Seoul - Dezembro 2008

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Eu estava na cidade já fazia quase um mês. Por mais que a Coreia seja um lugar que eu gosto, eu só quero matar a sentinela logo e acabar com isso, no entanto é comum que todos os revenants que perseguem sentinelas acabam tendo um fim sórdido. A verdade é que estou pouco me lixando com isso, um lado meu tem medo das invariáveis, mas o outro lado quer que elas se fodam pois até hoje não vi nem uma funcionar. De qualquer forma, sem intenção de causar o mal eu queria me aproximar da moça e tentar entender, como o próprio Taemin disse ela não demonstrou intenção de seguir sua vocação, eu nunca tive o desprazer de me encontrar com o tal fanático Pagura, mas eu sou bem gostada pela maioria dos humanos que cruzam meu caminho e eu não mato tão facilmente como outros da minha horda.

Eu sabia a agenda dela e ela era inteligente, cada dia tomava um caminho diferente e eu coloquei o Samuel para segui-la também, já que reza a lenda que as sentinelas, apesar de invisíveis aos nossos sensos elas conseguem nos detectar a longas distâncias e até conseguem sentir nossos intuitos. Isso não seria seguro pra mim já que meu intuito principal é eliminá-la.

Essa sentinela imbecil, tinha uma vida bem miserável, ela foi rejeitada no curso de design pois não tinha um portfólio e agora faz curso de francês...quem se gradua em francês, e pior, quem se gradua em francês na coreia? Tem que sem muito chapada pra aceitar um curso tão inempregável como esse, talvez seja bom pra ela, de fato, se tornar uma "caça vampiros". Eu ri com essa noção. Os humanos chamam os revenants de vampiros e eu lembro como o Caius imitava tão bem um vampiro após assistirmos Nosferatu. Gostamos muito de Drácula e quando fizeram a foto em movimento eu e ele fomos correndo assistir. Foi um grande evento, Augustus assistiu conosco uns quarenta anos depois e Caius imitava todas as cenas "Olha pra mim, eu sou um vampiro" ele dizia. Era hilário. Toda vez que um mortal se refere a nós como vampiro, era um grande tabu e ofensivo, especialmente na época que o termo se popularizou, depois da grande guerra se não me engano. Os esnobes empinavam o nariz e criticavam os familiares novatos que chamavam-nos de vampiros, alguns foram "aposentados" (mortos) por causa dessa noção, mas nunca foi algo que me ofendeu. A visão caricata que os mortais têm de nós é de fato bem engraçada e poética. De como nos filmes é sempre um humano escolhido que consegue matar os "vampiros", os dentes pontudos, a mudança no rosto. Eu adoro filmes de vampiros. Os únicos que me irritam são os romances, eu passei um tempo seguindo um incubus, mas esse tipo de relacionamento não é romântico, é mais um fetiche onde o humano serve como alimento, pode-se pensar como uma pessoa que quer foder o bife antes de comer,é nojento e sem noção, mas tem revenant que faz isso como parte da "merenda". Sempre que tem um revenant desequilibrado, obcecado por algum humano, ou alguma linhagem sanguínea, eu sou chamada pra "resolver". Esse é meu trabalho principal no conselho, eu "resolvo" situações. Assim como Caius foi conhecido no tempo dele, eu sou conhecida pela minha paciência infinita e habilidade de fazer meu caminho em situações difíceis e sair limpa do outro lado. É um talento. Talvez assim como a sentinela tem o talento de proteger sua tribo, eu protejo a minha e é assim que caminham-

Nesse ponto do meu devaneio, a corda de piano apertou em meu pescoço tão apertado e foi puxada com tamanha força que meus pés saíram do chão. Imagina eu tenho 1,75 de altura e a pessoa que fez isso era bem mais alta que eu. "Pagura" pensei. Eu mudava de local e também fazia caminhos diferentes, era impossível que soubessem minha agenda ou rotina dentro dessa universidade bosta e pior ainda, como um índio de dois metros de altura anda por uma universidade feminina sem ser notado?

Eu não preciso respirar então a corda não valeu de muita coisa tirando o fato de eu sentir o liquido escorrendo por entre meus dedos que tentavam cavar a corda pra fora de meu pescoço, ergui minhas mãos aos meus olhos, sim, era sangue e meu pescoço estava sendo cortado. Eu lutei bem pouco, e minha visão se tornou turva, eu ia e vinha, então rolei a tempo de ver Pagura arremessando o meu corpo do outro lado, e colocando a estaca em meu coração. Ouvi a voz da moça, ouvia, mas não entendia, era um tom de desaprovação. "Ela é pupila do Caius" ele gritou. Ah sim, eles acham que Ophelia foi destruída e querem me destruir também. É fofo os mortais adotarem a mesma técnica de eliminar toda a linhagem, naturalmente vingança é um hobby adotado por todos os tipos de família. A moeda nojenta foi colocada na minha boca, e eles saíram. Três pessoas. Pagura de botas iguais as minhas, Sofia com um converse velho e nojento, e uma terceira pessoa usando Kanye West Loui Vuitton que eu conheço bem, pois eu que paguei por eles.

Eu estava no chão de uma quadra nojenta e fechada, literalmente sem cabeça, ou sem corpo, depende de como você vê, sentindo minha consciência ir embora e agonizando de dor, mas essa dor estava apenas na sombra do que senti ao constatar o óbvio do que havia acontecido, do que se passou naquele momento.

A BaronesaOnde histórias criam vida. Descubra agora