019 - Mortos-vivos

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Anoitecendo em vendavais incertos
e sucumbindo aos pesadelos tristes
em vãos lamentos lancinantes vistes
a luz final por entre os céus abertos!

Naquele instante os olhos bem despertos
perante as sendas de álacres palmistes
quiseram compreender, mas desististes
dos tais conhecimentos descobertos!

E assim acomodado e sonolento
perdestes o calor e em fingimento
os vossos olhos criaram novos muros...

E triste descansastes em lamentos
de sonhos matinais sanguinolentos
e a luz final por entre os céus escuros.

Gustavo Valério Ferreira
03/04/2020

Observações:

                Este soneto emprega técnicas mai rebuscadas na versificação, entre elas está o menor uso de sinéreses, a marcação de tônicas favorecendo o ritmo binário, a presença forte dos pés iambicos como também de pêonios de quarta.

              É possível observar, pela escansão, a constância no ritmo, até na leitura é possível perceber a leveza do poema quando lido em voz alta.

             O soneto acima focou também no melhor uso das rimas ricas, como também focou nas aliterações quando pluralizou a maioria dos versos.

            Outra técnica recorrente a partir deste poema é o melhor uso das subtônicas presentes nas palavras; mesmo onde não há uma sílaba tônica para preencher o ritmo, é possível perceber a presença marcante de uma vogal subtônica ali, preenchendo o espaço e dando força à sílaba, melhorando com isso a constância do ritmo.

           Para citar um exemplo claro de subtônica, podemos observar o verso 2, onde o vocábulo anoitecendo, sendo pentassílabo paroxítono, possui uma tônica na sílaba "CEN", que ocupa a quarta posição do primeiro verso. Ali, é possível observar também que o ritmo soa constante, mesmo faltando sílabas tônicas na segunda e na sexta posição do verso.

         Para explicar o motivo dessa constância ritmica ocorrer mesmo quando tônicas estão ausentes é preciso entender o radical das palavras. Na segunda posição temos uma subtônica por causa do radical do vocábulo "anoitecendo":

noite > anoitecer > anoitecendo

Observando o radical e a transformação da palavra, fica claro que nenhuma palavra pode ter duas tônicas, sendo a sílaba mais forte destacada, nesse caso, a sílaba 4 do vocábulo "anoitecendo" é, de fato, a mais forte de todas, porém a sílaba 2 do mesmo vocábulo é a segunda mais forte, sendo, portanto, a subtônica da palavra.

O mesmo ocorre no verso 1 com a palavra "vendavais".

vento > vendavais

Portanto, observado o radical, podemos notar onde a subtônica reside e usá-la, brandamente, para manter uma constância no ritmo do verso.

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