04. Prometa que vai cuidar dele

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     Todos os dias pedalei até a casa na árvore depois das tarefas, estava me acostumando a entregar pequenas encomendas para os vizinhos mais próximos, as pessoas de Napul Napul parecem viver em outro mundo, são tão diferentes das pessoas da minha cidade natal. Descobri que o ato de jogar um balde de água para acordar os garotos não era algo raro ali, na verdade era até comum.

     Vez ou outra, via algum garoto arrastando seu colchão para secar ao sol, um em particular fazia isso quase todos os dias, na terceira vez que o vi nessa situação, ele me cumprimentou com um sorriso e eu correspondi, como quem diz que sabe exatamente como ele se sente, enquanto esperava o dinheiro pela entrega.

     Eu ainda estava sorrindo quando o olhar de um vizinho que passava de carroça cruzou com o meu e ele sorriu de volta, pensando que eu estava sorrindo para ele.

     O gatinho não gostava de ter que dormir na árvore, queria ficar comigo e toda noite era uma tortura dizer não para ele, eu não conseguia, me sentia mal por deixá-lo sozinho e acabava voltando para levá-lo até o quarto, onde ele gostava de dormir grudado em mim e acordar esparramado, ao meu lado, na minha barriga ou até na minha cabeça.

     Subir naquela árvore e observar as estrelas deitado ali, só nós dois naquela casinha, era uma das minhas coisas favoritas em Napul Napul. O céu à noite era repleto de estrelas.

     Uma vez deitei com ele na casa da árvore e acabei pegando no sono. Acordei aparentemente sozinho e sentei, esfregando os olhos com as mangas da minha blusa — Gatinho? — depois de alguns segundos, fiquei com medo que ele tivesse se perdido, até vê-lo sair da caixa de papelão no fundo da casinha. Minha visão estava um pouco embaçada, então apesar do luar iluminar o local, só consegui vê-lo direito quando estava pertinho de mim — Ah, você está aí — sorri, acariciando sua cabeça, antes dele subir no meu colo e dar duas voltas para finalmente sentar.

     Voltei a olhar a vista lá de cima e respirei fundo, sentindo aquele ar fresco da floresta preencher meus pulmões — Acho que acabei pegando no sono. Não temos uma visão dessas de onde eu vim, dá vontade de... — não quis terminar a frase, porque me lembrar disso só me deixaria nervoso e acabei mudando de assunto — Sabe, eu tenho um amigo de infância que gosta de ler sobre esse tipo de coisa, extraterrestres, estrelas e tudo relacionado ao espaço. Eu também acredito que há vida em outros planetas, o universo é tão grande, não pode ser só nós, certo? Será que eles têm algum bichinho de estimação? Ah, eu sei, sobre que raios eu estou falando, né? É só que as vezes me sinto tão pequeno, mesmo sendo o mais alto da minha sala. — foi então que eu me toquei — A escola nova também deve ser muito diferente da que eu estava, tudo aqui é diferente, parece um universo alternativo e eu não conheço ninguém, só meu tivô, que me conhece muito mais do que eu o conheço e agora você. — respirei fundo, lembrando dos meus amigos, que não davam notícias desde que me mudei e comecei a chorar, de novo — É meio solitário, sinto falta dos meus amigos, mas não dos meus pais, é errado não sentir falta deles? — confessei, secando minhas lágrimas e irrompendo meu choro — Estou cansado de chorar. Melhor ir para casa, está ficando tarde.

     Levantei abraçando ele contra meu peito e deixei um beijinho no topo da sua cabeça, antes de colocá-lo na caixa de papelão com uma das minhas toalhas de banho que levei para mantê-lo quentinho. Mas foi só eu fazer menção de sair da casinha, ele saiu da caixa e veio atrás de mim — Não, gatinho, volta pra cama, vai. Vai dormir. Amanhã a gente se vê. — o abracei, ainda contendo meu choro e depois de tentar deixá-lo na caixa quatro vezes, lá estava eu, persuadido por ele novamente. O levei escondido dentro da minha blusa de frio e fui direto para o quarto, onde ele já saiu todo feliz e ficou puxando o tecido da colcha para deitar no seu lugar favorito, com exceção, é claro, do meu corpinho, onde parecia gostar tanto de explorar novos lugares para dormir — Na verdade, eu também não queria dormir sozinho hoje, — disse, desdobrando minha manta sobre a cama e finalmente deitando ao seu lado — mas não se acostume — alertei ao que o pequeno se aconchegou em meu braço esquerdo, ele era tão fofo, como dormir abraçando uma pelúcia — Boa noite, gatinho.

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