Lua

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Com nove anos, Lua era uma criança saudável, apesar do seu corpo franzino e da tez pálida. Tinha uns cabelos negros, semelhantes aos do pai, uns anos antes, longos e lisos, que lhe batiam a meio das costas. Os seus olhos verdes estavam cada vez mais parecidos com os de Safira.

Lua, à semelhança da mãe, era muito delicada e independente. Saía muitas vezes do castelo, às escondidas, por uma porta apenas utilizada pelos empregados, e descia até à Floresta. A maior parte das vezes ia visitar o avô paterno, onde a sua mãe também vivera, muitos anos antes.

Sempre que a menina se escapava do castelo, todos entravam em alvoroço, procurando-a por todo o lado. Mas, depois de horas de aflição, ela reaparecia como se nada se tivesse passado.

Ao longo dos anos, o sorriso de Lua foi perdendo o seu brilho. Já não era o bebé amoroso que toda a gente conheceu na festa dada no castelo quando tinha apenas um ano de idade. Raramente respondia às perguntas que lhe faziam e chegava a ser antipática por diversas vezes. A única pessoa com quem ela gostava de estar e com quem tinha grandes conversas era o avô materno. Quando se escapava do castelo e ia até casa do velho lenhador, perdia-se das horas com as histórias que o avô lhe contava.

Um dia, como tantos outros, pegou no seu pequeno manto com capuz, calçou as botas até os joelhos, agarrou na sua bolsa de pele, pô-la a tiracolo e saiu para o jardim do castelo pela sua porta secreta, sem que os empregados a vissem. Apesar de ser ainda início da tarde, o céu estava escuro. A Primavera estava próxima, mas o Inverno persistia em reinar. O frio fazia-se sentir intensamente.

Lua correu até ao portão das traseiras, o único que não era vigiado. Era um pequeno portão de grades enferrujadas, que outrora haviam sido douradas, como as do portão principal. Nunca ninguém entrava ou saía por ali, pois o caminho a que conduzia era de difícil acesso, demasiado pedregoso e com intenso mato a ocultá-lo. Mas Lua estava já habituada a seguir por ali. Até se divertia bastante, resvalando as pedras para o lado e afastando os ramos dos arbustos com as suas delicadas mãozinhas. Esse caminho conduzia à estrada principal que ligava a Floresta Dourada ao castelo. Daí, apenas tinha de seguir em frente, pois a casa do avô era das primeiras do aldeamento.

De todas as vezes, passava por muitas pessoas, membros do Povo, que Viviam na Floresta. No entanto, ninguém a conhecia, pois a única vez que aparecera em público fora há oito anos antes, no dia da sua apresentação oficial ao Povo.

Então, nunca ninguém a reconheceu como sendo a herdeira de todo o reino.

Lua bateu à porta da pequena casa do lenhador. Era uma casa baixa, de um só andar, com uma porta de madeira escurecida pelo sol. Tinha uma janela de cada lado da porta, com os Vidros tão cobertos de pó que era impossível espreitar-se por eles e ver alguma coisa para além de um vulto. Era feita de pedra, pelo que os Invernos eram complicados. Só com a lareira constantemente acesa se podia suportar o frio. Felizmente o avô era lenhador, nunca lhe faltava madeira com que acender o fogo para se poder aquecer.

No alto do telhado havia uma chaminé pequena, por onde saía sempre um pequeno fio de fumo. A casa do avô não tinha jardim e quando Lua lhe perguntou o porquê, ele respondeu com um sorriso: "Eu Vivo no meio da Floresta, minha filha! Para quê perder tempo com um jardim, se o tenho mesmo à porta de casa?".

Mas tinha um pequeno quintal nas traseiras, com meia dúzia de árvores de fruto e alguns legumes, que em muito serviam para se alimentar.

Lua bateu novamente à porta, vendo que o avô demorava. Passados poucos segundos, a porta abriu-se e o lenhador surgiu na sua frente. Usava uma camisa de tecido grosso, já sem cor, com as mangas arregaçadas, e umas calças também muito usadas, com Vários remendos nos joelhos. O seu cabelo era cada vez mais raro, restando apenas alguns fios, brancos e fracos. As suas faces eram adornadas com pequenos raios de sangue. Lua achou que o avô estava mais desgastado que o costume. Tinha o olhar cansado. Mas, assim que viu a neta, o rosto do velho iluminou-se.

The Princess Of The Golden ForestOnde histórias criam vida. Descubra agora