MORO NARRANDOSenti alguém puxar o meu pulso direito por trás e tampar a minha boca. Me fez abaixar de joelhos o que fez a minha ferida arder parecendo que estava sendo rasgada de novo.
Fechei meus olhos com força, suando frio. Com as batidas que o meu coração estava fazendo, achei que iria sair pela boca. Comecei a tremer com a mistura de um sentimento de dor misturado e medo.- Me diz que vc não ia fazer oque parecia que ia fazer! - Sussurra a voz de Angel no pé da minha orelha.
Me soltei dela com um movimento brusco. Quando olhei de volta para o meio da ravina, o pequeno leão já tinha sumido.
- Você precisa parar de ficar aparecendo atrás de mim! - Disse bravo.
- Oh! De nada, Moro, por salvar a sua vida, não foi nada de mais! - Fala sendo, obviamente, irônica.
- Tá bom, desculpa... é que você me assustou! - Ela fez uma expressão cansada com o meu comentário. - E aí? Conseguiu achar ajuda? -
- Bom.... - O tom dela não me soava nada bom. O desespero começou a crescer dentro de mim.
- Não me deixaram ficar?... -
- Não, não, calma! Nem cheguei perto daquele lugar! - Diz tentando me acalmar.
- Por que?! - Não deu certo.
- Porque eu achei a nossa carona. Vamos! - Fez um sinal com as mãos para a seguir enquanto se virava de costas indo engatinhando para dentro do túnel.
De repente, minha visão embaça e sinto uma tontura tão forte que acabo perdendo o equilíbrio. Porém, consegui me apoiar com as mãos no chão antes que caísse.
- Você tá bem Moro?! - Ouvi a angel gritar de dentro do buraco.
- Eu estou bem! Vou bem atrás de você! - Respondi no mesmo tom.
Me recompus e segui a Hiena através do caminho estreito. Era muito comprido e fazia várias subidas e decidas. Não dava para imaginar vários leopardos correndo em pânico aqui dentro. Dá para ver porque a Angel disse que era usado.
Ao chegar na saída, vi que já era de noite, minha amiga me puxou para fora e eu deitei de barriga para cima na terra fria, ofegante e cansado do longo percurso que percorri. Sem perceber, meus olhos começaram a se fechar sozinho.
- Não, não, não, Moro! Você tem que ficar acordado! Fica comigo! - Ela me agarrou pelos ombros e puxou o meu corpo até que eu ficasse sentado com a cabeça tombada.
De canto de olho, pude ver que estavamos a poucos metros de um rio que tinha as beiradas recheadas por uma vegetação pantanosa.- Tô tão cansado... - Disse de uma jeito mole, porque quase não conseguia volta a ficar desperto. Até que eu percebi uma coisa, e comecei a chorar instantaneamente. - Angel... N-Não sinto a minha perna... - Ela arregalou os olhos e vi suas mãos tremerem em desespero.
- Droga! Cadê ele?! - Começou a correr de um canto a outro nas margens do rio. - A gente devia se encontrar aqui! - Colocou suas mãos entre as mechas de seu cabelo puxando-as. Aquela cenas apertou o meu coração. Me fez sentir muita pena dela.
- Calma, Angel... Para com isso... Você não pode ficar assim... Não faz bem para o seu bebê... - Ela tirou as mãos de seu cabelo em movimento jogado. As lágrimas em seus olhos eram bem visíveis. Chutou as plantas na água aos prantos, e caiu de joelhos no mesmo lugar.
- Sinto muito... Eu sinto tanto... Queria poder ter te salvado... - Sua voz era fraca e chorosa.
- Queria ter me salvado?... Foi só o que tem feito desde que me encontrou encostado naquela rocha... Eu teria morrido naquele lugar horrível se não fosse por você... E nós nos conhecemos a um dia, haha... Nem sei porque fez tudo isso... - Não podia ver seu rosto, pois estava de costas para mim. - Angel... Olha pra mim... - Ela virou a cabeça lentamente para na direção onde eu estava.
