Capítulo 19

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Como se mata uma pessoa que te atrapalha a ficar com outra pessoa, mas a pessoa de quem voce gosta é amiga dessa pessoa que você quer matar? Uma resposta difícil para uma pergunta difícil. A resposta politicamente correta seria "não se matam pessoas, independentemente do motivo", mas os Aishi's nunca foram politicamente corretos, não é?

Então, o que deveria ter feito? Essa era a pergunta que cismava em bater na mente de Ayano a cada segundo. O que as pessoas normais faziam para conquistar seus "crushes"? Isso foi algo que ela nunca tinha de fato parado para pensar, até porque ela estava com uma cortina de ferro em seus olhos que a impediam de pensar corretamente na época. Ela queria espionar alguém até descobrir, mas não conhecia ninguém apaixonado por outra pessoa na escola e, mesmo que conhecesse, provavelmente não iria se confessar nem tão cedo. Foi quando lembrou de um amigo, um amigo interessante e peculiar que, estranhamente, parecia saber de tudo sobre todos de sua escola. Rapidamente pegou o celular e abriu no aplicativo de mensagens, pesquisando pelo nome de contato salvo como "Info-Kun". Pensou por alguns momentos se deveria mesmo mandar uma mensagem ou não, quando recebeu uma mensagem do mesmo.

Info-Kun - Em que posso ajudá-la?

É, já deveria esperar por isso. Lembrava que Info-Chan sempre fazia a mesma coisa e, como tudo ali parecia ser um tipo de cópia da sua antiga vida, por que não isso também?

- Eu queria te perguntar uma coisa. Como as pessoas fazem para criar sentimentos nas outras e se confessarem?

Info-Kun - Confuso, mas entendi o que quis dizer. Sempre observou tanto e não sabe disso?

- Nunca foi algo que achei que usaria.

Info-Kun - Faz sentido. Bom, sabe qual é o pagamento não é?

- Você realmente vai cobrar por isso?

Info-Kun - Mas é claro. Não posso dar informações de graça. Tenho uma vida para sustentar.

- Tudo bem. Acho melhor perguntar à outra pessoa. Obrigada pela ajuda.

Info-Kun - Estarei aqui sempre que precisar de algo, Yan-Chan.

Yan-Chan... E assim ela pensou, sendo este lugar uma cópia da minha antiga vida, faria sentido tem um... Yan-Kun, não? E faria sentido ter uma Senpai também, não é? Na verdade, isso já havia lhe passado na cabeça algumas vezes, mas ela ignorava que talvez pudesse ser verdade - por mais que houvessem provas que provavam o contrário.

E mal sabia Ayato que a menina em sua frente estava pensando nele naquele momento, mesmo que sem querer ou sem saber. Sim, ele era o stalker de Ayano. Ele havia dado uma gatinha de presente pra ela também e, hoje, tinha deixado um outro presente em seu armário. Sabia que diferente das outras garotas, Ayano não era vaidosa. Não usava maquiagem e nem se preocupava em passar perfume. Logo, um presente do tipo seria inútil.

Ele realmente quebrou a cabeça para pensar em algo, quase não dormiu de noite. Não era um simples presente, era para a sua amada, tinha que ser algo no mínimo incrível, que estivesse à altura - não de comprimento, porque nisso ela parecia ser a mais baixa da escola - dela. Não adiantava ser algo que ela não gostasse ou não usasse, tinha que ser algo de sua preferência, algo que ele sabia que ela gostaria. Até porque não tem como comprar um presente para alguém baseado apenas nos seus gostos, tem que saber o da pessoa.

Ele já havia visto ela lendo na fonte algumas vezes, então pensou, por que não um livro? Ela parece gostar. O problema era que ele não sabia exatamente das preferências dela para esse tipo de coisa, então foi perguntar para o seu informante. Info-Kun.

Info-Kun - Até um tempo atrás ela não tinha o hábito de ler, mas agora é praticamente a única coisa que faz. Bem, ela gosta de terror, terror psicológico, mistério e fantasia, tente um livro de Stephen King ou Miguel Sanches Neto. Acho que ela pode gostar também de "O Menino Que Desenhava Monstros", eu vi que ela pesquisou esse na livraria digital. Pego o pagamento depois.

