Capitulo 3 - dançando na praia

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Isabela

O som do mar era tão revigorante que me fazia viajar em meio seus ruídos. Fiquei ali parada por um tempo com os olhos fechados, somente sentindo a brisa soprar em meus cabelos e as ondas molharem meus pés. Lembranças de uma infância vivida na areia daquela praia invadem a minha mente, trazendo um sorriso aos meus lábios e ao mesmo tempo um aperto ao meu coração. A voz de minha irmã cantando para mim é o som que ecoa em minha cabeça. Que saudades sinto de você Bia. E sem me dar conta, começo a entoar os versos da nossa canção, e dar voltas, dançando a beira mar, ainda com os olhos fechados. Como fazíamos quando criança.

- Sé que cruzaríamos los siete mares,
Contigo hasta el final del mundo
Yo iría.
Eres mi fuerza y mi motor,
Todo lo pintas de color,
Quiero que estés cerca de mí.
Con nuestra luz yo brillaré,
Un nuevo mundo crearé,
Y si vuelvo a nacer,
Contigo allí estaré.
Huuum...-

Estava rodando e sorrindo para o nada, perdi o equilíbrio quase caindo no chão, quando mãos fortes me seguraram. Levantei o olhar após o susto, vendo os lindos olhos cor-de-mel de Julio.


- você esta bem?- ele perguntou ainda com suas mãos em minha cintura.

- sim, é... - me afastei de seu toque - faz tempo que esta ai?- perguntei envergonhada. Será que ele me ouviu cantar?

- não muito.- ele respondeu sem demonstrar muito interesse, é praticamente impossível saber o que se passa na cabeça dele.

- ah ta é.. esta gostando da nossa escola?

- sim, são todos muito... Receptivos.

- sim, a grande maiorias recebe bem os alunos novos. - ele balançou a cabeça e depois olhou para o mar.
O silêncio se instalou me deixando um pouco nervosa.

O sol ja havia se posto deixando o vento mais gelado e a mare mais agitada. Foi naquele momento que me arrependi de não ter trazido uma blusa. O frio ja se fazia presente deixando-me arrepiada.

- você esta com frio?- Julio perguntou ao me ver abraçando a mim mesma.

- um pouco. - sim, muito querido. Julio tirou sua jaqueta e colocou sobre meus ombros. - não precisa.

- pode ficar. - ele falou e deu a volta indo para onde nossos amigos estavam, eu apenas o observei se afastar.

Segurei a jaqueta que estava sobre mim. Ela tinha um cheiro tão bom que dominava todos os meus sentidos, o cheiro dele. Respirei fundo antes de voltar para minhas amigas. Caminhei afundando os pés na areia e sentindo cócegas nos dedos.

- você esta bem?- Giulia perguntou ao me ver.

- estou sim - me sentei ao lado dela.

- essa não é a jaqueta do...

- sim é, ele me emprestou com conta do frio - interrompi Agus antes dela terminar a pergunta.

- que gentil...- Giulia sorriu maliciosa e eu apenas ignorei.

André olhou para mim e ao notar de quem era a jaqueta, me lançou um olhar confuso e talvez até um pouco enciumado.

- E ai gente quais as expectativas para esse ano? - Alan perguntou fazendo todos nós partilharmos do mesmo assunto.

- expectativas ou medos? É o ultimo ano galera ou seja, em breve s faculdade, e muitos ainda nem sabem quais querem fazer. - Luis respondeu.

- que isso gente, aqueles que ainda nao decidiram qual carreira seguir ainda tem um ano para isso. Creio que sera um ótimo ano. - falei animada e ouvi Julio soltar uma risada abafada. - algum problema?

- nenhum, é que você fala como se a vida fossem borboletas e girassóis. - essa frase, conheço ela.

- a negatividade não leva ninguém a lugar nenhum, é sempre melhor ser positivo e tentar ver as coisas pelo lado bom. - falei seria.

- ser positivo é uma bela perda de tempo.- Julio parecia ter um peso nas costas que o deixava mais ranzinza a cada minuto daquela conversa, Ou daquele dia.

- ser negativo que é uma perda de tempo - todos estavam calados somente nos observando.- se você prefere se definhar nos problemas ai o problema é seu.

- você fala isso por que não deve ter problemas, a vida não é perfeita Souza. - ele se inclinou para frente. Como poderia saber meu sobrenome?. A forma grosseira como ele falava me dava um aperto.

- Eu sei bem que a vida não é perfeita Julio.- engoli em seco. Como ele conseguia ser tão carregado de negatividade? Ele realmente achava que minha vida era perfeita? Não sabia metade das coisas que ja passei.

Ele estava bem próximo, seu olhar adentrava o meu me deixando sem fôlego. Puxei o ar respirando fundo e olhei em volta vendo nossos amigos que somente assistiam a nossa "conversa".

- Já esta tarde, acho melhor irmos embora. - me levantei retirando a jaqueta de meus ombros e jogando em seu colo. - vou esperar no carro.- sai deixando todos em silêncio, enquanto abraçava a mim mesma por conta do frio, andando em direção o carro.

Giulia, Agustina, André e Julio vinheram na Minha direção. Eu estava encostada na porta do passageiro quando Julio parou na minha frente, perto até demais.

- Licença..- apontou para a porta e eu me afastei dando espaço para que ele entrasse no automóvel.

André e Julio foram na frente, e eu e as meninas atrás. O trajeto foi silencioso. Eu observava as ruas escuras da cidade. Chegando em minha casa dei um "tchauzinho" para todos, mas nem todos retribuíram meu gesto. Como a pessoa que me emprestou um casaco por conta do frio poderia estar agindo de forma tão... Estúpida?

- Oi filha como foi o passeio? - minha mãe perguntou ao me ver entrando em casa.

- Foi bom... Ainda acordada?

- ei você sabe que não durmo antes de você chegar - sorriu - por que essa carinha?- ela veio ao meu encontro segurando meu rosto em suas mãos.

- nada, só que... A praia sempre me lembra a Bia.- falei um pouco baixo para meu pai não ouvir, falar da Bia o fazia se sentir culpado pelo acidente de carro, já que ele era quem dirigia.

- oh meu amor, e você ficou triste?

- não exatamente, me faz bem lembrar dela, a Bia estava sempre sorrindo e cantando, vendo o lado bom em tudo...- sorri nostálgica - tento aplicar essa leveza dela todos os dias em minha vida.

- e você esta certa minha linda, a Bia tinha uma energia maravilhosa. Também me sinto bem em lembrar dela.

- pena que com o papai nao é assim.

- cada um tem sua forma de lidar com a dor filha. Um dia essa dor se transforma somente em saudade.

Sorri por suas palavras e minha mae depositou um beijo em minha testa.

- bom eu vou dormir, Buenas Noches mamá.

- Buenas Noches hija - Nossos diálogos em espanhol eram nossa forma especial de nos comunicar, já que metade do meu ser pertence a Argentina por parte de meu pai. Ele geralmente participava dos nossos diálogos, mas com o tempo, parou.

A linda luz da lua iluminava levemente o meu quarto pela janela, coloquei meu pijama e me aprontei para dormir.

Ali deitada comecei a repassar os acontecimentos daquela noite. Julio me intrigava. Ele poderia querer mostrar um jeito durão, mas dentro de seus olhos eu via algo, eu via doçura, eu via alguem escondido. Ele não precisava se esconder para mim.


Um mar de Amor • IsulioOnde histórias criam vida. Descubra agora