainda, em indústrias.

Muitos, porém, possuindo espírito empreendedor, conseguiram juntar dinheiro e, posteriormente, compraram fazendas ou montaram negócios, fazendo fortunas.
Porém, as péssimas condições em que eles viviam nas fazendas foram noticiadas pela imprensa italiana e, como efeito, houve uma grande diminuição da migração para o Brasil. Optaram por outros destinos, como Estados Unidos e Argentina.

Os italianos influenciaram fortemente a cultura brasileira; muitos dos seus costumes foram incorporados pela nova nação: novas técnica agrícolas; maior consumo de legumes e verduras; culinária e a introdução da pizza, polenta, macarronada, lasanha e o hábito de comer panetone no Natal; festas religiosas e até o uso do "ciao", o famoso tchau.

Na Fazenda Boa Fé, sábado era dia de festa para os imigrantes. Todo sábado à noite, reuniam-se no pátio central da vila dos imigrantes para festejar. Era uma verdadeira alegria! Enquanto alguns cantavam, outros comiam e todos dançavam. Uma tentativa de sentir perto a sua pátria, fazendo com que os costumes fossem mantidos e se per- petuassem nas gerações futuras.

Cada família era responsável por um prato e a grande mesa comunitária ficava farta de lasanha, ravióli, pizza e macarronada. E para beber não podia faltar o bom vinho tinto.

E lá estava Teodoro, chamando a atenção de todas as jovens imigrantes, que admiravam a sua beleza e sussurravam toda vez que ele passava. Teodoro sempre se mostrou indiferente, pois seus olhos e pensamentos pertenciam apenas a Gertrudes, seu amor secreto. Mas acontece que ele andava decepcionado com a namorada e, no seu ín- timo, sabia que precisava fazer algo para chamá-la a atenção. Tomou uma taça de vinho e tirou Olívia, a recém-chegada portuguesa, para dançar.

Chegando ao pátio, Gertrudes se deparou com Teodoro dançando com a novata. Ele nunca fizera isso antes. Observou um pouco mais e viu o quanto se divertiam. Não deu tempo nem de pensar, Gertrudes saiu ao encontro deles.

— Posso saber o que está acontecendo aqui? — Inquiriu, lançando um olhar furioso para Teodoro.
— Oi, Gertrudes. Essa é Olívia, a nova moradora da fazenda. Ela veio de Portugal. —Teodoro apresentou a sua acompanhante.
— Que falta de sorte a dela ter vindo parar aqui, não?! — A namorada rebateu com rispidez.
— Isso é jeito de falar? Que impressão Olívia terá de você?!
— Não preciso da aprovação de ninguém, meu querido. — Fitou-lhe bem dentro dos olhos.
— Olívia, perdão pela falta de educação de Gertrudes, ela não deve estar bem.
— Como não estou bem?! — Gertrudes questionou indignada. Teodoro a interrompeu, voltando-se novamente a Olívia:
— Preciso de um minutinho. Enquanto isso, pegue algo para beber, que já dançaremos novamente.

Após Olívia se retirar, Teodoro continuou a conversa com Gertrudes:
— Pensei que não viesse à festa hoje.
— E aproveitou para se divertir na minha ausência! — Ela retrucou exasperada.
— Estava apenas dançando.
— Esqueceu que é um homem comprometido?
— Sou? Eu não posso ter nenhum compromisso com quem não
quer me assumir como namorado. Estou cansado de viver às escondidas! Seja sincera comigo! O que está acontecendo? Qual é realmente o seu medo?

Gertrudes calou por algum instante.

— Eu não sei. — Ela respondeu com os olhos cheios de lágrimas.
— A verdade é que você não sabe o que quer! Mas não posso conduzir a minha vida de acordo com suas indecisões. Descubra o que você deseja e se ainda faço parte de seus planos. Até lá, sou dono da minha vida e não lhe devo nenhuma satisfação. — Declarou o jovem italiano.

Dito isso, Teodoro saiu em direção a Olívia.
Furiosa, Gertrudes voltou para casa. Sentou-se no alpendre e observou como a lua estava bela. E começou a falar por diversas vezes:
"O que será da minha vida?"

Percebeu que Teodoro tinha razão. Como ela poderia caminhar sem saber o que almejava alcançar?! Ela se encontrava completamente dividida entre a sua necessidade e o seu mais intenso sentimento. Gertrudes, sem dúvida, amava Teodoro, contudo, por mais que se esforçasse, não conseguia enxergar um bom futuro em sua companhia. Por outro lado, um interesse nascia em seu coração pelo filho do Barão. Ele poderia proporcioná-la às maiores regalias e estar ao lado dele não seria sacrifício algum, visto que ele era um homem bastante interessante.
E mais uma vez ela se questionou:
"O que será da minha vida?"

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