005 - Duas Estrelas

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As brilhantes figuras que fulguras
nesse puro semblante imaculado
trazem-me alento; sinto-me sagrado
por tamanha leveza e por ternuras.

Despejas ternos brilhos às escuras
noites gélidas sobre o meu mofado
e tenro peito e queima-o! Já viciado
estou nesse candor de belezuras!

E quando eu sinto o peso do teu brilho
comprimindo minha alma, livre trilho
em pistas siderais. Como esquecê-las?

Impossível perder tais céus tranquilos
clareados pelos sóis dos teus pupilos
pois os teus olhos são duas estrelas!

Gustavo Valério Ferreira
18/03/2020


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            O soneto acima é composto por versos isométricos de 10 sílabas, tal como pode conferir na escansão.

Recursos comuns foram usados nele:

            Versos heróicos: Tônicas fixas na 6ª e na 10ª sílabas nos versos 3, 5, 7, 9, 11, 13 e 14.
Os outros versos possuem tônicas fixas na 3ª, 6ª e 10ª sílabas, sendo portanto classificados como Martelos Agalopados.

            Depois das explicações dadas nos poemas anteriores, nem preciso comentar sobre o uso da sinérese nos versos 7 (vi.ci:a.do) e 13 (cla.re:a.dos), onde os hiatos foram desfeitos para ajustes métricos. Também acredito que não preciso falar sobre  as assonâncias e aliterações, que estão sempre presentes na maioria dos poemas, principalmente de poetas simbolistas. Nos meus sempre faço uso tanto das assonâncias (repetição de fonemas vocálicos idênticos no mesmo verso), como também da aliteração (repetição de fonemas consonantais idênticos no mesmo verso).

        Rimas ricas: As rimas ricas são tipos de rimas que pertecem à classes gramaticais diferentes. Elas não são primordiais nos poemas, porém os poetas parnasianos afirmavam que as rimas ricas aumentam a qualidade do poema, pois ao dificultar a forma de rima, o poeta se vê obrigado a reconstruir a estrofe de modo que as orações tenham diversidade de classes gramaticais. 

        Há vários tipos de rimas, a mais usada é a soante, ela recebe esse nome pois soa exatamente igual a seu par a partir da sílaba tônica; Ex: mESA/tritEZA. Não precisam ser grafadas com as mesmas letras, bastam que os fonemas sejam idênticos.

         Feliciano Castilho, em seu tratado de versificação tem uma observação: Ele também considera rima rica verbos rimados porém que tenham distinção de: modo, tempo, número e pessoa ou qualquer um deles. Assim, mesmo a rima entre verbos sendo pobre, Castilho considera que cumprindo um dos requisitos anteriores a rima passa a ter mais valor, pois acrescentou uma dificuldade na criação e uma melhora nos versos. Assim, considerando a opinião de Castilho, as rimas seguintes também seriam ricas ou de alto valor:

está/fará
diz/ouvis
v
igia/cantaria
estivesse/tece
adoçou-se/fosse
disse / subisse

        Ainda dentro do contexto de rima rica, nosso querido Osório Duque-estrada considera também rimas de alto valor aquelas que são soantes e possuam consoantes de apoio. Na visão dele, as seguintes rimas, mesmo pobres, seriam de alto valor:

carro/escarro     |    cidade/felicidade
incerto/certo/decerto/inserto/acerto

        Observe que a primeira rima está contida na segunda, mas não precisa ser, basta que as vogais tônicas de ambas as rimas possuam a mesma consoante antecedendo-a.

        Em meus poemas sempre uso rimas soantes, também chamadas de rimas perfeitas. Vez em quando também faço rimas ricas, no caso do poema acima, as ricas ricas podem ser observadas nos seguintes versos:

Versos 1/4:  fulguras x ternuras  =>  verbo x adjetivo
Versos 5/8:  escuras x belezuras => adjetivo x substantivo
Versos 9/10:  brilho x trilho  => substantivo x verbo
Versos 12/13: tranquilos x pupilos  => adjetivo x substantivo
Versos: 11/14: esquecê-las x estrelas => verbo + pronome x substantivo (rima preciosa)


         Ao meu ver, o poeta não precisa de rimas ricas para mostrar o valor da sua obra, porém é importante fazê-las para manter a obra bem estruturada. O poeta só não pode ficar fissurado em querer fazer rima rica o tempo inteiro ou somente rima rica, pois da mesma forma que a abundância de rimas pobres diminui o valor das orações dentro das estrofes, o vício em fazer rimas ricas o tempo inteiro pode levar o poeta a construir versos confusos. O importante é manter o equilíbrio métrico, ritmico e poético.


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