015 - Emudecimento

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Desapareceu de dentro do peito
o meu coração. O que faço agora?
Emudeço à dor carnal que deflora
a alma em musicais vazios, sem pleito?

Ou descrevo o algoz - meu próprio defeito -
nos ventos finais que levam embora
tudo o que restou? E como quem chora
em silêncio, sangro um verso imperfeito

buscando uma luz ou talvez a morte
- versificação fatal da má sorte -
para energizar o meu esqueleto

Despertando o poeta audaz e ligeiro
que inda sussurrava o fel derradeiro
nas estrofes deste infame soneto!

Gustavo Valério Ferreira
03/04/2020

Observações:

               A partir deste poema, os próximos são uma série de 4 poemas experimentais, onde tentei aplicar neles técnicas antigas de composição, teoricamente populares entre os estoicos. O verso consiste numa redução do alexandrino clássico para 10 sílabas, fazendo a cesura ou pausa maior na quinta sílaba.

              Como as escansões são feitas automaticamente por meio de software, há falhas na detecção desse estilo de compor justamente por ser antigo e não mais utilizado.

               O nome do verso é "estoico", mas também registrado nalguns tratados como "verso ibérico". Sua maior pausa repousa na quinta sílaba, formando dois hemistíquios de cinco sílabas, duas redondilhas menores, que juntas, formam um verso de arte maior decassílabo.

Além deste poema, os 3 seguintes possuem esse metro, então a escansão publicada no escopo do capítulo apresentará diversas falhas oriundas do não reconhecimento das técnicas deste verso pelo software que uso para análises, o Aoidos.

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