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08. Sobreviva a vergonha de falar sobre você

Em cima da lousa havia um relógio redondo, amarelinho como um sorvete de creme, com números e ponteiros pretos. Quantas vezes me distraí observando a agulha vermelha indicar os segundos com seu movimento mecânico, imaginando o que meus amigos estariam fazendo naquele momento, se estariam pensando em mim tanto quanto penso neles. São um bando de bocós, mas senti muita falta de estar com eles, principalmente agora que as aulas começaram.

Estaríamos sentados no fundo da sala, brincando com cada um que entrasse pela porta, exatamente como eles estão fazendo. Eu faria parte desse barulho.

O professor chegou, colocou seu material na mesa, escreveu seu nome na lousa e a disciplina que leciona. Algum aluno distraído, do outro lado da sala, comentou que nem precisava disso, pois todos ali já tiveram aulas de inglês com ele.

A garota que estava sentada na frente desse aluno comentou alguma coisa que não consegui ouvir, mas logo toda sala saberia, pois o mesmo repetiu em voz alta - Aluno novo?

- Aish... - ela reclamou, virando para frente, escondendo o rosto ao que alguns colegas riram da situação - Você é muito escandaloso.

- Bom dia, turma. Como podem ver temos alguns alunos novos esse ano, - o professor se posicionou no centro da sala, de frente para todos e começou a falar, interrompendo as conversas alheias e chamando atenção para si - vou pedir para que todos façam silêncio agora, por gentileza. Quem são os alunos novos?

Tentei me controlar, respirei fundo e levantei a mão, olhando em volta para saber se havia alguém na mesma situação difícil que eu me encontrava. O garoto baixinho sentado na fileira do meio e outro no fundo da sala levantaram a mão e voltamos a olhar para o professor que levantou um giz branco e nos pediu para escrever nossos nomes na lousa e falar um pouco sobre nós.

- Podem vir, os três juntos... - ele sorriu, me entregando o giz ao que me aproximei primeiro e já comecei a escrever meu nome, enquanto os outros andaram até a frente e fizeram o mesmo.

Eles ainda estavam escrevendo, quando virei para frente de todos, tentando não olhar diretamente para ninguém e ficar mais nervoso do que já estava.

- Muito bem... Choi Soobin, pode começar com quantos anos você tem, de onde veio... - ele pediu, lendo meu nome antes de pegar a garrafa de água dele no canto da mesa e sentar com uma perna só onde ela estava.

Confirmei com a cabeça e coloquei as mãos nos bolsos da calça, para que não vissem como estavam tremendo.

- Olá, eu sou Choi Soobin, tenho 17 anos e fui transferido de uma escola em Ansan, Gyeonggi... - percebi algumas reações surpresas quando contei minha idade e o professor levantou as sobrancelhas, ao ouvir de onde vim, como um pedido silencioso para que eu contasse um pouco mais - Eu me mudei para cá no final das férias e estou morando com meu tivô.

- Seus pais moram em Ansan? - o professor perguntou, voltando a fechar a garrafa da qual havia bebido alguns goles enquanto me ouvia.

Confirmei acenando a cabeça duas vezes e sorri, pedindo silenciosamente permissão para voltar ao meu lugar.

- Oh... E o que está achando da cidade?

- Ah, legal... - levantei os ombros minimamente.

- Bom... E agora o senhor... - respirei aliviado quando ele finalmente passou para o próximo garoto, o que eu não entendi foram as risadas ao verem ele ler o nome ao lado do meu na lousa - Kwon... Hyuk? Kwon Hyuk!

- Engraçadinho... Oi, eu sou Kwon Hyuk, tenho 18 anos e vim daqui mesmo, - o moreno com pinta de valentão deu de ombros e alguns colegas riram do seu comentário - da sala do lado - completou, encostando a mão direita no ombro direito e apontando para a porta com o polegar, causando mais algumas risadas.