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Yasha não entendia o que dera errado, tivera certeza de mergulhar bem fundo no inconsciente de Mikoto e o remodelar para que não houvesse nada além do comando de obedecê-la. Como ela poderia ainda ter consciência para chorar e resistir a uma ordem sua?

E por que a pérola ainda brilhava? Não fazia sentido, Mikoto não estava usando nenhum poder sagrado. Sequer podia tirar o colar dela porque a pedra e brilhava esquentava insuportavelmente à mera aproximação de seus dedos.

De qualquer forma, a pérola não tem influência nenhuma no que me interessa agora.

Novamente Yasha segurou a cabeça de Mikoto e fechou os olhos.

Logo estava afundando dentro da parte mais oculta e íntima da psique da menina, e imediatamente percebeu que algo não estava certo.

Ali dentro estava completamente vazio, como ela deixara há meia hora, mas havia algo mais. Um pedacinho de Mikoto que de alguma forma ela deixara passar ainda permanecia ali, não mais que um fragmento de consciência que ficara para trás, mas que fora a causa da falha em matar as duas do clã Kairiku.

Não seria problema apagar aquele grãozinho, e depois Mikoto seria sua leal marionete para sempre.

Ao tentar alcançá-lo, no entanto, foi brutalmente repelida, como uma folha empurrada por uma lufada brusca, e quando tentou forçar a aproximação, sentiu-se queimar. Parecia que sua consciência estava em chamas.

Ela se afastou de Mikoto num salto.

-- O quê... Como? – balbuciou ofegante.

O que diabos fora aquilo? A sensação de queimação era parecida com a de quando aproximara a mão da pérola. Talvez ela realmente tivesse alguma influência afinal. Devia ser removida.

Ouviu um barulho ao longe, ruídos de combate. Não podiam ser as sacerdotisas, elas estavam no chão quando as deixara.

Não podia arriscar que elas interferissem ou que Akumi e Ikari voltassem ao laboratório. Yasha correu para o painel de controle da segurança e liberou todos os youkai do castelo. Isso atrasaria tanto os chefes quanto os intrusos, e daria tempo a ela para terminar o que precisava fazer. Conhecia alguns truques para apagar o que restava de Mikoto.

-- O que faz aqui, Yasha?

O susto passou num átimo ao reconhecer a voz de Ikari.

*

Não foi difícil descobrir o caminho por onde Mikoto viera, havia corpos de youkai mortos por quase todos os corredores por onde passavam, e quando não havia, Ame indicava para onde deviam seguir. Andavam devagar por causa de Haku, que se apoiava no ombro do irmão.

-- Eu o conhecia – Ame apontou para uma kitsune macho de duas caudas, morta em frente a uma porta – Ele me ensinou a me concentrar para conectar nossa mentes.

-- Então Yasha matou aliados também? Por que ela faria isso? – Sayuri pensou alto. Yukio, que andava à frente do grupo, opinou:

-- Talvez não sejam aliados agora. E se Yasha tiver decidido agir por conta própria?

-- Parece provável. Ela voltou-se contra os criadores – Takako concordou – Ter uma miko a seu lado garantiria o poder para isso.

Todos se retesaram quando um gato de pelos cor de fogo passou correndo por eles, mas lhes lançou apenas um rápido olhar antes de seguir em frente sem diminuir a velocidade.

-- Se um bakeneko nos ignorou, é porque tem algo acontecendo que é mais grave que uma invasão – Ame murmurou – Ele estava indo na direção do laboratório.

O Conto da Donzela do SantuárioOnde histórias criam vida. Descubra agora