10. Saia no meio da festa

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     Meu receio de fazer uma festa escondida só não era maior que minha vontade de fazê-la.

     Enquanto terminamos de comer com o rádio do tivô fazendo a trilha sonora e começamos a conversar sobre o trabalho, ainda sentados em volta da mesa — com exceção do loiro que foi o primeiro a terminar e voltou a sentar no chão, finalmente conseguindo atrair a atenção de Monet com um dos biscoitinhos de leite —, percebi uma certa tensão entre o Beomgyu e meu mapa, Kai.

     Eles nunca falavam diretamente um com o outro e pareciam estar de acordo em não interagirem entre si.

     Depois de muitas conversas aleatórias, piadas sobre o programa de rádio que ouvimos, diversas tentativas falhas em manter o foco e algumas ideias descartadas, voltamos a ficar em silêncio, ouvindo apenas o rádio da cozinha que no momento tocava uma música tranquila, acompanhada do interlocutor que traduzia simultaneamente sua letra ridiculamente romântica e sofrida, sobre uma desilusão amorosa.

     — Podíamos analisar... — Beomgyu sorriu, entre um espirro e outro, tentando não se mexer muito para não acordar o gatinho que estava quase dormindo em seu colo, cedendo ao seu cafuné contínuo — Podíamos analisar uma música em inglês...

     Segundo as anotações no caderno de Taehyun, o professor Namjoon pediu para criarmos um seminário da maneira que acharmos melhor, desde que fosse sobre música e que todos os integrantes falem em inglês, podendo usar uma cola para essa última parte. E como nenhum de nós teve uma ideia melhor para apresentar, tivemos que pensar em uma música para dar continuidade à proposta de Beomgyu.

     Mais algumas ideias foram trocadas, até escolhermos uma música e Tae se oferecer para pesquisar a letra completa no computador dos seus pais quando chegasse em casa, mal sabendo da noite longa que teríamos.

     Assim, com a apresentação encaminhada, nos permitimos descansar os neurônios e iniciar os preparativos para a festa. Mesmo Taehyun, que sempre teve essa urgência para terminar as tarefas, sabia que não poderíamos fazer mais nada até que ele conseguisse a letra.

     Mesmo sendo provavelmente o anfitrião mais deslocado que aquela cidade já viu, no meio de toda essa gente que se conhecia muito melhor do que eu e que nem me preocupava muito em conhecê-los, já que não pretendia ficar ali nem um segundo a mais do que o necessário para meus pais me levarem de volta para casa, mesmo sem nenhum amigo, queria fazer uma porcaria de festa e beber até esquecer todos os meus problemas, esquecer que meus pais não ligam para mim, em todos os sentidos, que meus amigos não me escrevem, que eu sou péssimo em tudo que tento fazer e me sinto insuportável tendo que morar ali com o tivô, que tentava incansavelmente me conquistar, comprando as coisas que gosto de comer ou me deixando ficar com um gato perdido. Queria beber até parar de me sentir tão quebrado por dentro, talvez se bebesse o suficiente, eu sentiria algo além desse vazio que cresceu em mim nas últimas vezes que briguei com meus pais, antes de ser mandado para aquele lugar.

     — As garotas trazem comida e os garotos, bebida. Vou avisar os outros, passar em casa para trocar de roupa e já volto — o mais novo de nós listou, contando nos dedos, depois de jogar sua mochila nas costas e passando pela porta que já estava aberta, ele buscou sua bicicleta no gramado e saiu pedalando, debaixo daquele sol incandescente.

     — Eu vou ligar para o hospital e avisar minha mãe — Taehyun tirou um celular do bolso e ligou para o primeiro número gravado na memória, enquanto Beomgyu e eu nos entreolhamos, impressionados com seu aparelho de última geração.

     — E eu vou buscar algumas fitas, para não termos que continuar ouvindo a Alpha FM. — disse, imitando o tom de voz do interlocutor — E você?

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