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Ao nascer do sol, Mikoto ainda não tinha se mexido, continuava sentada na areia, abraçada aos joelhos e encarando o horizonte com os olhos estáticos. Sequer dormira, com medo de ter um sonho profético que mostrasse algo que tinha medo de saber.

Os restos da fogueira que Haku acendera fumegavam às suas costas, e o menino examinava o terreno ao redor, a naginata em mãos, embora não soubesse manejá-la.

A jovem teve a impressão de que amanheceu rápido demais, ou talvez ela estivesse em choque e não percebera o tempo avançando. Esperava que a luz do sol revelasse uma visão dos botes salva-vidas, trazendo Takako, Sayuri, Yukio e todos os tripulantes sãos e salvos, mas só o que o dia trouxe foi um mar completamente vazio.

Ela tateou o bolso atrás de seu último recurso. O celular milagrosamente não tinha pifado mesmo em contato com a água, mas quando tentou telefonar para o Sayuri e Takako, não obteve sinal, e ele também não tocou. É claro, estava no meio do nada, bem como elas.

-- Mikoto – Haku segurou seu ombro – É melhor irmos...

Ela afastou a mão dele rispidamente, ficou de pé e virou-se para encará-lo, os olhos faiscantes de raiva.

-- Por que você fez aquilo?!

-- Eu não sei, foi aquela força, tomou conta de mim. Eu de repente sabia que não dava tempo de ir para os botes.

-- Então por que não falou nada?! – agora Mikoto estava gritando, e Haku recuou, assustado – Por que ficou quieto e salvou só a mim...?

Os soluços interromperam a frase e ela caiu de joelhos, encolhida. Parecia que seu coração ia se partir em dois.

Haku encarou os próprios pés enquanto a ouvia chorar.

-- Devia ter sido eu, não elas. Takako e Sayuri que mereciam ter sido salvas...

-- Não diga isso.

Mikoto ergueu a cabeça. Haku olhava para ela com uma expressão severa.

-- Não diga que não merecia viver, e não me peça para te deixar e salvar outra pessoa, porque eu não posso. Quando essa vontade aparece, sinto que posso resistir, mas não quero, porque ela aparece quando você é quem mais precisa. Não outra pessoa, apenas você.

"Então não me peça para te abandonar e te deixar morrer. Você foi a primeira pessoa que eu conheci, a pessoa que me fez ser alguém. Não me peça mais para ficar longe, porque eu não posso. Porque dói quando não estou contigo".

Agora Haku olhava para ela suplicante. Mikoto não sabia o que responder, e com um suspiro olhou de novo para o mar.

-- Certo. Alguma ideia de onde estamos?

-- Talvez seja a última ilha.

Se era, não merecia esse título, aquilo era menos que uma ilhota, feita somente de uma enorme rocha de dez metros de altura encravada na areia, com uma parca vegetação crescendo no meio das pedras.

-- Vamos procurar por algo que possamos usar para sair daqui – Haku estendeu a naginata, que Mikoto recebeu sem muita escolha.

Caminhando ao longo da praia, os dois encontraram uma reentrância natural na rocha, que ocultava uma estranha construção.

Portas duplas de aparência pesada, que deviam ter sido brancas, mas agora eram cinzentas. Um ofuda fora colado acima delas, claramente há muito tempo, a julgar pelos cantos desgastados e a inscrição quase ilegível de tão apagada: fronteira.

-- Isso é o que eu penso que é? – Mikoto ficou boquiaberta.

-- É exatamente o que você pensa que é.

O Conto da Donzela do SantuárioOnde histórias criam vida. Descubra agora