ATO I - CAIUS

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Coréia do Sul - 2008


O avião finalmente pousou. Eu passei dezesseis horas nessa lata chechelenta até Paris e depois mais quatorze até Seoul. O desgraçado do meu lado tinha cheiro de álcool vencido, se isso é possível, e por mais que eu nunca tenha visto uma criança entrar em ambos os vôos uma chorou a viagem toda. É impossível uma criança chorar por dezesseis horas seguidas, mas quando uma dormia o choro da outra acordava as demais e era aquela cacofonia de gritos, os pais com cara de desespero e vergonha e o desgraçado do meu lado roncando e fedendo, para eu descobrir que pousamos na merda de Osaka porque aparentemente a merda do aeroporto de Incheon estava interditado por causa da neve. Não nos deixaram descer do avião e eu estava começando a ficar irritada e com fome, ou simplesmente com vontade fatiar todo mundo ali quando o avião decolou novamente e finalmente chegamos em Incheon pela manhã com duas horas de atraso.

Eu havia me esquecido como o sol brilha forte no inverno da Coréia, às vezes mal dá para enxergar, e minha constituição não me permite passar longas horas sob a claridade constante, já com tontura me abriguei dentro do aeroporto, peguei minhas malas e imaginei se o Samuel ia estar me esperando, afinal enviei para ele detalhes de minha chegada.

No portão de saída, não tinha ninguém. Eu sempre fui bem gentil com os familiares, mas no humor que eu estou não sei dizer se seria bom para ele me encontrar neste momento. Subi no primeiro taxi e fui pro Hilton.

– Melina Casablancas – eu disse ao rapaz no balcão de check-in. Ele confuso, inglês um pouco fraco, procurava meu nome e já começou a suar, o coração acelerado. Dada a reação dele eu devo estar com a cara do que tô me sentindo agora. Ele pediu para eu esperar gentilmente e correu, voltou com uma mulher, e disse para ela em coreano que não encontrava meu nome, que eu não estava listada para o check in de hoje. Ela começou a procurar sem sucesso.

Chega, oje buto, taum ju kaji yeyak ressoyo. – "Eu fiz reserva de ontem até semana que vem". Disse em coreano. Os dois foram pegos de surpresa e eu confesso que fazer isso melhorou meu humor. Em seguida ela encontrou meu nome, elogiaram meu coreano e o rapaz me acompanhou até meu quarto. Independente do meu mal humor a Coréia tem um jeito de me trazer de volta. Sempre tive afinidade com esse país, e lembro dos anos que vivi aqui como um dos melhores.

Enfim, sós. Era 10 da manhã de uma quarta-feira, eu havia passado mais de 45 horas cercada de pessoas piores que eu. Ao pensar nisso senti um orgulho estranho por não ter saído disso com as mãos manchadas de sangue. Tirando a imbecil que eu desacordei no banheiro por ter furado a fila... mas eu nao tirei sangue, então não conta. Minha linha de pensamento foi interrompida com o vibrar do meu telefone.

– Mana! – disse Samuel do outro lado. – Chegou bem?

– Cheguei, onde você está?

– Eu estou no meio tempo de um jogo, deve acabar às onze, quer que eu vá aí? Ou prefere vir você até mim? – ele disse e eu pensei duas vezes antes de responder, queria mais tempo em solidão.

– Me passa o endereço eu te encontro depois do jogo.

Tomei um banho bem necessário, joguei minhas roupas ao lado para cremar e depois de me recompor fui direto a Korea National University onde meu familiar estava jogando. A Koriode, como costuma ser chamada, é uma universidade linda, e foi uma que já frequentei. Confesso que fiquei um pouco enciumada quando meu familiar resolveu jogar para a universidade, e estava se formando com glórias onde eu sempre tive que manter um perfil mais incógnito. Ao mesmo tempo me dava orgulho ver esse menino cultivando seus talentos no futebol.

A BaronesaOnde histórias criam vida. Descubra agora