cento e dezenove¡! ♡

4.2K 280 250
                                    

Sina.

Depois que eles foram embora, não me restou outra alternativa a não ser voltar para a lanchonete e enfrentar um sermão daquele pelo Matt. Trouxe Lele comigo e torcendo para que ela não arranje confusão como da última vez que veio. Me dá dor de cabeça só de lembrar.

Sei que na idade de dois a três anos as crianças ficam mais soltas e  sapecas, mas a minha filha extrapola. Estávamos em um dia importante pois um famoso resolveu comer lá. Tudo tinha que sair perfeito, mas a pequena não parava quieta. Corria pela cozinha e não estava deixando a mim doida, mas a Sabina e a Shaz também.

Para completar, ela trocou o pedido do artista. Em um momento de distração nossa, a garotinha teve a audácia de colocar pimenta no hambúrguer do homem. Já deve imaginar como acabou. Matt deixou claro que não queria crianças ali, fosse minha ou de uma das meninas.

Infrigi uma regra, o atraso, e estou infringindo outra, não poder crianças. A essa altura eu nem estava mais raciocinando. Na minha mente só tinha um certo homem de olhos verdes. Ainda posso sentir sua carícia em minha mão. Ótimo, estou agindo como uma boba apaixonada! Eu preciso me tocar de que nunca iremos ficar juntos.

Caminho pela calçada brincando com a minúscula Torre Eiffel da pulseira. Um sorriso brota em meu rosto. Ele me deu um presente. Lembrou do meu desejo de ir a Paris e comprou uma jóia que tem detalhes da cidade. O pior é que agora fico imaginando eu e ele na Ponte des Art, onde ficam os cadeados do amor.

Ao nos aproximarmos da lanchonete, posso ver meu patrão me esperando de braços cruzados. Sua expressão séria me causou um frio no estômago. Calma, Sina! Bailey não abriu a boca grande dele sobre o outro atraso. Está tudo bem. Respira, inspira e não pira.

— Bom dia.

— Nem venha com essa. — ele desce o batente e fica próximo a mim. — Está atrasada.

— Me perdoe.

— Perdoaria se mandasse mensagem justificando.

— Eu esqueci.

— Sabe das regras. Sem atraso e se acontecer, tem que ter uma boa justificativa.

— Sim, senhor.

— Vou deixar passar porque é a primeira vez, mas na próxima seu emprego já era. Ouviu?

— Ouvi, senhor.

— Me diga o motivo.

— O que? — o encaro confusa.

— De ter faltado o início do expediente.

— A genti foi os faive naites. — diz minha filha inocentemente.

— Então quer dizer que a senhorita deixou o trabalho para ir ver uma banda?

— Sim. Quer dizer, não! Na verdade...— lanço um olhar furioso a Lele. — Eles voltam para Los Angeles hoje e eu quis me despedir.

— Isso não é motivo para faltar. Vou castigá-la com a limpeza dos banheiros.

— Tudo bem.

— E quanto a ela? — aponta para Lele.
— Crianças não podem ficar.

— Eu vou dar um jeito.

— Ok. Vá trocar de roupa.

Assinto e ele vai embora. Suspiro e finjo limpar um suor na testa. Essa foi por pouco! Minha menina puxa meu vestido para que eu a olhe. Parece que tenho que resolver isso. Relaxe, Sina. Conte de dez para baixo. Dez, nove, oito, sete, seis...

— Que sorte, Sininho! — diz Bailey passando seu braço direito por cima dos meus ombros mas eu logo me solto.

— Já disse para não me chamar assim.

— Desculpa. — levanta as mãos em redenção. — Se livrou de uma demissão graças a mim.

— Você não fez mais que sua obrigação em ficar calado. — Sabina fala irritada.

— Olha a boca, Hidalgo. Esquece que sou filho do patrão?

— Você é um... — eu a interrompo.

— Já chega! Lele está aqui e não quero que ela ouça besteira.

— Vai ser difícil se esse nojento continuar falando.

— Eu exijo respeito. — ele aponta o dedo para o rosto dela.

— E eu sugiro que baixe sua bolinha porque você não é dono disso daqui e muito menos o meu chefe.

— Parem os dois! — entro no meio.

— As duas não estariam aqui se eu não escondesse os podres de vocês do meu pai. Imagina só se ele descobre que essa não é a primeira, mas sim a segunda infração da Sina.

— Que história é essa?

O meu coração parou. Estou na frente de Bailey virada para o lado oposto da voz. E era de Matt. Fecho os olhos com força desejando que seja só um pesadelo do qual irei acordar a qualquer instante. Quando volto a abri-los, Sabina ainda tem a expressão assustada no rosto. Merda! Eu e Bailey nos viramos.

— Pai?

— Me digam agora.

— E-eu... — o rapaz ao meu lado tenta dizer algo mas nada sai.

— Sina, você já se atrasou antes e não me comunicou?

— Sim. — abaixo a cabeça.

— Por que fez isso?

— Eu irei ser sincera. Na primeira vez eu realmente esqueci de te avisar e pedi ao Bailey para não dizer. Nessa tive receio. Sei que ir ver uma banda no aeroporto não é uma desculpa válida.

— Eu agradeço que tenha sido sincera.

— Matt, você foi o único que me ajudou quando eu mais precisei. Eu sinto muito por ter omitido e mentido.

— Aceito as desculpas, mas regras são regras.

— O que quer dizer? — pergunta Sabina.

— Sina, você está demitida.

Não, isso não pode estar acontecendo. Ele sabe o que eu passei. Preciso muito desse emprego para manter a mim e a minha filha. E também, gosto de ser garçonete. Tem que ser uma pegadinha. Todos ficam chocados diante disso.

— O que? — dizemos em uníssono.

— E Bailey ocupará seu lugar.

— Oi? — o filipino fica boquiaberto.

— Por favor, não faça isso.

— Infelizmente não posso abrir exceção para você. Seria injusto com os outros.

— Eu e Shaz não nos importamos. — Sabi diz angustiada.

— Eu já tomei minha decisão.

— Não pode despedi-la, pai.

— Espero que dê tudo certo para você, querida.

Põe a mão em meu ombro e dá um meio sorriso. Minha visão fica embaçada devido às lágrimas. Olho brevemente para Lele que estava um pouco assustada. Eu não posso chorar, tenho que ser forte. Matt sai me deixando desolada. Bailey vem até mim.

— Olha, Sininho...

— É Sina para você, seu idiota! — grito. — Tem noção do que fez? Nunca foi um amigo de verdade. Nunca se importou realmente comigo. É sempre você, Bailey. Parece que se não tiver a atenção que quer, vai morrer. O mundo não gira ao seu redor. E eu espero que quando for perceber isso não seja tarde demais.

— Sina... — tenta colocar a mão sobre meu ombro mas eu não permito.

— Não me toca! Aliás, não volte a falar comigo.

Pego a mão da minha filha e saio o mais rápido que posso dali. Eu nunca poderia imaginar que esse dia chegaria. Prometi que seria uma excelente funcionária, que não o decepcionaria, faria qualquer coisa pelo emprego, mas tudo foi por água abaixo.

No final das contas, meu ex tinha razão. Eu sou um lixo.

UNEXPECTED LOVE ↯ noart [parte um]Onde histórias criam vida. Descubra agora