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-- É um bombardeio! – Sayuri gritou. Aviões despejavam mísseis sobre os prédios do centro da cidade, que explodiam amarelo vivo antes de se desfazer como castelos de areia.

Mikoto tirou o pijama e vestiu o quimono mais rápido que já se trocara na vida. Takako e Sayuri nem se deram ao trabalho de mudar de roupa, simplesmente saíram do quarto, e toda a equipe de segurança já se encontrava no corredor.

-- Vamos sair daqui. Fiquem todos juntos! – Kurono gritou por cima das explosões.

Aquele bairro aparentemente ainda não fora alvejado, mas dava para ver o brilho do fogo ao longe, e os estrondos que não paravam podiam ser ouvidos a quilômetros de distância, e o chão tremia como um terremoto.

-- Por aqui! – Yukio apontava para uma rua para onde várias pessoas corriam.

Kurono não parava de gritar para que ninguém se afastasse, sua voz o tempo inteiro abafada pelo barulho das bombas ou dos motores dos aviões voando baixo.

Um estrondo derrubou o prédio ao lado do grupo, e a queda levantou uma nuvem de poeira sobre toda a rua.

Mikoto se encolheu e cobriu o nariz e a boca, tossindo sem enxergar nada e agarrada à naginata com toda a força. Ouviu as vozes alteradas de Kurono, Yukio, Takako e Sayuri chamando uns pelos outros e por ela, mas não sabia dizer de onde vinham, e começou a andar com uma mão estendida, como uma sonâmbula.

Outra explosão e Mikoto se desequilibrou com o tremor do chão e caiu. Agora não tinha nenhuma noção de onde os outros estavam, e só ouvia suas vozes se distanciando mais ainda.

Ela ficou de pé num salto e correu, chamando por eles, e percebeu um pouco tarde demais que fora na direção errada. Quando parou de correr e a poeira baixou, Mikoto estava parada no meio de uma rua vazia desconhecida.

Outra explosão, mais longe dessa vez. Devia tentar voltar pelo mesmo caminho que viera, mas também não tinha certeza de qual era o caminho, fizera algumas curvas e perdera a noção de direção quando caíra.

Os aviões passaram acima dela, o barulho dos motores feriu seus ouvidos e ela se preparou para mais uma bomba, mas dessa vez não veio nenhuma. O som dos aviões também desapareceu, eles foram embora. Mikoto suspirou aliviada, pelo menos não haveria mais destruição.

Mas a cidade ainda estava um caos. Mikoto seguiu os gritos e o cheiro da fumaça até o centro, onde o caos verdadeiramente imperava: prédios que não desmoronaram estavam em chamas, pessoas corriam gritando pela rua e os bombeiros e a polícia não davam conta.

A naginata que Mikoto trazia não tinha utilidade nenhuma agora, mas o celular sim. Ela tateou os bolsos, vazios, e se lembrou que ele ficara na mesa de cabeceira.

-- Droga!

-- Socorro – uma vozinha fraca veio do chão. Um menino sentado na calçada, em meio aos escombros de um edifício – Não acho minha casa.

-- Ei, você não pode ficar aqui, é perigoso – Mikoto falou suavemente e o puxou pela mão. Ele se soltou.

-- Não posso ir embora. Minha mãe e meu pai não vão saber para onde eu fui.

-- Você pode se encontrar com eles depois – Mikoto viu um policial na esquina e acenou para chama-lo, indicando a criança. O homem veio correndo e se prontificou a leva-lo.

-- Saia daqui você também, todos estão sendo evacuados para o distrito oeste – ele avisou antes de sair com o menino.

A jovem seguiu as indicações dos policiais nas ruas, que orientavam as pessoas. Talvez Sayuri, Takako e os outros estivessem lá também.

O Conto da Donzela do SantuárioOnde histórias criam vida. Descubra agora