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A noite trouxe o silêncio e a escuridão que Mikoto nunca vira em uma cidade grande, era bem mais assustador que as noites em Iruka, cujo silêncio era constantemente quebrado pelo rugir suave das ondas ou o vento ao longe.

Apoiada na amurada do navio, com o queixo sobre a mão, a jovem cochilava para acordar sobressaltada logo em seguida. Já devia ser madrugada, e ela não era acostumada a ficar acordada até tão tarde. Em total contraste, Takako e Sayuri estavam completamente acordadas, no píer, atentas a qualquer movimento e ruído.

Outros tripulantes, incluindo Yukio e Kurono, também procuravam, espalhados pelo porto e ruas, sem nenhum sinal de anormalidade.

Mikoto reprimiu o décimo bocejo dos últimos cinco minutos e estava prestes a pedir para se retirar e dormir quando pensou ter visto algo no céu. Julgou ser uma ilusão de ótica causada pelo sono e pelo escuro, e esfregou os olhos, mas quando os abriu, ainda estava ali, e se elevava acima dos prédios.

-- Gente, olhem ali! – ela apontou. Takako e Sayuri ofegaram.

-- O que é aquilo?

O capitão trouxe um par de binóculos e a mais velha apontou-os para a figura voadora.

-- Aquilo com certeza é um youkai. E acho que tem uma pessoa em cima dele! Montada nele!

-- O quê? – Sayuri pegou os binóculos e olhou por eles também – Que diabos? Aquilo tem várias caudas! Eles parecem ir para o leste.

-- Para o país de Aka – o capitão esclareceu.

-- É a Yasha? – Mikoto pensou alto, sem tirar os olhos da figura que diminuía enquanto se distanciava.

-- Se for, por que está indo para o país que ela quer atacar? – Takako cruzou os braços. Sayuri pensou um pouco e sugeriu:

-- Talvez ela vá na frente para desestabilizar as defesas dele, facilitando a invasão.

Takako massageou o topo no nariz e disse, cansada:

-- Sayuri, se você estudasse com a mesma disposição que lê mangás de espionagem, podia ser uma miko melhor do que eu.

-- Nós vamos atrás dela? – perguntou Mikoto.

-- Não sabemos se é ela mesmo, temos que esperar amanhecer para confirmar se Yasha ainda está com o rei Ayahito. De qualquer forma, não podemos persegui-la de navio, e ainda por cima no escuro. É melhor que todos descansem.

Aquilo era música para os ouvidos de Mikoto. Ela imediatamente foi para a cabine e deixou-se cair na cama, onde não levou dois minutos para adormecer.

Teve um estranho sonho naquela noite, no qual Yasha entrava num grande salão e se cercava de monstros, diante de uma pequena plateia espantada.

De manhã, ainda cansada pelas poucas horas de sono, Mikoto voltou ao palácio governamental e encontrou Shin entrando num carro preto luxuoso. Ele ficou bastante surpreso ao vê-la chegar correndo e perguntar, ofegante:

-- Shin, onde está a Yasha?

-- O quê? Não sei...

-- Ela ainda está lá dentro? Sabe se ela saiu?

-- Sim, ontem à noite ela saiu. De vez em quando ela faz uns retiros para meditação ou algo do gênero, e fica fora por poucos dias. Por quê?

-- Nós temos uma teoria. Obrigada pela ajuda.

Com a confirmação da saída de Yasha, as miko decidiram ir para Aka.

-- Como podemos ir de navio? – Sayuri mordeu o lábio.

O Conto da Donzela do SantuárioOnde histórias criam vida. Descubra agora