041 - Eva - com Gabriel Zanon Garcia

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A tarde que retumba os vãos sabores
a mesma que me traz as alegrias
sussurra bem baixinho dissabores
e arrasta-me por foscas rodovias...

Conquanto os vastos campos incolores
dominam minhas ânsias mais sombrias...
Harpejo tantas odes de temores
que verto sangue pelas áureas vias...

O verbo que macula toda a gente
o mesmo que nos traz alguns delírios
congloba toda a astúcia da serpente
lançando-nos em pessoais martírios.

Jazendo errante em minha sombra ausente
— a tarde e o verbo são amargos lírios —
ofendo a luz em teu silêncio ardente
nos descaminhos fúnebres dos círios.

E em versos esta horrenda e insana treva
que arrastas pela senda mais soturna...
Conserva a monstruosa e quente ceva
no canto da ave tétrica e noturna...

Perdido nesta noite em ti, ó Eva
apenas vejo a sombra taciturna...
Contemplo o teu poema que me eleva
e calmamente fecho a tua urna.

Gustavo Valério Ferreira
Gabriel Zanon Garcia
01/06/2020


*Versos ímpares por Gabriel Zanon Garcia    
*Versos pares por mim



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No último verso resolvi fazer uma diérese entre "tua" e "urna".

Devido a presença forte da vogal u, e da colisão de tônicas iguais, percebi que deixá-las separadas seria mais sonoro, portanto mantive.


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