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A ideia de Ikari de montar uma barricada com os móveis do laboratório era boa, mas se provou eficiente apenas nos primeiros minutos. Depois que a primeira leva de youkai só conseguiu escalá-la para ser alvejada de surpresa por Yukio, um mujina do tamanho de um tanque de guerra e a partiu ao meio com um só golpe.

-- Haku? – Yukio olhou nervoso por cima do ombro, e o menino balançou negativamente a cabeça. As três garotas ainda não tinham acordado.

Com o caminho aberto pelo mujina, os outros youkai avençaram contra Yukio, Ame e Ikari. O gato lançou bolas de fogo contra os primeiros tanukis a atacar e depois passou a usar as garras para retalhá-los. Yukio descarregou suas pistolas e lançou mão do cassetete, enquanto Ame golpeava o que estivesse ao alcance de seus punhos.

Os guaxinins, gatos e doninhas não demoraram a cair, o maior problema foi quando o texugo gigante partiu para a briga também. Ame saltou sobre ele e o escalou da mesma forma que Haku fizera com o oni e esmurrou sua cabeça.

O mujina reagiu acertando-o com uma patada que o jogou dois metros para longe. Ikari pulou em seu focinho e arranhou seu rosto com uma selvageria que o derrubou de costas. E uma vez com ele derrubado, o nekomata pôde atacar-lhe a jugular tranquilamente.

Yukio tentava ainda conter o nojo quando o mujina parou de se mover e o gato saiu de cima dele.

-- Pobres criaturas deploráveis. Nada mais que marionetes da vontade de Yasha – ele se transformou em humano novamente, a boca e o queixo ainda sujos de sangue, e gritou para Haku ouvi-lo à distância – Alguma reação delas?

-- Nada ainda.

-- Ótimo.

Uma lâmina se projetou do peito de Ikari. Ele tossiu sangue e desabou, de volta à forma original felina, morto, e Yasha limpou a tanto em seus pelos. Ela estava suja, quase inteiramente coberta de poeira, fuligem e o que pareciam fragmentos de ossos polvilhavam seus cabelos e roupas.

-- Onde está minha irmãzinha? – Yasha falava com uma raiva mal contida, os olhos faiscantes.

-- Você não vai chegar perto de Mikoto, nem de nenhuma delas – Yukio recarregou as pistolas, e mesmo em estado debilitado, Haku postou-se em frente às três com os punhos erguidos. Yasha revirou os olhos para as patéticas demonstrações de coragem.

-- Um movimento e eu atiro! – Yukio mirou nela ameaçadoramente ao nota-la erguer a lâmina.

Yasha se retesou. Podia desprezar aquele humano, mas também sabia que não era à prova de balas, então baixou a tanto devagar, sob os olhares vigilantes de Yukio e os dois meninos guarda-costas.

E três tengus sob seu comando sobrevoaram a barricada e se jogaram contra os rapazes antes que pudessem reagir. A arma de Yukio caiu de sua mão e escorregou para longe quando ele foi derrubado, após um tiro falho e o gnomo vermelho segurou seus braços contra o chão enquanto Yasha passava calmamente a seu lado.

Haku, ferido, e Ame, distante e pego de surpresa, não estavam em situação melhor. A mulher olhou para cada um com um sorriso de superioridade.

-- Agora, se me derem licença, eu tenho um trabalho para terminar.

Ela girou nos calcanhares, voltou-se na direção de Mikoto, e mergulhou no chão, desviando por um triz de um raio. Yasha olhou para frente estupefata, Mikoto se erguia diante dela, a naginata em uma mão e um ofuda com o kami de "raio" na outra.

-- Mikoto! – Haku não conteve a exclamação, temporariamente esquecido do tengu em cima de suas costas.

-- Nós duas também estamos bem. Obrigada pela preocupação – atrás dela, Sayuri balançou o suzu, e o som tilintante dos guizos foi o bastante para os tengus se encolherem assustados.

O Conto da Donzela do SantuárioOnde histórias criam vida. Descubra agora