Capítulo 14

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LÉIA

Achei que poderia dormir até de manhã mas fechei os olhos pelo que pareceu somente alguns minutos, quando escutei uma batida muito forte contra a minha porta, mais uma batida, a porta não aguentaria muito tempo. Não tem como eu escapar disso, com certeza os caras conseguiram localizar o carro, e estão atrás deles, a menina ainda está desmaiada e o bebê está dormindo no meu colo, coloquei ele na poltrona e fiquei preparada para a luta.
De fato não era o que eu estava esperando, quem entrou pela porta quebrada foi uma mulher, na verdade parecia mais com uma Guerreira Amazona, eu tenho 1,80m de altura, e ela era mais alta do que eu, morena, linda, parecia ter saído direto de Themyscira, só que em vez da armadura tradicional ela usava um vestido branco com girassóis estampados, isso era totalmente fora de contexto e não combinava em nada com a cara de irritação que ela estava fazendo.

Olhou para as crianças e voltou o olhar confuso para mim, aparentemente esperando alguma explicação e sem saber o que falar eu desviei o olhar e então eu o vi, baixei minha guarda no mesmo instante, minhas mãos não me obedeciam mais, nem meus pulmões pareciam funcionar, estava difícil de respirar. Ele parecia ter descido diretamente do Monte Olimpo, uma versão indígena de Hércules, tinha no mínimo dois metros de altura, cabelos pretos na altura do ombro e estava vestindo só uma bermuda, não deixando muito para a imaginação. E então ele começou a rosnar, seus olhos estavam mudando de cor, de castanho a amarelo claro, e depois castanhos novamente, eu tive vontade de olhar mais de perto essa mudança mística, mas não conseguia me mexer, suas mãos ficaram com garras e ele estava arranhando a parede e também o próprio peito ainda rosnando, a mulher estava tentando alcalmá-lo, mas ele não parecia estar escutando. Ela se colocou a frente dele para tentar arrastá-lo para fora, quebrando nosso contato visual, isso não foi uma boa ideía, pois na mesma hora apareceu um lobo gigante na entrada e ela foi jogada contra a parede com uma cabeçada.

Era um imenso lobo castanho, com os olhos amarelados, o dobro do tamanho do que eu tinha visto lá na trilha, se ele levantasse a cabeça conseguiria alcançar o teto, ele não estava mais rosnando, foi se aproximando sem tirar os olhos de mim nem por um segundo, farejava o ar repetidas vezes e percebi que na verdade estava ME farejando, vi que a mulher estava tirando o vestido e logo também se transformou em uma loba de pêlos acinzentados, mas ela não se aproximou, não consegui mais prestar atenção nela depois que ele apoiou o focinho no meu pescoço e ficou me cheirando como se eu fosse o melhor frasco de perfume do mundo, fazia um pouco de cocegas, mas não queria que ele parasse, mas depois de alguns minutos ele afastou um pouco a cabeça, e eu senti falta do seu toque e não pensei duas vezes, fui para frente e o abracei eu nem conseguia fechar os braços ao redor do pescoço dele, ele era um pouco mais alto que eu e colocou a cabeça atrás das minhas costas e me puxou para mais perto, era como estar no lugar certo, na hora certa, como se em toda a minha vida eu estivesse procurando por aquilo, sem nem saber, era a sensação de estar completa, ficamos assim mais um tempo até que a 'Xena' gritou alguma coisa que eu não consegui entender e ele se afastou de mim rápido e saiu correndo, e o lobinho foi correndo atrás dele, eu nem tinha visto que o bebê já tinha acordado.
A minha vontade era sair correndo pela rua e gritando para ele não ir embora, claro que essa era uma ideia horrível, mesmo que eu conseguisse me mexer, o que não era possível no momento, eu estava paralisada no meio da sala, tentando entender o que tinha acontecido. Por alguns segundos foi só o que aconteceu, fiquei parada olhando para fora na esperança dele aparecer de novo.
Logo me dei conta de que só ele foi embora, a Mulher Maravilha ainda estava ali. Olhei em direção ao sofá e quase caio dura, a mulher estava NUA!!! A própria visão de Afrodite no meu sofá. O vestido dela estava do lado da porta e ela estava olhando a menina de cima a baixo, a manta que eu tinha colocado sobre ela tinha sido jogada no chão.

- Aí Xena! O que você está fazendo?

Ela olhou confusa para mim, como se não tivesse entendido.

