Não fazia muito tempo que eu havia voltado para o tédio da vida de baronesa, e estava estudando a possibilidade de largar essa fase e ir para Copenhagen finalmente, já que meu planinho de recuperar os anéis tinha falhado miseravelmente. O que me restava apenas era seguir com um novo objetivo. Até que no meio da noite, pouco antes do sol nascer a campainha soa loucamente. Eu não costumo atender, minha quinta é bem grande e fica ao topo de um morro, meus criados não moram comigo, eu durmo durante o dia e eles são instruídos a irem para suas próprias casas assim que o sol se põe. É estranho e é meio drácula demais pro meu gosto, mas ninguém suspeitou de nada. "Baronesa está sempre ocupada, baronesa está sempre viajando" etc. Nesse meio tempo entre a festa hoje eu também fiquei absolutamente viciada em Star Trek, cheguei a pensar em pedir ajuda psicológica a respeito, mas é bem normal. Eu fui puta até a portinhola dos fundos que meus empregados usam. É um portão antigo, que vai até a cintura, olhei pelo vidro, e era um revenant que não conhecia, ele olhava para o sol como se ele fosse explodir em chamas a qualquer momento.
– Senhora? Baronesa? Sou enviado do conselho! – ele levantou um envelope azul marinho selado em vermelho. – Por favor! – ele completou, implorando para entrar, quem não soubesse iria achar que ele estava prestes a fazer xixi nas calças.
– Entra. – eu disse abrindo a porta e ele entrou correndo.
– Nossa! – ele disse dentro de minha cozinha. – Essa foi por pouco! – os primeiros raios de sol pintando de bronze o céu.
– Quantos anos você tem? – eu perguntei.
– 32! – ele disse.
– Não perguntei o total, perguntei quantos anos você tem de verdade.
– 6 anos, senhora baronesa... – ele disse.
– O que o conselho quer comigo? Achei que eu estava de férias.
– Temos um caso.
– E vieram trazer pessoalmente? – questionei, geralmente a carta vinha sem ninguém junto.
– O caso é sobre um revenant do seu círculo, Solfieri. – disse ele.
– Pronto, o que ele aprontou? – perguntei me sentando.
– Ele foi encontrado em pedaços, totalmente desmembrado num poço de elevador em Dubai.
Eu pausei, eu tinha muitas perguntas, mas as perguntas não importam, pois o que eu tinha medo mesmo eram as respostas, mas o idiota na minha frente aguentou por volta de menos de um minuto de silêncio e começou a querer preencher as lacunas com sua própria voz.
– Foi nos dito, antes de investigar que a senhora e Solfieri são próximos, como família. Que conhece bem suas idas e vindas...
– Ninguém conhece as idas e vindas dele.
– Sim, mas entre todos os nomes a senhora é quem mais conhece.
– O coração dele. – eu disse.
– Intacto. – o jovem disse – Levamos os restos dele para Geneva onde estamos...é...
– Montando ele de volta?
– Sim! – ele disse – Não encontramos uma perna por isso atrasou um pouco o processo, a perna foi encontrada ontem, havia sido levada pelos ratos. Assim que ele for completamente...montado...o processo da volta dele deve acelerar um pouco mais.
– Quanto tempo ele demorou pra ser achado?
– Quase imediatamente...havia muito sangue. – ele me entregou o envelope com mãos trêmulas – as fotos estão aí.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Baronesa
Mystery / ThrillerQuando cheguei em Seoul, nunca imaginei que fosse encontrar o que encontrei. Mergulhada em uma teia de misterios e desencontros esperando emergir do outro lado, ilesa. Ao encarar a mortalidade o rosto das pessoas que cruzaram meu caminho durante os...