Firenze - 1604

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Era cerca de 1604 e o baile de máscaras de carnaval na Vila De Fragale em Firenze era o evento mais aguardado. Todos os membros da alta sociedade local se reuniam para o consagrado evento. Era uma imensa honra ser convidado, para todos, exceto um.

– Olá, senhorita Fragale, linda noite! – disse um cavalheiro aleatório.

Eu só fingi um sorriso por trás de minha máscara, e continuava a fazer isso a todos os cavalheiros e damas que se aproximava e falavam comigo, a anfitriã da festa. Eu odiava as conversas falsas, ter que ir a festas e manter aparências, ter minha vida exposta enquanto minha família definhava.

– Onde está papai? – perguntei a uma de nossas criadas.

– Não o vi ainda Senhorita.

– Então o encontre! Não quero ele aqui, deixe que minha tia se vire com essa festa e não o deixe se aproximar das pessoas, ok? – eu disse isso, mesmo sabendo que ela não tem autoridade nem capacidade de fazer nada do tipo. Hoje olhando para trás e lembrando, pego essas pequenas falhas de caráter e falta de visão que faziam parte de mim quando jovem.

– Acredito que vosso tio esteja com ele no momento, senhorita.

– Não deixe que a nona descubra, se ela perguntar diga que ele está no salão lidando com os convidados.

– Sim, senhorita.

Eu fui até o balcão no andar de cima em busca de ar fresco e solidão. O balcão ficava diretamente acima do salão onde estava a orquestra e a maioria dos convidados. Do canto logo atrás de mim ouvi uma risada debochada seguida do seguinte comentário:

– Fugindo dos admiradores? – disse um rapaz de aparência impressionante, cabelos negros, bem negros e brilhosos, cachos impecáveis domados para combinar com o visual polido de suas vestes impecáveis. Olhos negros como seus cabelos, tudo isso emoldurando um rosto esculpido em mármore. Eu jamais havia visto um homem assim, tão belo. Achava que era sempre exagero, mas logo liguei a pessoa aos boatos.

– Você deve ser Cosimo. – eu disse – Da família Cardinalli.

– Sim, estou passando um tempo em terra antes de partir em viagem novamente.

– Viagem? Não são esses os boatos.

– Que boatos ouvistes?

– Que você viola famílias, seduz mulheres casadas e deflora jovens, que odeia o compromisso do casamento. É um herege. Quer apenas festejar seus dias e morrer rápido, que só volta a sua Vila quando precisa de dinheiro e outras coisas mais difíceis ainda de acreditar.

– Você ouviu errado então. – ele disse se aproximando mais – Apenas pessoas que pagam suas dívidas precisam de dinheiro. – A isso ele brindou o drink que estava em mãos e o bebeu.

– Bom, seus charmes não me afetam. – eu menti e de alguma forma sinto que ele sabia disso, pois ele sorriu novamente.

– Não quero lhe seduzir. Estou apenas curioso, parece que você não se enquadra.

– Não me enquadro no que?

– Dentro da moldura desse quadro no qual você nasceu e é forçada a fazer parte.

– Eu me enquadro perfeitamente, muito obrigada. – eu disse defensiva – Porque pensaste isso, senhor?

– Bom, você me parece alguém com uma mentalidade mais adulta do que o corpo que habita, responsabilidade demais e inteligente demais para ser mulher. Estou errado?

– Não me julgue senhor.

– Bom, você é de fato, uma mulher linda, mas se continuar com essa fachada nunca encontrará um marido a altura. – ele estava cruzando a linha – Você quer ser a última de suas amigas a se casar? Quer casar ainda depois que a parva da minha prima Justina?

A BaronesaOnde histórias criam vida. Descubra agora