- Eu estou examinando os ferimentos, acredito que seja esse machucado na cabeça que está deixando ela desacordada, é que nos curamos mais rápido quando estamos inconscientes. Você fez um bom trabalho deixando ela limpa. Mas ela está com um pouco de febre e a manta não ajuda a dispersar o calor.

- É que eu não acho que seja legal ficar sem roupas na frente de um desconhecido, por isso eu a cobri!

- Eu não consigo entender o que os humanos têm contra ficar sem roupas.

- Se eu parecesse a Afrodite também não entenderia! Por favor, coloca o vestido!

- Eu não entendo nem a metade das coisas que você fala, mas vou ficar aqui até a Mayah acordar e decidirem o que fazer com você.

- O que fazer? Comigo? Como assim?

- Na verdade eu não sei ao certo o que é feito quando um humano descobre sobre nós. Acho que depende da situação, mas com toda essa merda que está acontecendo...

- Acha que vão querer me matar? A maioria dos livros que eu li fala isso.

- Eu não sei, mas mesmo se quiserem, não sei se podem é contra a Lei. Mas você piorou as coisas para o seu lado quando capturou os filhotes, o que ia fazer com eles?

- Eu não 'capturei' ninguém eu achei eles em uma trilha, e ela estava sendo espancada por uns caras, provavelmente seria morta e então eu ajudei. Por que acha que eu limparia a menina e daria comida para o bebê?

- Isso eu não sei, mas consigo sentir quando humanos estão mentindo e você fala a verdade, talvez se eu explicar a situação, eles decidam por ignorar essa coisa toda com os filhotes e estejam dispostos a cumprir a Lei Suprema.

- O que é essa Lei Suprema? É tipo uma dívida? Eu salvei eles então vocês não podem me matar?

- É... não exatamente, mas agora acho que você é tipo da família.

Tipo da família? Mas o que isso significa? Não lembro de ter lido nada a respeito disso. Apesar do fato da Xena ter entrado como um furacão na livraria e ter quebrado a porta, não posso culpá-la, ela achou que eu tinha sequestrado as crianças, mas ela pareceu um pouco mais calma depois que o Lobo foi embora e agora que eu expliquei a situação, estamos bem. Então vou esquecer por um minuto essa coisa de Lobisomem e vou tentar parecer um pouco normal. Estendi a mão para cumprimentá-la, espero que lobisomens se cumprimentem assim, porque não vou deixar ninguém cheirar a minha bunda.

- Meu nome é Léia, qual é o nome de vocês?

Ela ficou olhando para a minha mão, claramente receosa, mas acabou cedendo e apertou com firmeza.

- Eu sou Thainá, essa é Mayah, o filhote é o Keny, e o que fez o show é o Kayuri.

Kayuri, um nome lindo, que combina perfeitamente com ele.

- Ele é sempre desse jeito?

- Não, nunca o vi assim, mas quem pode culpá-lo. Eu nem sabia que isso podia acontecer.

- Isso o que exatamente, se aproximar de um humano e não ouvir gritos desesperados e ver ele se borrar de medo? Porque eu achei bem estranho eu não ter nenhum pouco de medo. Eu não sei como, mas sabia que ele não me machucaria.

- É... por aí. Mas me conta, como você conseguiu salvar os filhotes?

- Eu fechei a porta da mala com força na cabeça do cara que estava colocando ela no porta mala, e por sorte ele era primo do outro, e ele ficou preocupado com a quantidade de sangue que saía do ferimento que saiu praticamente correndo para levar ele para um médico, então eu peguei o carro e vim até aqui. Quando minha porta estava sendo quebrada eu pensei que eram eles que tinham rastreado o carro.

- Não tem como rastrear o carro, com a chuva todos os rastros de vocês já tinham sumido quando nós viemos, se não fosse o Kayuri ter seguido o seu cheiro nem nós teríamos achado.

- Que??? Que coisa é essa de sentir o meu cheiro? To falando de GPS, criatura!

- Não sei o que isso significa.

- É uma coisa que eles colocam no carro para saber onde está, caso ele tenha sido roubado.

- Entendi, então temos que tirar esse carro daí logo, antes que eles venham atrás.

- Não é tão simples, se tiver mesmo rastreamento de GPS eles conseguem ver todo o caminho que o carro fez. Teremos que pensar em alguma coisa e sair daqui, como eu estava muito cansada pensaria em alguma coisa pela manhã, mas agora sinto que não vou conseguir dormir, então podemos fazer isso logo.

Enfim LobosOnde histórias criam vida. Descubra agora