33 - Berenita

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A presença divina daquela mulher se diferenciava muito além da compreensão. Theomar mal conseguia se manter de pé, mas só pensava em uma forma de trazer sua amiga de volta ao normal.

— Uma das deusas patronas de nosso país. Seria mesmo possível?

— E por qual razão eu mentiria, mortal? É por conta da descrença de vocês que os deuses se afastatam cada vez mais da humanidade. Agora responda minha pergunta.

— Eu não poderia responder com total certeza, mas Eliza, a jovem a quem pertence esse corpo, entrou em estado de supernova após ver os corpos de seus pais assassinados — teorizou Theo. — O choque deve ter elevado seus poderes a tal nível que ela foi capaz de invocar uma divindade como a senhora.

— Então não foi uma prece baseada em sua fé e sim em seu desespero. Pobre criança — disse olhando para a palma da própria mão. — Posso sentir sua dor, sua raiva. Não foi a toa que assumi esta aparência sombria, um reflexo de seu estado emocional, creio. Normalmente meus cabelos seriam verdes como folhas e minha pele da cor do tronco de um carvalho.

Berenita olhou ao redor e percebeu a devastação causada pelo conflito bélico e o terremoto.

— Veja que lástima — comentou. — Mais uma vez a terra chora por causa da destruição causada por vocês, humanos. O solo está sendo alimentado com o sangue de inocentes. Flaragnis deve estar saltando de alegria.

Aproveitando-se da distração da visitante Rosnoc usou seus poderes para avançar o tempo das raízes que o prendiam. Elas ressecaram e tornaram-se frágeis o bastante para ele se libertar. Com sua super velocidade ele avançou contra Berenita e tentou cortar-lhe a garganta com suas espadas. Sua tentativa foi em vão, pois instantes antes de acertar o alvo novas raízes brotaram do chão e o agarraram em pleno ar, imobilizando-o novamente.

— Me admira tamanha audácia vinda de você, mortal — disse Berenita. — Mesmo após eu me apresentar ainda ousa levantar a espada contra mim? Deveria seguir o exemplo do homem de olhos azuis. Ele me prestou o devido respeito, mas você é um tolo.

Rosnoc tentou usar mais uma vez seus poderes, mas dessa vez nada aconteceu.

— Como é possível? Não consigo...

— Acha mesmo que eu permitiria que me atacasse novamente? Não sei se devo rir ou sentir pena de sua ingenuidade.

— Você não sabe de nada sua...

— Eu sei de tudo o que se passa sobre o solo em que pisas, afinal esse é meu domínio, seu ser insignificante desprovido de sensatez.

— Você não sabe nada sobre mim, sua...

— Sei quem é você, Rosnoc Chawt, Cavaleiro da Confiança de Antares e portador da Opala do Tempo. Tu és nada mais que um pivete maltrapilho que cresceu nas ruas de Milo roubando para sobreviver até ter a oportunidade de ingressar no exército e mostrar do que era capaz — Rosnoc ficou sem fala diante do conhecimento da deusa a seu respeito. —
Por anos treinou suas habilidades de não ser percebido até, ironicamente, chamar a atenção de Zarval ao tentar roubá-lo. Quando o arquimago foi generoso você não perdeu a chance de mostrar-se útil. Duvida de meu conhecimento agora ou prefere que eu descreva detalhadamente cada acontecimento em sua ínfima existência?

— Então... é mesmo uma deusa — admitiu.

— E não se esqueça disso — disse ela sorrindo.

— Não deveria ser possível — protestou Rosnoc. — Se é mesmo a deusa da terra então o tempo deveria estar além de seus domínios.

— É verdade, o tempo é de responsabilidade de outra divindade — ela apertou ainda mais as raízes em volta de Rosnoc. — Mas devo lembrá-lo de onde provem seus poderes? A opala é uma pedra, um mineral. Todos os minerais deste mundo respondem a mim.

A Saga de Arietis. Livro 1 - Fé (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora