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César passou a noite na minha casa. Contei tudo o que tinha acontecido, tudo que nós conversamos e apesar tentar me consolar, era óbvio que ele não queria tomar partido de nada e na real ele estava certo, afinal é amigo de nós dois. Ele foi embora já de manhã, mas voltaria pra almoçar, já que chamei todos os nosso amigos pra virem até a minha casa, pra conversarmos.

•••

— Tá tudo certo? - Meu pai entra no quarto.
— Aham - Sento em cima da mala pra fechar.
— Isso porque você não ia levar muita coisa, né? - Rimos - Podia deixar suas roupas aqui, lá você vai comprar novas.
— Mas eu gosto muito dessas - Levanto com a ajuda dele.
— Vem aqui - Senta na cama - Como você tá?
— Tô bem - Sorrio.
— Não sei porque, mas eu não acredito em você... Tem a ver com o César ter passado a madrugada toda aqui ouvindo você chorar?
— Ai pai, o João Paulo e eu brigamos, ele não quer que eu vá e na real tá muito bravo comigo - Sinto meu coração apertar - Mandei várias mensagens, liguei e nada.
— Não é pra menos, né filha? Vocês estavam se dando bem, ele gosta muito de você e não é fácil ver quem a gente ama, indo embora e falo isso por experiência própria - Rimos.
— Eu sei pai, mais sei lá - Suspiro.
— Não fica assim, você tá indo pra conhecer coisas novas, ganhar mais experiência e de quebra, passar um tempo com a sua mãe - Sorri - Meu coração até dói só de pensar em você longe, mas eu sei que é uma coisa que você quer, que vai te fazer bem, te deixar feliz e pra mim é só isso que importa, a sua felicidade. Se você tá bem, eu tô bem demais e mesmo que a gente esteja longe, você sempre vai ser minha filhinha linda e eu vou sempre amar você.
— Te amo pai - O abraço já com os olhos cheios de lágrimas.
— Desculpa cortar o clima - Pedro diz e só então o vejo ali na porta - A galera chegou.

Seguimos pra sala e estavam todos os meus amigos ali, exceto por ele. Fomos todos pra cozinha pra almoçarmos e eles provavelmente estavam pensando que seria a minha despedida da viagem, mas só o César e a Yara sabiam que não seriam mais quinze dias.

— Lív, a gente pode conversar um minutinho? - Lelê pergunta quando acaba de comer.
— Aham - Me levanto - Já volto gente.
— Não tô pronta - Yara diz e vejo que ela fica vermelha.
— Para, vou chorar também - Rimos.
— É só quinze dias, não é o fim do mundo - Cavati diz e eu forço um sorriso.

Lelê e eu seguimos pra sala e sentamos no sofá. Ela me puxa pra um abraço e faz carinho nas minhas costas, o que me fez relaxar um pouco.

— Como ele tá? - Pergunto quando nos afastamos.
— Irritado, chateado, confuso... Triste.
— Eu nunca quis deixar ele assim, tia.
— Eu sei meu amor, eu conheço teu coraçãozinho - Sorri - Eu também não vou questionar sua decisão, eu sei que é uma coisa que você quer muito e ninguém pode te impedir disso, mas só te peço que não fique com raiva dele, meu pequeno é um menino bom, você sabe disso.
— Eu sei tia, na verdade eu também já imaginei que ele não concordaria, só não esperava que ele falasse as coisas que falou, sabe? Doeu.
— Eu imagino - Faz carinho no meu rosto - Dá um tempo pra ele, vai passar.
— Só não queria ir brigada com ele, eu gosto tanto dele, ele me ajudou tanto e é importante pra mim.
— E você também é importante pra ele, já fazia muito tempo que eu não via meu menino tão apaixonado... Na verdade, eu acho que nunca vi ele assim, mas eu confio em Deus, temos que confiar no tempo e nos planos Dele - Me abraça novamente - Mas fica em paz com teu coração, ele só tá assim agora, vai passar.
— Eu espero - Suspiro.

Voltamos pra cozinha e estavam todos rindo e conversando, a não ser pela Yara que estava com a cabeça encostada no ombro do César e parecia estar segurando o choro e aquilo partiu meu coração.

— Gente, preciso falar uma coisa - Digo estendendo a mão pra ela levantar.
— Ah não - Ela diz me abraçando - Por favor amiga.
— Calma fia, são só quinze dias - Dudu diz rindo - Mulheres são emotivas demais, caralho.
— Para mano - César diz - O assunto é sério.
— Por falar nisso, cadê o Nove? - Melissa pergunta.
— Não... pôde vir - Centi diz forçando um sorriso.
— Tá, deixa eu falar - Suspiro - Cêis sabem que eu viajo hoje a noite e eu tinha dito que seriam só quinze dias, mas acontece que eu resolvi estender esse tempo.
— Vai passar o mês todo?
— Não - Sorrio pro Cavati - Cinco meses.
— Que? - Lucas pergunta enquanto todos se entreolham - Tá zoando, né?
— Não - Meus olhos se enchem de lágrimas - É uma oportunidade incrível pra mim e vai passar rapido.
— Não vai amiga - Yara, que está abraçada comigo, começa a chorar mais.
— Aí gente, eu vou voltar, poxa.
— É galera, vai passar rápido - César tenta confortar todo mundo.
— Não vai mano - Dudu diz - Caralho, e o Noventa?
— É por isso que ele não tá aqui - Digo - Digamos que ele não reagiu muito bem a isso.
— Ele tá puto pra caralho - Centi diz.
— João Victor, quieto - Lelê diz.
— Caralho mano, não acredito - Cavati diz inconformado.