Ele então comprou três livros: O Cemitério de Stephen King, Então você quer ser escritor de Miguel Sanches Neto e O Menino Que Desenhava Monstros de Keith Donohue. Os embalou e prendeu com um laço preto, abriu seu armário e colocou os livros dentro. Mais tarde ainda naquele dia, Ayano abre o armário e as coisas caem dele. Ela se abaixa para pegar e percebe que aquilo não era dela antes. Abre o bilhetinho pendurado no laço e o lê.

"O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem." Espero que goste dos presentes :)

Se pergunta mentalmente quem poderia ter lhe dado aquilo. Enquanto está ocupada se perguntando tal coisa, não percebe quando uma pessoa chega por trás e toca em seu ombro, fazendo com que ela acidentalmente deixe suas coisas caírem - novamente.

Osano - Opa, desculpa Ayano-Senpai. O que são?

Ayano - Livros. O que faz aqui? Sua turma não tinha reposição?

Osano - Tinha, mas a professora passou mal e fomos liberados. Tô indo no meu armário guardar minhas coisas agora.

Ayano - Ótimo. - Fecha o seu armário segurando o presente. - Vou com você.

Osano - Tudo bem. - Começam a andar. - Vai fazer algo hoje a noite?

Ayano - Não pretendo. - Pelo fato de o armário ser dois depois do dela, ele logo chega e começa a colocar a senha.

Osano - Quer assistir um filme lá em casa? - abre o armário.

Ayano - Pode... - vê algo dentro do armário. Era pequeno, vermelho e estranhamente familiar. - Osano Najime... o que é aquilo? - Aponta para o caderno de capa vermelha.

Osano - Huh? Ah... Bem... Aquilo? Hehe, bom, n-não é nada demais. Ayano-Senpai, eu já iria devolver. Me desculpe.

Ayano - Você leu?

Osano - Eu... - O garoto se calou, fazendo-a retornar a perguntar.

Ayano - Osano... Você leu?

Osano - Só as primeiras páginas.

Ayano - Primeiras quantas?

Osano - Umas quatro.

Ayano - Só isso? Nada mais? Ou você está mentindo como todos sempre mentem?

Osano - Hey, Ayano-Senpai, acho que você tá exagerando um pouco, né?

Ayano - Obvio que não! Se você soubesse... - Percebe que gritava. Ela tenta se acalmar um pouco e começa a falar mais baixo. - Se você soubesse as coisas que tem aqui não ousaria tocar.

Osano - Por que? Eu não vi nada demais.

Ayano - Porque você não viu nem um pouco.

Osano - Me desculpe por pegar. Eu só queria saber um pouco mais sobre você.

Ayano - Não vai descobrir nada aqui. Bom, não algo que goste.

Osano - Não existe uma parte sobre você que eu não goste.

Ayano - Acredite, essa não vai.

(...)

Ayano chega em casa irritada. Foi curta e bem rápida a sua conversa com Osano, mais curta do que realmente parecia ter sido. Por causa daquilo, ela estava irritada e pensativa. Eu guardei no porão, afinal. A última a entrar lá fui eu, como ele pegou? Vou precisar ser mais cuidadosa agora, não quero passar por outro tribunal.

Ela olhava e olhava aquele caderno. Ela não queria repetir nada daquilo, tampouco que os outros fizessem, mas... O que ela sentia em relação àquilo? Sim, ela se arrependeu de ter feito mas... ela gostava. Talvez fosse uma saudade. Talvez a violência estivesse de fato no seu sangue. Desde pequena sua mãe sempre lhe ensinou coisas meio suspeitas. Por que acha que ela havia peróxido de hidrogênio em seu porão? Aquilo esconde até de luz negra qualquer resquício de sangue, ou seja, oculta qualquer prova de um assassinato. Ótimo para se usar após uma tortura no seu porão ou após dar uma facada em alguém no terraço da sua escola não acha? E foi o que ela fez.

O assunto já estava começando a dar dor de cabeça nela, então a mesma decidiu ir dormir um pouco. Só não contava que sua mente fizesse um filme de sua vida, desde quando começou a ser considerada humana até quando ela deixou de ser uma.

Yandere ReverseOnde histórias criam vida. Descubra agora