Capítulo 14

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Acena que Teodoro acabara de presenciar o deixou desnorteado. Ele, que ainda comemorava o noivado com a mulher que amava, acabara de perdê-la, sem ao menos ser comunicado. Jamais estaria preparado para aquela situação.

Caminhava sem rumo no escuro, apenas caminhava, chorando. Porém, quando saiu nitidamente nervoso de casa, Olívia o seguiu e pôde vê-lo chorar e dar murros contra o vento.
Ainda distante, ela gritou:
— Está tudo bem?
— O que você está fazendo aqui? —Teodoro perguntou secando as lágrimas.
— Vi quando você saiu e fiquei preocupada. Não sei o que foi capaz de deixar-te tão transtornado, mas chore. Chore todas as lágrimas que estão te afogando.

Ele se desarmou e chorou como uma criança que sente falta da mãe. Comovida, Olívia lhe deu um abraço e os dois permaneceram abraçados por um bom tempo.

— Já estou me sentindo melhor. — Ele falou soltando-a.
— Na maioria das vezes, tudo que precisamos é do consolo de um abraço. Você gostaria de conversar? — Olívia falava com doçura — O que aconteceu para te fazer perder a cabeça daquele jeito?
— Não, não vale a pena sequer ser mencionado. — Teodoro desviou o olhar para o céu na tentativa de evitar que lágrimas caíssem novamente.
— Podemos ir até a minha casa; posso te fazer um chá de capim-santo. Ele tem efeito tranquilizante e te ajudará a dormir melhor.
— Se não for incômodo, eu aceito.

Os dois se dirigiram à casa de Olívia. Teodoro ficou no alpendre da casa esperando que Olívia preparasse o chá. Logo começou a lembrar da cena que presenciou ali ao lado. A mulher que amava, sua noiva, nos braços de outro homem. Imediatamente ele foi tomado por um sentimento de fúria e esmurrou a parede. Olívia chegou bem na hora.

— Acho que precisaremos de mais uma xícara de chá para você. – Brincou, entregando-lhe a xícara.
— Perdão, Olívia, e obrigado por se preocupar comigo. Realmente perdi a cabeça. —Tomou um gole de chá — É o que mais sinto falta de Verona: dos cuidados da minha mãe. Estou sozinho aqui, nesta terra desconhecida, cercado por pessoas desconhecidas. Não tem sido fácil.

— Mas você não está sozinho; tem ao Joel e à filha dele. Não são seus parentes?
— Não são suficientes para me fazerem esquecer de casa. E também não são exatamente meus parentes. Consideramo-nos assim porque sempre tivemos amizade, fomos vizinhos e eu trabalhei na loja de vinhos do Joel.
— Nada se compara ao seio familiar, não é mesmo?
— Venho descobrindo isso...
— Mas esse saudosismo é esperado por quem deixa a sua pátria. Por mais que eu esteja aqui com minha família, sinto falta da minha casa, meus amigos, meus parentes, da minha terra.
— Então acho que nós dois precisamos de ajuda.
— Podemos ajudar um ao outro. — Olívia olhou Teodoro com ternura.
— Sim, podemos. — Ele respondeu seguro.

Teodoro colocou a xícara na janela, suas mãos teriam de  estar livres para acariciar aquele rosto delicado. E, finalmente, a beijou.

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