The Princess Of The Golden Forest

Um Dia No Castelo

O dia começava bem cedo para Lua. Ainda o sol espreitava timidamente, já uma criada entrava no seu quarto para abrir as portas da varanda e puxar para trás as cortinas, deixando a luz entrar. Era nesse momento que a menina acordava, com a claridade a perturbar-lhe os olhos. A Princesa levantava-se e corria para o quarto de banho, que estava ligado ao quarto por uma porta. Saia uma hora depois, após um longo banho de imersão perfumado com pétalas de rosa. Lua odiava essa parte do dia. Vendo bem, ela odiava qualquer parte do dia no castelo, todas aquelas formalidades que era obrigada a cumprir, todos os tópicos de higiene, todos os horários, todas as obrigações. Mas o banho era provavelmente o que mais a irritava. Sair da sua cama quente, ser obrigada a tirar o seu pijama, e entrar numa banheira repleta de água, ficar lá mergulhada durante quase uma hora, até a sua pele ficar toda encorrilhada era horrível! E mesmo que quisesse escapar ao banho, era impossível, pois Rossana, a criada que a acordava, não desandava do quarto enquanto Lua não aparecesse de cabelo molhado, com perfume de rosas espalhado pelo corpo, e um grande robe azul vestido.

A pequena Princesa acordava sempre de mau humor, tomava banho de mau humor e saía do quarto de banho de mau humor. Nunca falava com a criada. Da mesma maneira que não falava com o restante pessoal que trabalhava no castelo. Os empregados e empregadas achavam-lhe imensa graça, mas gostariam de ter mais interação com a menina. Havia quem dissesse que o poder já lhe subira à cabeça, por isso Lua os ignorava. Mas não era essa a verdadeira razão. A menina não gostava de falar com ninguém porque odiava a Vida no castelo. Gostaria muito mais de Viver com o avô no meio da floresta conversar à lareira, a ouvir histórias sobre a mãe, sobre as aventuras de quem passa na Floresta Dourada. Tinha muito mais emoção do que Viver fechada naquele sítio frio, onde o pai a odiava, as empregadas não lhe davam qualquer liberdade e as regras impunham-se à sua vontade. O que ela não faria para Viver de forma mais simples e interessante? Um dia, fez a promessa de nunca reinar, de partir. daquele castelo assim que tivesse idade para decidir. Ninguém a impediria, nem mesmo os avós, que sempre a haviam tratado bem.

Lua esteve no banho uns bons três quartos de hora, até que se sentiu desconfortável com tanta água e saiu, enrolada no roupão, com o cabelo a pingar por todo o lado. Quando chegou ao quarto, a criada logo a repreendeu:

— A menina tem uma toalha no cabide para secar o cabelo! já viu os estragos que está a fazer?

A criada apressou-se a arranjar um pano para limpar as grossas gotas de água com cheiro a rosas.

— Isso é água. Há-de secar! — respondeu Lua secamente.

Aproveitou o facto de a empregada estar debruçada no chão, a secar as gotas com um pano, para se limpar a uma outra toalha que estava em cima da cama. Num instante vestiu a roupa que Rossana lhe escolhera, e ficou desagradada. Insistiam em vestir-lhe saias e vestidos, e ela preferia calças. Mas lá colocou a saia, quando a mulher se levantou, já Lua estava vestida e com o cabelo escorrido.

— Assim está melhor admitiu Rossana. — Era uma empregada bem bonita e elegante, e Lua muitas vezes se perguntava por que razão uma moça tão bela se fechara naquele castelo.

As regras do castelo ditavam que todos os criados e criadas vivessem lá a tempo inteiro. Só podiam sair para fazer recados. Assim, evitavam-se atrasos e traições. E, por isso mo, a maioria dos empregados eram já de avançada idade, pessoas que queriam ocupar o seu tempo com alguma coisa. E Lua não entendia como alguém tão novo podia aguentar viver ali todas as horas do seu dia. Mas também nunca quis perguntar.

— Agora faça o favor de se calçar, menina. A sua família espera por si para o pequeno-almoço.

Lua preferia tornar o pequeno-almoço na cama, o que acontecia quando estava doente. Mas as regras do castelo ditavam que todos se juntassem pela manhã para partilhar a primeira refeição do dia. As regras do castelo!