30 - P. 1

1.6K 152 13
                                    

• POINT OF VIEW NOVENTA •

Depois que eu falei o que tinha acontecido, ela ficou em estado de choque. Nos vestimos e depois de avisar o pai dela, nós chamamos um Uber e fomos pro Hospital. Chegamos lá e encontramos Dudu, Melissa, César, Yara, Cavati e os pais do Mayke, todos estavam em silêncio.

- Como ele tá? - Lívia vai direto falar com a mãe dele.
- Mal - Ela diz - Os médicos disseram que ...
- Com licença - Uma enfermeira se aproxima - Vocês, família, podem entrar pra ver ele rapidinho, mas o restante precisa ficar aqui.
- Eu posso ir? - Lívia pergunta pra mãe dele.
- Sim, vamos - Se levanta - Ela é namorada dele, pode deixar entrar com a gente.

Os três seguiram a enfermeira e nós ficamos ali nos olhando. Namorada dele? Será que o Mayke não contou que terminaram? E porque ela quis entrar? Esperasse com a gente.

- Noventa tá puto - Dudu diz e todos riem.
- Tô não - Digo me sentando.
- Da pra ver na sua cara, a veia da sua testa tá pulando - Yara diz e riem mais.
- Cêis tão ficando? - Cavati me pergunta.
- Então... Eu acho que sim.
- Ah - Diz meio sem graça.
- Ele tá muito mal? - Pedro pergunta.
- Quebrou dois braços, uma perna e algumas costelas - Melissa diz.
- Isso aí é o castigo por tudo que ele já fez a Lívia passar - Digo - Acho que se machucou pouco ainda.
- Meu Deus - César me olha - Cê pensa antes de falar ou sai soltando tudo que vem na sua cabeça? Ele é nosso amigo, tá mal, precisando de oração, não de julgamento. O que é dele, quem vai dar é Deus.
- Eu só...
- Não cara, se não tem uma palavra de conforto, fica quieto, na moral.
- Ah, foda-se - Digo por fim.

César se levantou e estendeu a mão pra Melissa e Yara, sendo seguidas pelo Dudu, Pedro e Cavati e então todos me olharam. Ponderei por alguns segundos, mas ele estava certo, o Mayke era nosso amigo e estava precisando de oração. Demos as mãos e César puxou o início e nós acompanhamos. Depois, nos sentamos novamente e ficamos esperando até que eles voltassem, o que não demorou a acontecer. Lívia era branquinha, então quando chorava, ficava evidente o choro. Os olhos estavam pequenos, a ponta do nariz bem vermelha e as bochechas também. Ela sentou entre o César e eu e o abraçou.

- Fica assim não - Ele diz - Vai dar tudo certo, vamos orar e logo ele se recupera.
- Tá muito feio - Diz baixinho - O rosto dele tá todo machucado.
- É assim mesmo, mas a gente sabe como o Mayke é durão, ele vai sair dessa rapidinho.
- Deus te ouça.
- Ele ta ouvindo, sempre ouve - Diz e beija a testa dela.

Fiquei observando os dois e ela percebeu, então esticou uma das mãos e pegou na minha, então eu apertei e usei meu polegar pra fazer carinho. Ficamos ali por mais alguns minutos, mas não podíamos fazer nada, então resolvemos ir embora e voltar no outro dia. Os pais dele prometeram ligar caso tivessem qualquer notícia. Ninguém tinha cabeça pra conversar muito, então seguiram cada um pra suas casas e a Lívia veio comigo, já que o Pedro resolveu de última hora ir pra Júlia e combinaram de dizer que dormiram na Yara.

•••

Entramos em silêncio e seguimos direto pro meu quarto. Emprestei uma camiseta pra ela e observei atentamente enquanto ela tirava cada peça de roupa, ficando apenas de calcinha e tudo que eu queria era continuar o que começamos na casa dela, mas sabia que não tinha clima nenhum pra isso. Tirei minha camiseta e então deitamos. Ela deitou no meu peito e eu usava meus dedos pra enrolar as pontas do cabelo dela, enquanto ouvia sua respiração baixinha.

- Ele pode ter sido um babaca, mas não merece nada disso - Ela diz.
- Uhum - Tento não falar nenhuma merda - Mas vai ficar tudo bem.
- Sabe o que eu tava pensando, quando vi ele lá, todo enfaixado? - Levanta o corpo e me olha.
- O que?
- Em tudo de ruim que eu já passei na mão dele, cada briga, cada vez que ele me proibiu de sair, de usar certas roupas, de falar com algumas pessoas e eu percebi que Deus age na vida da gente no momento certo, porque se fosse pra eu ficar remoendo tudo isso, eu nem iria no Hospital - Diz - Mas eu ainda me preocupo com ele e só quero o bem dele, mesmo ele tendo me feito muito mal.
- Isso só mostra como você é boa - Sorrio pra ela.
- Sabe, eu acho que nunca vou conseguir te agradecer o suficiente - Diz com os olhos cheios de lágrimas - Aquele dia... Quando nós terminamos, se você não chegasse, eu achei que ele iria...
- Nem termina isso - Sento na cama e a puxo pra um abraço - Ele não é maluco de fazer nada contigo e eu sempre ... Escuta bem, sempre vou estar aqui pra você, mesmo que isso que a gente tá tendo não dê certo, eu sempre vou ser seu amigo e vou te ajudar no que for preciso - Digo e sinto meu peito molhado pelas lágrimas dela - Não chora, por favor, isso acaba comigo.
- Eu só não quero estragar nossa amizade, caso a gente não dê certo.
- Não vai estragar, te prometo isso.
- Obrigada nove nove - Diz baixinho.

Ficamos abraçados um tempo até que ela dormiu. Ajeitei ela na cama com cuidado e deitei do seu lado, enquanto fazia carinho com os dedos na bochecha dela. Eu não queria dormir, preferia ficar ali, olhando pra ela.

insônia 💭• noventa mcOnde histórias criam vida. Descubra agora