- Você também salvou minha vida... E a do meu bebê... No começo, fiquei me perguntando o motivo. Daí, depois que conversamos e fomos dormir... Eu fiquei acordada, com medo que tentasse nos atacar no meio da noite. Mas não... Achei muito estranho... Um leão que abaixa a guarda assim, que me salva e depois não quer nada, não parecia real... Então, pensei comigo, "Ah, esse garoto tem alguma coisa... diferente" - Nesse momento eu estava chorando aos montes. Meu rosto estava todo molhado pelas minhas lágrimas. - Achei que teria sido um crime... - *snif* - Deixar uma espécie tão rara assim ser extinta... -
Acho que as risadas que demos depois do que ela falou, foram as mais sinceras da minha vida. Quando paramos, a jovem moça se aproximou e me abraçou com força. Se afastou um pouco levando sua boca até meu ouvido direito e sussurrou:
- Você não é... um gatinho de pelúcia... -
Puxei ela para um abraço, de novo, e cerrei os olhos com força deixando escorrer mais água dos meus olhos.
Abri a boca para respondê-la, mas antes que eu pudesse, minha visão ficou turva novamente e senti minha cabeça girar. Só que desta vez foi diferente, meus músculos perderam a força e acabei escorregando dos braços da minha amiga.
Minhas pálpebras ficaram pesadas, mal as conseguia deixar abertas por causa do cansaço. Vi a Angel me chacoalhar e gritar desesperada, mas não sentia nada. Também não consigo ouvi-la. Só escutava sua voz abafada, que ia sumindo aos poucos.
E então... Tudo ficou escuro...[...]
Este lugar é quieto, confortável e quente. Quase como se eu estivesse sonhando.
Depois de um breve momento, senti uma presença se aproximando. Era um animal, eu não o vi, mas senti seus bigodes cheirando a minha pele.
Ouvi seus passos indo para frente até chegar na bem perto do meu rosto. Pelo barulho da sua caminhada, parecia que estava andando arrastando as pernas dentro da água.
De repente, surge uma voz feminina estanha que começa a me chamar.- Mocaro... Mocaro... Mocaro! -
Abro os olhos assustado, sem nem saber que podia fazer isso de novo. Tento respirar mas acabo inalando água ao invés disso. No desespero, levanto o meu corpo rapidamente e, finalmente, senti o ar passar pelas minhas narinas.
Viro a cabeça para os lados, mas não vejo ninguém.
Percebo que estou sentado em uma espécie de mini lago que fica dentro de um lugar escuro. As paredes eram similares a de uma caverna. O teto me lembrava o interior de uma enorme árvore que parecia ser sustentado por suas raízes. E conseguia ver que ainda estava de noite pelas frestas e aberturas na casca da madeira.Tento levantar, mas meu pé esquerdo falha, fazendo com que eu batesse com a minha barriga contra a superfície da água.
Sinto alguma coisa grudada a minha pele, aonde se encontrava a ferida envenenada. Olhos para trás e vejo um pequeno amontoado de folhas verdes bem clarinhas em cima do meu machucado. Estavam cobertos com algo viscoso transparente.De repente, ouvi vozes vindas na direção de uma entrada entre alguns cipós jogados que cobriam um pouco a abertura. Dentre elas, reconhecia a da Angel que parecia aflita.
Sai do pequeno lago mancando bastante. Nem consegui manter minha perna no chão. Então a fiquei suspendendo no ar.
Passei pelos cipós atravessando a entrada, e quando eu menos espero, vejo a minha amiga correr até mim e me dar um abraço. O retribuo, e a solto devagar. Mas antes que nos soltássemos, ela me puxa de volta com mais força, chegando quase a cravar as garras nas minhas costas. Ela chega sua boca bem perto do meu ouvido e sussurra de forma trêmula e nervosa.- Eles vão perguntar o seu nome... Minta! -
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A Minha Besta
Teen FictionEm 2235, houve uma era de caos entre o homens. Os cientistas acreditam na possibilidade de combinar o DNA humano com o de animal. E assim foi feito. Milhares de pessoas foram feitas prisioneiras e cobaias de desse plano irracional. Porém, depois de...