A Minha Besta

FAÇAM SUAS PRECES, TEMOS UM ANJO CAÍDO

   Corremos muito até chegar ao outro lado do lago rapidamente. Quando paramos na "porta" de outra árvore oca, a Angel estava deitada em uma cama feita de feno, desacordada, com a Mama Ayue e a Narciso ao seu lado. Ela estava com as patas em baixo do corpo exceto pela dianteira esquerda que estava esticada para frente, seu pulso estava com dois pontos roxos. A expressão no rosto dela esboçava cansaço e dor.
   Toda aquela situação me lembrava de quando aquela louca da Itiri me envenenou, a volta daquela memória me deixou mais desesperado.

   - Mama Ayue! - A elefanta virou sua cabeça para mim.

   - Vaga-lume! - Veio na minha direção com a tromba esticada para um abraço, o retribui, pela força daquilo, a situação não estava boa.

   - Ela e o bebê vão ficar bem? - Perguntei assustado.

   - Vou ser sincera com você, está bem? - Balancei a cabeça positivamente. - Tenho uma notícia boa e outra ruim. Quer ouvir a boa primeiro? -

   - Sim, por favor. - Supliquei angustiado.

   - A boa notícia é que sabemos qual é o veneno que está no corpo da Angel, é o mesmo que achamos em você. Suspeitamos que seja até a mesma cobra. -

   - Isso é ótimo! Quer dizer que podem cura-la, não é? - Disse animado, o que fez com que a expressão nos olhos da Mama Ayue só se tornassem mais tristes.

   - Aí, garoto! - Ouvi a Narciso chamar minha atenção. - Lembra que tem uma má notícia? Então! -

   - Vaga-lume. - Olhei novamente para o grande mamífero na minha frente. - A cura para esse veneno é extremamente rara, tínhamos só uma dose... e nós usamos em você... -

   Nesse momento, fiquei sem chão. Abaixei a cabeça encarando o chão com a boca semiaberta e a cauda entre as pernas. Tive a sensação de que um balde de água fria tinha sido jogado em todo o meu corpo. Não podia acreditar, não podia perder a minha melhor amiga bem do jeito que ela me salvou. Não podia perder ela de nenhuma maneira. Ela não iria desistiria de mim e eu não vou desistir dela.

   - Tem que existir mais uma dose, uma última planta! - Todos se entre olharam meio assustados e hesitantes. - Tem outra não tem? Onde ela está? -

   - Você acha que já não teríamos ido se soubéssemos?! - Falou Narciso irritada.

   - Então como vocês tinham essa última muda? - Rebati.

   - Tá insinuando o que, moleque?! - Questionou ofendida.

   - Parem os dois! - Interferiu Mama Ayue. - Não sabemos onde tem porque essa era uma planta que só cresce dentro da ravina! Só a Angel sabia onde ficava. Ela estava foi lá para buscar mais. -

   - Mas ao invés disso, ela voltou com a antiga tatuagem arrancada à mordidas e mais problemas pro Jardim! - Disse Narciso me encarando com raiva. Ela se virou de costas e começou a andar em círculos com as mãos atrás da cabeça.

   - Ninguém mais sabe onde fica essa planta? - Perguntei começando a entrar em desespero.

   - Não, só se tivéssemos alguém que viveu dentro da ravina para nos guiar. - Respondeu a elefanta triste.

   - Mas temos muitos animais aqui que vieram lá de baixo. - Protestei confuso.

   - Dispostos a arriscarem encarar a fúria da Itiri? Eu acho que não. Muitos estão aqui por causa dela. - Disse Narciso de costas para mim ainda andando.

   - Mas eu não estou. E não tenho medo daquela maluca. - De repente, ouvi a voz de alguém que era a última pessoa que espera ouvir naquela situação.

   - Sombra? - Me virei na direção da abertura da árvore, e lá estava ele, de braços cruzados apoiando o seu corpo na madeira com o seu ombro direito. - Você ouviu a conversa toda? -

   - Basicamente... - Ele moveu os olhos para um canto vazio da sala.

   - Não, não, não, você não! - Esbravejou Narciso. - Eu não confio em você! Quem garante que vai voltar? -

   - Eu garanto! - Afirmei bem alto me transformando em humano. - Eu vou com ele. -

   - Grande ideia! Um línio mancando indo atrás de um remédio incrivelmente raro no meio do lugar mais perigoso de toda a savana! Ah, e não vamos esquecer que ele está sendo guiado por um leão completamente imprevisível que tem toda a capacidade de te deixar lá para morrer e de não trazer o remédio da Angel! Claro, tenho certeza de que vai dar tudo certo! - Falou sarcástica quase sem folego.

   - Ótimo! Então não tem com o que se preocupar! - Retruquei zombando dela.

   - Meu Deus, será que vocês podem parar com isso? - Ordenou Mama Ayue pedindo silêncio. - Sombra, sabe mesmo como encontrar essa planta? - A atenção de todos foi voltada para o homem na entrada que continuava sem fazer contato visual com ninguém.

   - Sei... - Ele parecia desconfortável.

   - Certeza? Nem te dissemos que planta é ainda. - Falou Narciso desconfiada.

   - Não importa que planta seja, sei onde posso conseguir... - O homem continua a olhar para o canto.

   - É mesmo? Então me fala onde fica esse lugar mágico. - Ela continuou Irônica fazendo o Sombra dar um profundo suspiro.

   - Se você mora lá embaixo, você precisa saber como tratar qualquer tipo de ferimento ou conhecer alguém que tenha as ervas pra isso. - Mudou de posição na parede trocando a direção do seu olhar que seguia sem chegar ao encontro de qualquer um. - Tem um cara lá, um cachorro selvagem bem estranho, mas todo mundo sabe que ele tem todo o tipo de ervas medicinais que você pode precisar... por um preço, é claro... -

   - Tava bom demais pra ser verdade. - Ouvi a Narciso reclamar atrás de mim.

   - E qual é o nome desse sujeito? - Perguntou Mama Ayue intrigada.

   - Apelidaram ele de Mad Head Jones... -

   - Hum... Por um preço, não é? - A mulher fez uma expressão que não consigo descrever, parecia que ela estava lembrando de algo que tinha vivido a muito tempo.

   - Mama Ayue? - Chamei a atenção dela fazendo com que ela mudasse completamente o semblante para um olhar serio.

   - Vaga-lume, vocês precisão ser rápidos, temos pouco tempo para pegar esse antidoto. Tem certeza de que pode conseguir a tempo? - Aquilo me pegou de surpresa, mas não mudou nem por um segundo o objetivo na minha mente.

   - Prometo que só vou parar de procurar quando a Angel e o bebê dela estiverem a salvo. - Disse tentando mostrar minha confiança ao máximo.

   - Ótimo. -

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   Tava com tanta saudade de fazer isso com vocês!🤩