A Minha Besta

UM LÍDER NÃO TÃO NATO

   A dor agonizante me atingiu de uma maneira insuportável, em resposta, instantaneamente comecei a gritar. Me encolhi no chão abraçando minha perna contra o corpo. Estava tão próximo que pude sentir o cheiro de carne morta chegar ao meu nariz.

   - MORO! Moro, fica comigo! Aguenta! - Angel subiu em cima de mim sem saber o que fazer.

   - Vai... Vai b-buscar a-ajuda... - Sussurrei com dificuldade.

   - Não... Eu não vou te deixar aqui! -

   - VAI AGORA! - Gritei com toda a minha força. Senti ela se afastar com o susto e hesitar. - A-Angel, eu n-não c-consigo andar... É-é o único j-jeito... -

   - Eu... Eu vou mas eu volto. Ok? Me ouviu? Eu volto, tá bom? - Sua voz saiu trêmula e amedrontada.

   A ouvi se virar e engatinhar para dentro do buraco até não ouvir mais nada.

[...]

   Já faz um tempo que eu não vejo a minha amiga. Estou sentado encostando as costas em uma das pedras que marcam a entrada do túnel. Meu corpo não está aguentando, meus olhos estão pesados, minha visão está embaçada e minha respiração está ofegante.

   De repente, escuto alguns passos. Virei minha cabeça rapidamente para a direção do som e me deparei com um leão enorme de juba loira e olhos verdes bem claros. Tinha uma tatuagem no ombro esquerdo de rosto de leão feito de ferro.
   Me joguei para trás de uma grande rocha que estava mais a frente de mim para me esconder.

   - Ei! Seus filhotes de lesmas, andem logo! Eu estou envelhecendo aqui! - Gritou com sua voz grossa para alguém atrás dele e continuou andando em frente.

   - Calma chefe, nós estamos cansados... - A voz era de um leão jovem de juba castanha clara e curta de olhos dourados. Não tinha tatoo. Estranhamente, o garoto me era familiar.

   - É, nós estamos dando voltas à dias aqui em baixo. - Mais um apareceu, ele era mais velho que o menino. Sua juba negra estava quase completa e tinha olhos azuis bem fortes. Tinha uma tatoo na mão esquerda com um rosto de ferro e era pintado no fundo para parecer a noite. Cobria toda a costa da mão.

   - Eu ainda não entendi como ela fugiu de nós. - E então surge um quarto e parecia ter a mesma idade do último. Sua juba parecia ter sido esfumaçada, era uma mistura de branco com cinza e preto. Tinha olhos alaranjados. Sua tatuagem era um pouco acima do quadril. Um leão de ferro que tinha fumaça saindo dos seu olho esquerdo.

   - Por que vocês são um bando de incompetentes! - O maior esbravejou. - Aquela garota era nossa mina de ouro e vocês estragaram tudo! -

   - Nós estragamos tudo?! Olha só, você também não tem sido um exemplo de líder! - O menor começou a se impor contra ele. - Tudo tem desandado desde que você ficou com lugar dele! - Quando o mais velho se virou na direção do garoto, os seus parceiros tentaram interferir.

   - Ei, chefe! Não liga para o que ele tá falando não, haha... O pobrezinho está com fome, cansado e você sabe com são os jovens hoje em dia né, hahaha, nunca falam oque deveriam! - Disse o de juba preta de forma animada e nervosa ficando entre os dois e emburrado o mais jovem com a cabeça para afasta-lo.

    - É, hoje não está sendo um dia muito bom, vamos só descansar... - O esfumaçado falou com calma tentando apaziguar a situação.

   - Sabe... Você tem ficado mais linguarudo do que uma cobra ultimamente. E eu estou ficando cansado disso! - Vi o loiro deixar as garras saírem lentamente e afia-las na terra.

   - Você só está bravo porque é verdade! Meu pai foi um líder muito melhor do você e sabe disso. -

   Na mesma hora, o enorme leão levantou sua pata direita e arranhou com toda a força o rosto do menino em um movimento rápido. Oque fez ele se desequilibrar e cair no chão com força. Vi o sangue dele escorrer pelo lado rosto esquerdo do rosto. E então o grandão gritou:

   - Eu sou um líder melhor do que o Sombra jamais foi! -

   Eu gelei. O Sombra? Líder de um bando inteiro aqui em baixo?! Mas pensando bem agora faz sentido do porque ele é tão temido aqui em baixo. E mais importante: Ele tem um filho?! Mas como?! Com quem?! Onde?! Quando?! Por que?! E por que ele está lá encima enquanto o filho está aqui em baixo? Meus devaneios em meus pensamentos foram interrompidos pelo leão dourado.
    Ele colocou a pata na cabeça do mais novo e prensou forte contra o chão. Abaixou sua boca até o ouvido dele e falou:

   - Da próxima vez que levantar a voz para mim... Vai ser a última... - Tirou em um ato brusco sua pata fazendo com que o garoto batesse sua cabeça novamente no duro solo. Ele deu as costas para todos cruzando a ravina com passos rápidos e a respiração pesada.

   - AGH! - Gritou o pequenino se levantando rapidamente. - Eu não suporto mais isso!

   - Você ficou maluco puxando briga com aquele cara?! Ele é um psicopata! Acho que isso só não aconteceu antes porque ele tem uma história com o seu pai! - Alertou o leão de juba negra.

   - Não tô nem aí! Quando minha juba crescer eu sair desse bando e nunca mais voltar! E vocês deviam fazer o mesmo! -

   - Não podemos, já temos nossas tatuagens, não tem volta agora. Estamos ligados aquele lunático até alguém o matar ou até que o tempo o leve. - Falou o esfumaçado.

   - E nós não temos chances contra ele. Estamos presos... - Concluiu o outro.

   - Mas você tem a chance de escapar, então aproveite. E, sei lá, talvez reencontre o seu pai... -

   O menor a baixou a cabeça e falou baixinho:

   - Como se ele me quisesse... -

   Depois que eu ouvi essa frase, quase pude ouvir o barulho do meu coração se partindo.

   Os dois leões mais velhos foram a direção onde aquele leão loiro tinha ido a uns minutos atrás.
   O mais jovem ficou sentado, sozinho, limpando o seu recente machucado.
   Aquela história do Sombra ainda estava sendo processada na minha cabeça.
   Acho que poderia ter uma chance de conversar com o menino, mas teria que ser agora.

   Eu me levantei com dificuldade para ir até lá. De repente, sinto duas mãos me agarrarem e me puxarem com força.