Lavando roupa suja

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Simon Alvarez.

Quando desembarco em Madrid acompanhado dos meus amigos, que depois de descobrir o que eu ia fazer resolveram me acompanhar, eu sinto meu coração bater acelerado e o oxigênio faltar nos meus pulmões.

Eu estava aqui.

Ela estava aqui.

- Qual o plano? – Ramiro me pergunta. – A gente vai simplesmente aparecer na casa dela e dizer "Surpresa"?

- Ela mandaria a gente ir se foder antes de tudo. – Matteo diz. – Eu tenho o endereço dela. O que faremos agora é com você.

- Eu farei isso sozinho garotos. – Respiro fundo. – Preciso ter essa conversa com ela sozinho.

- Seja sensato. – Matteo diz e sai andando até a esteira de baguagens.

Pegamos nossas malas e caminhamos ate a van que nos espera. O motorista deixa cada um respectivamente em sua casa e eu entro na enorme mansão que é minha pelos próximos seis meses.

Caminho pelos cômodos e, em algum momento, começo a imaginar Ambar e Thomas ali comigo. Respiro fundo e engulo as expectativas. Já será mais do que o suficiente se Ambar me perdoar e me amar ainda.

A verdade é que tento me distrair para evitar a vontade louca de ir ate a casa dela ainda hoje. Sei que estou de cabeça quente e que provavelmente farei alguma besteira mais eu não posso engolir toda a frustração que está alocada em meu peito.

Tento dormir mais o fato de aqui ter três horas a mais do que Buenos Aires não me ajuda. Olho no relógio pela milésima vez e vejo que não passa das dez da noite.

Então eu decido fazer aquilo que estou adiando.

Me levanto e me troco rapidamente, pegando as chaves da casa e do carro disponibilizado para mim e vou em direção ao endereço que Matteo me passou. Passo a portaria do pequeno prédio sem precisar dar explicações e subo ate o quarto andar em um elevador que está quase morto. Caminho em direção ao apartamento 4ª e toco a campainha. Já é quase meia noite e eu posso ouvir os passos dela ate a porta.

Quando Ambar abre a porta eu não consigo decifrar sua expressão. Ela parece assustada e surpresa e respira fundo diversas vezes.

- Peixinha... – Sussurro

Ambar sai de trás da porta e me abraça forte e eu a correspondo na mesma intensidade. Ficamos alguns minutos assim ate ela se afastar e começar a me tocar como se certificasse de que eu sou real.

- Você está aqui. – Ela fala sorrindo. – Entre, por favor.

Ela me puxa para dentro do apartamento que daria ¼ da casa aonde estou hospedado e me guia ate a sala me indicando para sentar.

- Quer água, café? – Ela me pergunta e sorri. – Desculpe não possuo uma cozinha equipada para a visitar de um popstar.

- Então você esteve aqui os últimos cinco anos? – Pergunto sem fazer cerimônias e vejo o sorriso dela se desmanchar.

- Olha Simon... – Ela começa mais eu a interrompo.

- Esteve ou não esteve? – Pergunto grosso e ela apenas assente. – Como você pode Ambar? EU TE PROCUREI NO MUNDO INTEIRO.

- Fala baixo Simon, por favor. – Ela me pede mais eu ignoro.

- VOCÊ TEM NOÇÃO DO QUANTO FOI DIFICIL FICAR ESSES CINCO ANOS SEM VOCÊ, SEM NOTICIAS SUAS OU DO MEU FILHO? – Ambar me olha assustada e seus olhos estão marejados.

- Então você sabe que temos um filho? – Ela pergunta.

- PORRA AMBAR! CLARO QUE SEI! DESCOBRI QUANDO FUI PEDIR PERDÃO PRA VOCÊ E VOCÊ TINHA IDO EMBORA DEIXANDO PRA TRAS O TESTE E A CARTA DE ADMISSÃO NA UNA. – Me levanto e começo a caminhar pela sala. – Por que você não me esperou?

