Capítulo 4 - Inacreditável

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Julio

Chegar naquela casa foi um inferno como sempre desde que pisei o pé ali pela primeira vez. Tentei não fazer barulho enquanto ia até "meu" quarto no escuro, tentando não acordar ninguém. Missão falha com sucesso.

- Onde você estava até essa hora?- O homem com quem eu era obrigado a morar falou antes de eu concluir meu trajeto até o quarto.

- Não importa. - respondi sem olhar para ele.

- Claro que importa, eu sou seu pai, acha que eu ia conseguir dormir sem saber onde você estava?- tocou meu ombro mas eu me afastei.

- onde eu estava não fazia muita diferença para você durante os ultimos 17 anos. - eu já estava perdendo o pouco de paciência que ainda me restava.

- filho...

- não me chame assim! - levantei um pouco a voz e o barulho de uma porta se abrindo chamou nossa atenção.

- ah tinha que ser...- Andrea revirou os olhos para mim e depois olhou para seu pai. - Pai, eu preciso dormir, se não amanha estarei cheia de olheiras.

- esta bem minha linda, nos desculpamos por ter te acordado.

- fale por você, eu não to nem ai. - Dei meia volta indo para o quarto.

- Julio, você pode até não querer aceitar mas sua vida é aqui agora, e eu acho melhor se acostumar. - ele falou em minha costas.

- vê se me erra Sérgio. - foi tudo o que eu disse antes de fechar a porta atrás de mim e me jogar de costas na cama.

Ali olhando para o teto comecei a repassar os últimos acontecimentos da minha vida. A doença de minha mãe, cuidar dela, sua morte, e por fim, ser obrigado a vir morar com o "pai" que me abandonou antes mesmo de nascer.

Me pergunto como a Isabela consegue ser tao positiva. Ve-la na praia, dançando, sorrindo e cantando, ela parecia tão leve. E a forma como ela fala... imagino como deve ser sua vida para ser tão serena. Nada comparada a minha, ela não deve ter tanto peso nas costas. É... O universo não é tão bom com todo mundo.

Imagens de minha mãe a beira do piano invadem minha mente, ela era tão guerreira, mas apesar de tudo que passava, sempre mantinha um sorriso nos lábios e um brilho no olhar. Ela sempre se preocupava com meu jeito meio "revoltado" como ela chamava. Mas sempre foi minha força, se me achava perdido antes, quero só ver não a tendo mais comigo.

Sentei-me na cama e observei meu teclado, presente de aniversário de 10 anos, minha mãe trabalhou muito para comprar para mim. Passeei os dedos pelas teclas, não sei se um dia irei conseguir voltar a tocar. Ela costumava dizer, "eu e você contra o mundo", não sei como enfrentar o mundo sozinho agora, por isso acho que, o melhor a fazer é nao enfrentar. Somente desligar tudo.

...

Acordei atrasado. Merda. Tomei um banho rapido e me troque mais rapido ainda. Andrea nem se dá ao trabalho de me chamar ou esperar para a escola. Dane-se.

...

Por sorte cheguei na escola antes do sinal, apressando o passo para chegar na sala logo acabei batendo em alguem que estava parado no meio do corredor.

Um mar de Amor • IsulioOnde histórias criam vida. Descubra agora