A verdadeira história de Ambar

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Sharon Benson

O avião pousa em solo argentino e eu me sinto novamente em casa. Tinha quase uma década que eu não voltava ao meu pais natal e, mesmo que as circunstancias não sejam as melhores, eu estava feliz por estar de volta em casa.

O motorista enviado por meu pai me espera na área de desembarque e ele me guia ate o carro para enfim me levar para casa. Inevitavelmente, ele passa na frente do orfanato em que Ambar morou e eu sorrio com as lembranças.

Ainda posso vê-la pequena, assustada e linda encolhida em um cantinho. Não tinha uma semana que ela estava ali mais já tinha sofrido mais do que muita gente nessa vida. Quando ela confiou em mim e disse que estava com fome e que as outras crianças roubavam e derrubavam sua comida, eu não hesitei em tirá-la dali.

A parte mais difícil foi convencer a Josh, que alegava que não queria filhos pois gostava da autonomia de nossa vida sempre itinerante mas, ao ver Ambar sorrindo para mim ao me ver alguns dias depois do nosso primeiro encontro, ele simplesmente se apaixonou. Josh pregava para os quatro ventos e para todos que queriam ouvir que Ambar era filha biológica nossa e que nem o tipo sanguíneo dela poderia negar. Realmente, o sangue B- e os olhos azuis acinzentados de Josh e os cabelos dourados como os meus a fazia uma perfeita cópia.

Durante o processo de adoção não quisemos entrar a fundo na história de Ambar. Saber que ela não tinha sido vitima de abuso sexual e psicológico já era o suficiente para nós e tudo o que importava era tirar ela o mais rápido possível daquele orfanato para levá-la para nossa casa e quando enfim pudemos fazer isso e dar a ela nosso sobrenome, foi o dia mais feliz de nossas vidas.

Ambar se adaptou muito bem a nossa vida e a nossa rotina. Ela e Luna se tornaram melhores amigas em poucas horas e sempre estavam juntas, inclusive na hora de dormir. Pedro sempre foi meio arisco mais Ambar o conquistou fácil e logo ele estava movendo céus e terras para proteger a prima. Conforme Luna ia crescendo, começamos a enxergar semelhanças entre ela e Pedro e os dois concordaram em fazer um exame de compatibilidade genética que indicou que eles eram irmãos. Ambar ficou tão feliz por Luna ser oficialmente uma Benson que chorou agarrada com os primos que estavam no mesmo estado.

Ambar era tudo o que nossa família sempre precisou: alegre, espontânea, perfeita e todos os dias eram maravilhosos só por a vermos sorrir.

Só que não esperávamos encontrar Silvana Meirelles na nossa porta. Silvana se apresentou como a mãe biológica de Ambar e exigiu que devolvêssemos Ambar para ela. Josh e eu negamos veementes e dissemos que isso só iria ser resolvido em um tribunal, o que a fez recuar. Então, precisamos ir atrás da história de Ambar e descobrimos apenas coisas ruins. Seu pai biológico morreu em um suspeito acidente e sua mãe a abandonou em um orfanato menos de quarenta e oito horas depois. Procuramos a família biológica que afirmou que não tinham interesse nela e que abriam mão de qualquer direito sobre a guarda dela que tinham.

Eu e Josh confrontamos Silvana e dissemos tudo o que descobrimos, o que fez Silvana rir e contar a verdadeira razão pela qual precisava de Ambar: Fernando, o pai biológico de Ambar, deixou toda a fortuna da família para ela e Silvana estava na sarjeta sem um único centavo. Ameaçamos Silvana e ela apenas afirmou que descobriríamos que ela não estava de brincadeira, o que nos assustou. A confirmação de suas ameaças veio menos de um mês depois, com o avião de Josh caiu e ele morreu carbonizado. Eu me senti completamente despedaçada e a única coisa que ainda me mantia viva era Ambar. Eu me sentia como se estivesse pisando em ovos e cedi a ameaça de Silvana que apenas pediu para que eu lhe pagasse uma certa quantia até Ambar ter idade o suficiente para renunciar a sua herança.

Quando Ambar teve seu primeiro surto de rebeldia adolescente, eu a coloquei em um castigo até completar dezoito anos e ela cumpriu fielmente. Já tinha quase quatro anos que Josh tinha morrido quando eu sofri um atentado junto de meu pai. Eu sabia quase que imediatamente que aquilo era uma armadilha de Silvana para ter acesso a Ambar e tomei uma decisão: iria embora para Boston a fazendo acreditar que Ambar estava comigo e passaria a guarda legal de Ambar para Pedro.

Ambar nunca soube entender os motivos para que eu a deixasse sozinha em Buenos Aires e eu cheguei a acreditar que ela até me odiava, até o dia em que ela me ligou desolada e me contou que estava grávida de Simon. Não pensei duas vezes em falar para ela ir para Madrid e eu ir atrás dela. Creio que tenha sido nesse momento em que Silvana descobriu aonde ela realmente estava. Nos separamos novamente quando Tom tinha dois anos e eu precisei voltar a Boston para cuidar da empresa mais precisei largar tudo novamente ao saber que Silvana estava chegando cada vez mais perto da minha filha e do meu neto porque precisava proteger o que eu mais tenho de precioso nessa vida.

O motorista para na porta de casa e eu percebo que fiquei o resto do trajeto inteiro me lembrando do passado. Desço do carro e agradeço a ele que sorri gentilmente enquanto carrega minhas malas. Pelos carros na entrada, sei que todos estão ai inclusive minha filha.

Caminho a passos lentos em direção a porta e, quando a ultrapasso, caminho seguindo as vozes agitadas. Quando entro no campo de visão deles, todos param e me olham sorrindo mais existe alguém que toma a iniciativa.

- VOVÓ! – Tom corre ate mim e eu me abaixo abrindo os braços e o recebendo em um dos melhores abraços do mundo. – Senti tantas saudades.

- Eu também senti meu Amor. – Falo carinhosamente.

- Sabia que eu tenho um Papai? – Ele me diz animado.

- Sei, sua mãe me contou. – Me levanto com ele nos meus braços e caminho para dentro da sala.

- Sharon, querida. – Meu pai me abraça fortemente junto de Tom e beija minha bochecha. – Senti tantas saudades.

- Eu também Papai. – Falo olhando ao redor e vendo Luna, Matteo, Delfina, Pedro, Miguel, Monica, Simon e a minha filha ali. – Senti saudades de todos.

Solto Tom no chão e ele corre para Simon. Não vejo Ambar se aproximar mais sinto quando ela me abraça forte.

- Nunca mais me deixa. – Ela me pede em um sussurro.

- Nunca. – Digo me afastando e beijando sua testa antes de volta-la a abraçar.

Where Do Broken Hearts Go - Prove You Wrong 2Onde histórias criam vida. Descubra agora