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Eram tantos que mesmo à distância não era possível mensurar a quantidade, em uma visão terrível da qual Mikoto não conseguia desviar o olhar. Havia toda a sorte de criaturas ali, desde os já vistos bakenekos, tanukis e mujinas, a outros totalmente novos, como onis de pele vermelha e duas vezes o tamanho de um homem adulto.

Um movimento abaixo de Mikoto desviou sua atenção de volta para Yasha, que não estava mais na escadaria.

-- Tchau, Mikoto. Nos veremos logo, logo – a voz dela veio de cima. Ela estava montada na mesma raposa branca de cinco caudas do Santuário Vermelho. A kuko flutuava como se ela e a mulher em suas costas não pesasse nada, e com um movimento das caudas, voou para longe.

Seu corpo tremeu de raiva por vê-la ir embora de novo sem que pudesse fazer nada, mas precisou suprimir esse sentimento para descer correndo as escadarias.

-- Espere, Mikoto! É muito perigoso! – Haku vinha atrás dela. A menina o ignorou e continuou a descer três degraus por vez.

Todas as casas do clã estavam em chamas, tendo as paredes derrubadas e os tetos arrancados por nues, kamaitachis e tengus. Mikoto avançou contra o youkai mais próximo, um oni de quase dois metros de altura, um chifre negro no meio da testa e armado com um porrete maior do que ela.

A lâmina da naginata perfurou as costas do ogro vermelho, que num salto virou-se, os olhos faiscantes de raiva. Aparentemente o golpe não adiantara para nada além de irritá-lo, e ele desceu o porrete sobre Mikoto.

Haku pulou na frente dela, segurou o porrete com uma mão e empurrou de volta com tanta força que o oni perdeu o equilíbrio e caiu sentado. O rapaz escalou o peito do demônio num salto, subiu em seus ombros e arrancou o chifre de sua testa. Ignorando os urros furiosos do monstro, que já estava novamente de pé e erguia de novo o porrete, cravou o chifre entre seus olhos.

O ogro pendeu para frente. Haku pulou e aterrissou ao lado de uma Mikoto boquiaberta.

-- O que foi?

-- Isso foi incrível. Você pode matar youkai sozinho. Vamos, me ajude.

O clã Kairiku resistia bem, enquanto os homens transformavam qualquer objeto à mão numa arma, as mulheres conjuravam kami contra os monstros, que hesitavam em continuar a atacar e até recuavam.

Mas o resto da cidade não tinha a mesma sorte. Os youkai recuavam, mas permaneciam próximos das casas do clã, isolando os membros ali para que outros continuassem a atacar outras áreas.

-- Por ali, depressa! – Mikoto chamou Haku e correu para longe da montanha.

Na rua, uma mulher com um menininho no colo fugia de uma doninha voadora com navalhas nas patas. Mikoto se pôs na frente do Kamaitachi e deu uma estocada com a naginata. As duas lâminas se chocaram com um cling.

A doninha recuou, os lábios arreganhados com ferocidade, e avançou de novo.

Mikoto se abaixou, e quando ela passou por cima de sua cabeça, enfiou a lâmina no seu peito. O youkai guinchou antes de cair no asfalto.

A mulher, ainda agarrada ao menino, ofegava apavorada, desviou o olhar do youkai morto a seus pés para Mikoto, detendo-se por um momento em sua pérola.

-- Onde você estava?! Como deixou isso acontecer?!

Mikoto abriu a boca, mas não conseguiu produzir nenhum som. Um estrondo a sobressaltou e ela olhou por cima do ombro para ver um mujina derrubar um poste, e a lâmpada no alto dele se estilhaçar numa chuva de vidro e faíscas.

Quando virou-se de novo, a mulher tinha desaparecido.

-- Haku, vamos, temos trabalho a fazer.

Os youkai se dirigiam ao centro da cidade, devastando tudo em seu caminho. Mikoto e Haku passaram por semáforos destruídos, carros reduzidos a tiras de metal e pessoas fugindo em desespero por toda parte. A polícia mal conseguia conter os youkai.

O Conto da Donzela do SantuárioOnde histórias criam vida. Descubra agora