- Porque eu não sabia o que estava acontecendo! – Ela diz e seca as lágrimas que caíram. – Você só me chutou e disse que não queria mais me ver. Queria que eu fizesse o que? Ficasse sofrendo até esperar a sua boa vontade de se abrir e contar pra mim? – Ela se levanta e me encara. – Eu só fiquei sabendo o que aconteceu quando Delfi me contou.

- Isso é outro fodido assunto que precisamos falar. – Eu a olho com raiva. – Como todos sabiam sobre você, sobre o meu filho e eu não? QUE PORRA FOI ESSA AMBAR?

- ESSA FUI EU TENTANDO DEIXAR VOCÊ LIVRE! – Ela me diz e empurra meu peito.

- EU NÃO QUERIA SER LIVRE! – Eu seguro seus braços e a faço olhar pra mim. – EU QUERIA VOCÊ!

- Queria? – Ambar me olha como se tivesse medo de ter me perdido.

- Quero. E muito ainda. – Falo e ela olha pra baixo.

- Eu fui a um show seu aqui na cidade ha uns anos atrás. – Ela engole seco e se aproxima. – Estava determinada a conversar com você. – Ela olha nos meus olhos. – Mais eu te vi tão feliz e pleno em cima do palco enquanto cantava a sua musica que eu perdi a coragem. Não poderia te contar que tínhamos um filho e atrapalhar sua carreira.

- Vocês nunca iam me atrapalhar. – Falo enquanto seguro seu rosto e Ambar me abraça.

- Me perdoa. – Ela pede chorando. – Por favor.

- Não tem nada a perdoar Ambar. Alias quem tem que me perdoar é você por todo sofrimento. – Falo a afastando e a olhando.

- Eu já te perdoei tem tempo Simon. – Ela sorri. – Porque eu teria tomado a mesma decisão se fosse Pedro ou Luna no lugar de Delfi.

- Por falar em Luna...

- Eu já falei pra ela que não tem necessidade de ficar complicando a sua vida. – Ambar ri e seca as ultimas lágrimas de seu rosto.

Então eu admiro. Ambar está muito mais bonita do que antes. Seus olhos azuis quase cinza continuam o mesmo e seu cabelo loiro está na altura dos ombros.

- Emma foi morta. – Digo num suspiro e Ambar respira aliviada.

- Como? – Ela pergunta.

- Ela tentou ter um relacionamento abusivo com outra detenta que não aceitou e simplesmente a matou. – Falo. Ainda me lembro da ligação do meu advogado contando.

- Senti sua falta. – Ela confessa.

- Senti sua falta, Peixinha, todos os dias dos últimos cinco anos. – Eu confesso. – E eu estou pronto para não te perder de vista nunca mais.

- Saia da minha casa. – A voz de criança faz com que eu e Ambar nos afastemos e observamos nosso filho. – Você gritou com a minha mãe e a fez chorar. Vai embora. – Thomas possui o tom de voz firme.

- Thomas Michael. – Ambar o repreende. – Respeite seu pai.

- Eu me recuso a te-lo como pai. – Ele se aproxima de nós dois e puxa Ambar para longe de mim. – Ele te fez chorar e gritou com você mamãe! Ninguém nesse mundo tem direito de fazer isso!

- Tom. – Ambar o olha com carinho.

- SAIA DA MINHA CASA! – Tom grita pra mim e eu me assusto. – EU QUERO VOCÊ FORA E LONGE DE MIM E DA MINHA MÃE! VOCÊ NÃO É O MEU PAI! - Ele enche o peito para dizer tudo isso. – EU NÃO TENHO PAI.

Então meu mundo desmorona. Meu próprio filho se negava a me aceitar como pai. Me senti um merda. Olhei para Ambar uma ultima vez e sai de sua casa pisando firme.

Não pretendia voltar ali nunca mais.

Where Do Broken Hearts Go - Prove You Wrong 2Onde histórias criam vida. Descubra agora