ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ 8

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Gilbert é um imbecil. Anne não está exatamente reclamando. Especialmente porque ele está bajulando muito Marilla e Matthew durante o jantar. 

Anne revira os olhos para ele e pega os pratos do jantar. Marilla ri de algo que ele diz e toma um gole de vinho. Os dois foram almoçar com Bash e Mary e a noite estão jantando em Green Gables. 

Na verdade, é uma bela foto, pensa Anne, olhando por cima do ombro na porta da cozinha. Ela se sente tão carinhosa com eles, como se realmente estivesse apaixonada por ele, e feliz por ele poder se dar bem com seus amados guardiões.

Ela afasta o pensamento, repreendendo-se mentalmente. Ela não está apaixonada por ele, e graças a Deus, porque se ela se apaixonasse por essa bagunça, ele logo veria como é a tragédia de um ser humano. Talvez ela esteja com medo de que ninguém a ame por causa do que Roy disse. Assombra-a, que ela é amável, porque ela não se deixa ficar fora de controle. 

Anne começa a lavar a louça e Marilla descansa no balcão ao lado dela.

— Então, isso parece estar indo bem.

— O que quer dizer? — Anne pergunta, recuperando-se e desejando que seu batimento cardíaco desacelere. 

Marilla lança um olhar tímido para ela e Gilbert.

— Eu não tenho idéia do que você quer dizer. — Ela responde, altivamente, voltando-se para a pia. Ela coloca os resto dos pratos na pia e procura o sabão.

— Anne Shirley Cuthbert... — Marilla começa em um tom que ela lembra da infância.

— É Cuthbert Blythe, agora. — ela interrompe, ainda se sentindo rebelde.

Marilla suspira quando Anne coloca sabão na pia lentamente.

— Não importa onde o casamento começa, é o que se forma em um.

— Como você saberia? — Anne pergunta, bruscamente, sua boca muito rápida para considerar os sentimentos de Marilla. 

Há um silêncio. Anne começa a soltar os talheres na pia para fazer algo. Em seguida, as grandes e afiadas facas de cozinha. Marilla inala e declara suavemente.

— Só porque nunca me casei não significa que não sei nada sobre amor. 

— Eu sei. — Anne suspira, descansando os braços na beira da pia. — Mas eu não amo Gilbert.

— Você sempre foi uma garota mais expressiva .

— Marilla!

— Anne, você não pode me dizer que não sabe como ele olha para você. — Anne se vira e olha para Marilla, arqueando as sobrancelhas de uma maneira que ela espera transmitir "por favor pare."

— Estamos próximos, só isso. — Ela passa as mãos pela camada de bolhas de sabão na superfície da água. — Pelo bem do casamento. Isso apenas torna mais convincente.

— Está tudo bem aqui? — E quando ele entra na cozinha, Anne pega a ponta errada de uma faca na pia, levantando-a da água e, quando percebe seu erro, a joga no chão, mas não antes dela conseguir obter um bom corte na parte interna de quatro de seus dedos.

— Ow, ow, droga. — Ela engasga e aperta a mão. Ela espalha sangue por todo o vestido e a pia na frente dela. A maneira como a faca atingiu os ladrilhos abaixo soa em seus ouvidos.

Ela meio que não percebe todo o resto, concentrando-se, aprimorando o toque. Anne sabe que alguém a agarra e a leva de volta à sala de jantar, sentando-a de volta à mesa, ela pode ouvir Marilla murmurando para si mesma enquanto sobe as escadas e supõe que pode ver Gilbert ajoelhado na frente dela no chão, pedindo-lhe, gentilmente, para abrir a mão para que ele possa dar uma olhada nos cortes.

— Anne, por favor. — O sangue escorre pelas laterais da palma da mão em pequenos dribles, e entre os dedos também. Está pingando no chão. Marilla terá que limpar esse chão. Anne puxa a mão para trás, por cima do vestido, mais disposta a manchar o vestido do que forçar Marilla a fazer mais trabalho. — Anne, deixe-me ajudá-la.

A faca ainda soa em seus ouvidos. Ela se pergunta se isso vai parar.

— Olhe para mim. — diz sua voz, rompendo o ruído branco e tocando. Os olhos de Anne se concentram no rosto dele, pálido e preocupado, emoldurado de ambos os lados pelos cabelos que ele deixou crescer demais, mas ela ainda adora. Sim, há Gilbert, preocupado com ela, cuidando dela, maldito seja. Ele se importa muito, ela pensa, dado o que o viu fazer por ela. Ela não dá crédito suficiente para o quanto ele se importa. Anne não lhe dá muitas razões, se for honesta. Ela é muito má com ele. Ela deveria dar a ele um motivo para cuidar dela, ela deveria cuidar dele tanto quanto, se não mais, porque ele realmente merece isso, e quem é ela para tratá-lo mal? 

Que tipo de pessoa retribui amor com mágoa?

Anne se inclina lentamente para a frente e pressiona a palma da mão na bochecha dele. Ele parece surpreso com essa ação e parece não notar o sangue que escorre pela pele de onde ela o toca. 

— Eu não lhe dou muitas razões para ser gentil. Por que você é? — Ela pergunta.

Antes que ele possa responder, Marilla desce as escadas e Gilbert, mais uma vez consciente dos arredores, em vez de encará-la com algum tipo de afeto desconhecido nos olhos, se afasta e entra na outra sala, com uma marca de mão ensanguentada. em sua bochecha pálida. Matthew aparece diante dela e começa a tagarelar de preocupação e exasperação. Enquanto Marilla a repreende sobre ter mais cuidado com utensílios de cozinha. 

No momento em que termina de enfaixar Anne, Gilbert sai da cozinha, com a mão sangrenta ausente, limpando as mãos em um pano de prato. 

— Pensei em terminar a lavagem da louça, não gostaria que você tivesse muito trabalho, Marilla. — Ele diz.

Marilla suspira agradecendo, e Anne bica um beijo por cima do ombro, por impulso, quando Marilla não está olhando. Gilbert mostra a língua para ela em resposta. Marilla então os leva em direção à porta, dizendo que está sendo uma noite muito emocionante e que eles precisam descansar. Anne volta a si mesma completamente quando eles chegam em casa, Gilbert cuidadosamente ajuda ela a tirar o casaco.

— É porque acho que você merece um pouco de bondade no mundo. — diz ele, suavemente, tocando a bochecha a dela. — E não me importo se você não devolver.

ɱɑʀʀiɑgɛOnde histórias criam vida. Descubra agora