Capítulo 23

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LÉIA

Aparentemente estávamos indo pelo caminho certo, continuamos pela pequena trilha por mais um tempo, mas eu não prestei mais atenção no caminho estava mais concentrada em continuar andando, parecia que cada vez ele andava mais rápido ou eu que estava andando mais devagar, acho que devido a perda de sangue e o esforço em carregar a Mayah eu estava um pouco tonta e não conseguia mais acompanhar o passo do homem a minha frente, o lobo cinzento vinha logo atrás de mim, conseguia sentir a respiração pesada no meu pescoço quando ele bufava, certeza que estava impaciente.
Eu nem conseguia mais ver o homem a minha frente então percebi que uma parada não faria diferença pois o outro lobo também sabia o caminho e com certeza não me deixaria ir para o lado errado porque pela cara do homem que pegou a Mayah eu estava bem encrencada. Então simplesmente parei de andar, quando a trilha estava bem próxima ao rio, me encostei em uma árvore.

- Eu preciso descansar por alguns minutos, estou tonta e com muita sede, será que da algum problema se eu tomar a água do rio? Ele parece ser bem limpo.

O lobo que estava atrás de mim me olhou por alguns segundos, bufou e se aproximou do rio, se abaixando para beber alguns goles de água e depois me olhou novamente, interessante, respondeu a minha pergunta de um jeito sutil, então me abaixei perto de onde ele estava, e reparei em como minhas mãos e meus braços estavam ensanguentados, meu machucado no braço não estava doendo, aposto que quando a adrenalina passar estarei sentindo tudo em dobro, estava com muita sede para pensar em lavar as mãos primeiro, então me deitei na beirada do rio e apoiei o braço que não estava machucado em uma pedra próxima e bebi direto do rio, com certeza não era nada confortável mas a água fria me fez esquecer um pouco o desconforto da situação que eu estava, depois que bebi o suficiente lavei as mãos e o braço que não estava machucado, até pensei em tirar a camisa que estava enrolada, mas fiquei com medo que pudesse começar a sangrar novamente, então era melhor não arriscar, depois das mãos limpas molhei o rosto e o pescoço, e isso me deu um novo ânimo para a caminhada, a parada não durou nem cinco minutos, mas me deixou incrivelmente mais disposta a continuar.
Logo a trilha em que estávamos se ligava a outras, ficando cada vez maior eu já conseguia ver a fumaça de algumas cabanas, alguns animais soltos como galinhas, patos, cabras e até algumas vacas, crianças correndo ao redor de tudo isso, me lembrou as vilas de filmes antigos, parecia um lugar adorável, todos vivendo em harmonia com a natureza.
Conforme entrávamos na vila, mais pessoas percebiam a minha presença e paravam o que estavam fazendo, alguns olhares de medo, outros de indignação, outros de ódio sempre fui muito boa em perceber as reações das pessoas e aquelas estavam me deixando bem desconfortável. Então a porta de uma das cabanas é aberta com força por um homem que já se transforma em lobo e corre em nossa direção rosnando e mostrando os dentes com ódio puro estampado na cara, se ele me atacasse eu morreria ali mesmo, em menos de um segundo. O lobo que estava me acompanhando se coloca na minha frente aparentemente tentando me proteger, mas então se transforma em homem, péssima hora pra isso, provavelmente teria mais chance ficando como lobo. Então escuto ele gritar com o outro lobo.

- O Alfa quer falar com ela.

O lobo parou assim que ouviu essas palavras, mas ainda estava mostrando os dentes e rosnando, de repente uivou e saiu correndo para o outro lado. Talvez a parte dos Alfas nas estórias estejam certa afinal, pois aquele lobo com certeza tinha o desejo de me matar, mas só a menção de que o Alfa queria falar comigo fez ele parar o ataque.

- Isso foi um uivo muito frustrado, ele queria mesmo me matar.

Só percebi que tinha falado isso em voz alta quando o homem ao meu lado me responde.

- A maioria vai querer, vamos continuar andando!

Logo várias pessoas e lobos estavam nos seguindo e cada vez mais delas se juntavam conforme íamos passando por elas, o homem que estava me acompanhando não se transformou mais em lobo e as vezes ele rosnava e repetia que o Alfa queria falar comigo, para mim pareceu uma eternidade mas não deve ter passado de alguns minutos para pararmos em frente a uma das cabanas, muito parecida com as outras, não vou negar que fiquei um pouco desapontada pois estava esperando que fosse um tipo de mansão, acho que deve ser o efeito de tantos livros e filmes.
Ficamos parados la por alguns segundos e reparei que as pessoas tinham formado um círculo ao redor de nós, devia ter umas cinquenta pessoas e no mínimo uns quinze lobos, todos com cara de poucos amigos mas pelo menos tinham diminuído os rosnados, e então consegui reparar neles, todas as pessoas eram de alguma forma parecidas, morenas, altas e musculosas, todas tinham os cabelos escuros, e era uma mais linda que a outra, parecia que eu estava em um evento de modelos ou algo do tipo, até acreditaria nisso se não fosse a roupa que estavam usando, ou no caso de alguns a 'falta' de roupa, alguns deles estavam nus com uma naturalidade impressionante, e os que estavam com roupas não pareciam se importar também, os homens que estavam vestidos usavam bermudas de moletom, e as mulheres vestidos leves de verão, provavelmente não devia ficar encarando mas todos estavam me olhando e eu já não sabia mais para onde olhar, de repente de canto do olho vejo algo pequeno correndo em minha direção, um lobinho preto com uma mancha branca no peito, Keny o irmãozinho da Mayah me reconheceu e veio me dar boas vindas, não podia ser em melhor hora o ambiente estava muito tenso.
Me ajoelhei quando ele chegou perto de mim, tentei esquecer onde eu estava, ele uivou se aproximando de mim com simpatia, fiz carinho atrás das suas orelhas e logo ele se deitou de costas me mostrando a barriguinha, lógico que eu não pude resistir e fiz cócegas ali e então de repente tinha um bebê deitado no lugar do lobinho, continuei fazendo cócegas e logo a gargalhada dele me contagiou e comecei a rir também, era um som realmente maravilhoso.
Então ele parou desconfiado, parecia que tinha percebido que alguma coisa estava errada, se transformou em lobo novamente e começou a farejar minha mão, indo para o local onde estava a camisa enrolada e começou a lamber, percebendo que estava machucado, achei muito fofo o modo que ele estava tentando cuidar de mim, pois sei que é assim que os animais se curam de seus ferimentos.
Então olhei ao redor, por um momento eu tinha realmente esquecido de todos e me concentrado na fofura que estava na minha frente, mas todos pareciam intrigados com a reação do pequeno lobo a mim, e também percebi a presença do homem que levou Mayah, que ainda estava nu e de um outro homem muito parecido com ele, com alguns anos a mais e vestia uma bermuda.
Será que este seria o tal Alfa? Ele realmente parecia ter uma postura de poder, e me olhava inexpressivo então não sabia dizer se era bom ou ruim para mim, ter que conversar com ele.

Enfim LobosOnde histórias criam vida. Descubra agora