•••

Passei o dia com meus amigos e minha família. Por volta das 18:00 eles foram embora e combinamos de nos encontrar no aeroporto. Tomei um banho longo enquanto repensava em tudo que aconteceu e apesar de não ter dado certo com o João, eu estava feliz por ter os amigos que eu tinha, que mesmo chateados, me apoiaram e ficaram do meu lado, torcendo por mim. Sai do banho e me troquei, então fiquei deitada na minha cama por um tempo só encarando o teto, eu ia sentir falta de tudo.

— Vamos? - Meu pai entra no quarto.
— Aham - Sento na cama - Você vai mesmo pra lá quando der, né?
— Claro que vou - Sorri - Você não vai se livrar nem tão cedo de mim.
— E nem quero - Me levanto e o abraço.

Ele pegou minhas malas e eu levei minha mochila, então chamamos um Uber e nós seguimos pro aeroporto. Quando chegamos, fui com a Patrícia despachar as malas e fazer o check-in. Depois fomos até a área de embarque e todos estavam ali conversando, mas o clima não era dos mais alegres.

— Quanto tempo pro embarque? - Lucas pergunta.
— Dez minutos - Olho a hora no celular - Melhor começar a me despedir.
— Não - Yara diz pronta pra chorar - Me recuso a me despedir, se eu não te der tchau, você vai ficar?
— Não - Ri - Aí gente, eu amo tanto vocês, cêis são tudo pra mim, minha família.
— Vou chorar - Lelê diz já chorando, então abraço ela.
— Vou sentir sua falta tia, cê sabe que sempre te considerei uma mãe pra mim e eu te amo muito - Digo.
— Ô meu Deus, eu te amo demais minha princesa, aproveita muito lá, se diverte e seja muito feliz, nós sempre estaremos aqui pra você e por favor, não perde o contato.
— Pode deixar - Beijo a bochecha dela - Eu sei que ele não quer saber de mim, mas diz que eu amo muito ele e não vou esquecer de nada, nunca.
— Eu digo - Me olha - Parece que ele tá irritado, mas no fundo é tristeza, só isso, vai passar.

Então fui me despedindo um a um deles. Yara, Melissa e Júlia estavam chorando sem parar, assim como eu. Dudu ainda parecia inconformado e não aceitou muito bem, mas ainda sim foi lá se despedir também. Meu pai não chorou, ele tinha uma expressão mista de tristeza e felicidade, o que me deixava tranquila de certa forma. Por último, me despedi do César, que pra mim, era um dos mais difíceis de deixar pra trás. Não que os outros não fossem, mas ele foi o meu primeiro amigo daqui, sempre cuidou de mim, me aconselhou, me apresentou pro mundo de Deus e eu era extremamente grata por tudo que ele me fez.

— Vai passar rápido, cê vai ver - Me abraça firme.
— É, eu sei - Ri - Mas não torna a despedida menos dolorosa.
— É, eu sei - Ri - Mas fica bem, vai tranquila, aproveita ao máximo, viva todas as experiências que tiver chance e não fica pensando muito na gente, pra você não ficar triste.
— Eu vou pensar em vocês todos os dias, cê sabe disso.
— É, eu sei, mas fica tranquila porque a gente vai ficar bem aqui - Beija minha cabeça - Você é como uma irmã pra mim Lív, eu te amo muito e vou sempre orar por você, pelo seu bem e pela sua felicidade. Sei que seu coração tá triste por causa do João, mas não deixa isso estragar o seu momento, ele vai superar, só precisa de tempo.
— Eu não queria que as coisas ficassem assim, queria ficar de boa com ele.
— Eu sei, mas entende o lado dele também. Ele preparou toda uma noite pra vocês, quis que fosse tudo especial pra você e aí tu solta uma bomba dessas nele... Se eu que já sabia não tô acreditando ainda, imagina ele, mas relaxa que com o tempo vai passar.
— Cuida dele, faz ele ir pra Igreja com você, não deixa ele se envolver com coisa errada.
— Não se preocupa, eu vou cuidar - Sorri - Mas agora vai, porque se você perder esse vôo, não vou te deixar remarcar passagem não.
— Eu te amo, obrigada por tudo.
— Te amo também.

Dei um último abraço no meu pai e logo todos se juntaram a nossa volta e tornou-se um abraço coletivo. Eu iria sentir a falta deles todos os dias. Patrícia e eu nos despedimos mais uma vez de todos e então seguimos pro corredor de embarque e logo estávamos rumo a Argentina.

[ ... ]

insônia 💭• noventa mcOnde histórias criam vida. Descubra agora