Capítulo 34

201 9 7
                                    

Ayano, parada e sentada no banco de cinco assentos, esperava quieta. Ignorava subconscientemente os olhares dos outros, que tinham ou raiva, ou pena dela. Estava em seu próprio mundinho de paredes altas, refletindo e pensando em nada.

Uma mão calma pousou sobre os seus ombros e os chacoalhou, acordando-a de seu devaneio. O dono da mão sentia pena dela, mas ao mesmo tempo, ficava feliz.

- Vamos pra casa. - Disse o homem da família Aishi. A mãe de Ayano não tinha entrado. Seria como pedir para que lhe arrancassem a cabeça.

Os dois entraram no carro, colocaram os cintos e olharam janela a fora. Diante da cara indiferente, porém levemente triste da filha, Yudi Aishi começou a falar algo. Se preparou para falar isso por anos.

- Você tá bem?

- Não.

- ...

Ele não sabia o que fazer depois disso, nunca tinha chegado nessa parte.

- Eu...

- Não precisa, pai. Eu aguento.

- Minha filha... - Fechou os olhos, respirou fundo, e juntou forças para abraçar ela.

Foi o primeiro abraço deles o qual Ayano correspondia. Era o primeiro o qual ela agarrava ele de volta e não soltava. Era a primeira vez que ele vai a filha reagir em uma situação, e se sentir mal por isso. Sofria por ela, mas não podia evitar ficar feliz por ver a grande mudança.

Sentiu os ombros ficarem quentes e úmidos, e ouviu o choro baixinho daquela que estava por cima dele. Passou a mão pelos cabelos pretos que, a essa altura, já estava todo bagunçado no formato do que um dia já foi um penteado.

Passou as mãos pelas costas dela, dando leves batidinhas. A segurou firmemente até os soluços passarem. Se soltou, colocou o cinto de segurança e começou a dirigir. Tomava cuidado a cada buraco na rua para não fazer um movimento brusco e acordar Ayano.

Dirigiu por muito, muito tempo, até que conseguiu ver a praia mais a frente. Estacionou em uma rua a beira da areia, e acordou a garota.

Ayano levantou, com muito custo, tirou o cinto de segurança e abriu a porta. Sentiu o vento soprar sobre o seu rosto, entrar pelas suas roupas e estufa-las com ar gelado. Vendo Ayano congelando, o pai exemplar pegou um casaco longo e colocou na filha. Eram apenas seis ou sete números maiores que ela, a diferença não era tão perceptível a olho nu.

Segurou as pequenas mãos pálidas e as puxou com cuidado até o outro lado da rua, onde tinha um pequeno restaurante de frutos do mar.

Sentaram à janela, observando as ondas quebrando e voltando ao mar em um ciclo. Uma mulher na casa dos quarenta chegou a mesa, trazendo duas tijelas de sopa quente.

Ayano pegou o seu prato e colocou as mãos ao lado, esquentando-as. Era um final de tarde fria de primavera, e a sua própria tinha ido embora.

- Ayano... Como você se sente?

- Eu tô bem. Só com um pouco de frio.

- Você tem que tomar cuidado pra não ficar doente.

- Sim.

- Quer ver o mar quando acabar?

- ... Sim.

- Tudo bem então.

Comeram em silêncio até a tijela se esvaziar.

Pagaram a conta. Caminharam pela areia durante cinco quilômetros, viram um golfinho e voltaram os cinco quilômetros para o carro depois.

Yandere ReverseOnde histórias criam vida. Descubra agora