Continuei a olhar para o Sombra daqui de cima perplexo, não tinha a menor ideia de como ele tinha feito isso e muito menos de como eu iria repetir o seu feito.
- Vamos garoto! Não é tão difícil! - Gritou lá de baixo.
- De novo, você tá brincando, né?! - Disse a mesma coisa que tinha falado a cinco segundos a trás tentando expressar o estado de choque pelo qual eu estava passando.
- Vem, gatinho de pelúcia, é seguro! - Falou tentando passar segurança e voltando a forma humana.
- Nem a pau! - Retruquei nervoso.
- Olha! É ou por aqui ou você vai ter que achar outro caminho sozinho, o que eu acho que não vai acontecer! - Grosso. - E você já caiu daí de cima antes! -
- É! E eu fiquei desacordado por horas! Além de eu ter quebrado, provavelmente, todos os ossos do meu corpo! -
- Mas continua vivo! - Ele levantou os braços e mostrou dois polegares positivos para mim.
- Babaca. - Murmurei com raiva.
- O quê?! - Perguntou lá de baixo. Aparentemente ele não ouviu o que eu disse.
- Nada! Eu vou repetir para você aí em baixo de qualquer jeito! - Falei me transformando em leão e me virando de lado para descer.
Coloquei a pata traseira direita na parede da ravina e fiquei tentando achar alguma coisa em que eu pudesse me sustentar. Enquanto isso, ficava segurando na borda pelas patas dianteiras até conseguir me apoiar com firmeza. Quando achei que tinha achado um bom apoio no que parecia ser uma pedra, soltei a beirada para tentar deslizar. No momento em que joguei o meu peso para a minha perna, o lugar onde eu estava equilibrado cedeu. Caí com uma velocidade enorme, bati as costas na coluna rochosa, bati de cabeça na grande pedra; e para terminar, caí de barriga no chão estatelado entre as minhas quatro patas.
- Pfffff... - Ouvi o Sombra começar a rir atrás de mim na forma de leão.
Me levantei com um imensa dificuldade e comecei a caminhar mancando indo para para qualquer direção. Só queria sair dali com o mínimo de postura que ainda me restava.
- Tudo bem aí? - Perguntou rindo enquanto eu passava do seu lado.
- Cala a boca! - Disse entre os dentes fazendo ele rir ainda mais.
[...]
Já estávamos andando à alguns minutos indo na direção da toca do Mad Head. Voltar a esse lugar depois de tudo o que aconteceu aqui é estranho, não consigo imaginar o que o Sombra está sentindo agora. Ele tem se aberto um pouco comigo ultimamente. Não sei o por quê dele estar fazendo isso, mas eu gosto de quando conversamos. Ficar perto do Sombra é bom. É... reconfortante, eu acho. Espero que ele também se sinta assim quando está comigo. Agora, quando olho do meu lado, não vejo mais aquele mesmo leão que me assustava e intimidava. Só vejo alguém com cicatrizes, por fora e por dentro. Um dia eu vou perguntar sobre a maior delas, mas acho que ainda não tenho essa coragem, apesar de ter a enorme curiosidade.
- Para. - De repente, o homem ao meu lado sussurra firmemente de cabeça baixa.
- O que foi? - Perguntei confuso.
- Vem por aqui. - Murmurou me contornando para me empurrar com o seu corpo na direção de algumas pedras perto da parede esquerda da ravina. Ele me deu as costas e correu para atrás de umas rochas próximas a parede direita. Se abaixou e me pediu para fazer o mesmo com um gesto das patas.
- Sombra, o que que foi? - Questionei me esgueirando perto das pedras.
- Cala a boca. - Ordenou ignorando minha pergunta.
Então, do nada, comecei a ouvir uma voz ligeiramente familiar.
- Seus idiotas! - Pelo tom e linguajar já sabia perfeitamente quem era.
Era aquele leão loiro, estava inteiramente ferido, parecia que ele tinha entrado em uma briga feia. Em seguida, localizei o resto dos membros do seu bando. Estavam atrás do cara, todos lentos e de cabeça baixa como de costume.
- Que merda! Como aquele velho ainda continua tão forte?! - Esbravejou o líder. - Eu admito que o subestimei, mas ele estava diferente dessa vez. Não é?! -
O pequeno grupo balançou a cabeça positivamente com medo. Ao olhar com mais atenção, notei que o filho do Sombra era o último entre todos eles. Estava fraco e magro, acho que o menino está sendo o último a comer depois da caçada. O loiro estava punindo o garoto, mas porquê isso só agora?
- O que a gente faz? - Sussurrei o mais baixo que consegui.
Vi o Sombra olhar na minha direção e mexer a boca formando um "Eu não sei". De repente, ouvi o líder soltar um grito de dor seguido de um rugido. O grande felino caiu no chão furioso se transformando em humano. Foi nesse momento que eu consegui ver bem o seu rosto. Ele tinha longos cabelos loiros que era presos em um coque mal feito, seus olhos eram verdes extremamente claros que carregavam uma expressão de pura raiva. Esses traços que tinha eram exatamente os mesmos da sua forma em leão.
- Porra! Por que ainda dói tanto?! - Falou se contorcendo brutalmente.
Seus subordinados correram até ele na intenção de ajuda-lo, mas o maior rugiu para eles em resposta os afastando com o susto.
- Não preciso da ajuda de vocês! Não foram úteis quando o Sombra veio para cima de mim, então não venham tentar se redimir agora! - Gritou com raiva usando toda a força que lhe restava.
Olhei para o Sombra espantado com aquela nova informação. Então foi assim que ele se machucou tanto. Sabia que o estado dele era ruim demais para uma briga qualquer.
- Mas a parte boa nisso tudo... - Falou o loiro se levantando com dificuldade. - É que parece que o seu papai, Ezequiel... está procurando alguém muito especial pra ele aqui embaixo... E que tipo de melhor amigo eu seria se não o ajudasse a acha-lo? E depois, eu vou ficar mais do que feliz em devolver o seu gatinho perdido... Pessoalmente, é claro. -
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A Minha Besta
Ficção AdolescenteEm 2235, houve uma era de caos entre o homens. Os cientistas acreditam na possibilidade de combinar o DNA humano com o de animal. E assim foi feito. Milhares de pessoas foram feitas prisioneiras e cobaias de desse plano irracional. Porém, depois de...