A Aldeia Da Magia

1 1 0
                                    

— Estás atrasado! — observou Lua, muito corada. Vestia uma capa com capuz, castanha, por cima da roupa que usava nas aulas de equitação. Caía uma chuva miudinha, quase impercetível, e não foi difícil enganar Rossana, quando viu a menina preparar-se daquela forma.

— Vais sair novamente? — perguntou ela, de sobrolho franzido. — Está a chover, pequena. Não podes ir amanhã? Tenho a certeza de que o teu pai não concorda com isto.

— Ele não precisa de saber, Rossana. E eu tenho de ir hoje.

— Qual é a urgência? Até parece que tens um encontro marcado.

— Não! — exclamou Lua, exageradamente alto. — Tu sabes que eu não gosto de Viver fechada no castelo, e estes passeios fazem-me bem.

Por fim, Rossana acabou por aceitar, mas avisou-a, vezes sem conta, que não voltasse tarde e que tivesse cuidado.

— Desculpa, tive de ver se a costa estava livre. Sabes que não é fácil fugir deste castelo sem ser visto! — Trazia também uma capa preta, com capuz, muito semelhante à de Lua. Usava urnas calças grossas, pretas, e uma camisola de lã verde.

Nos pés, calçava urnas botas até ao joelho. Estava preparado para uma tempestade que surgisse.

— Pronta?

— Sim. — Na verdade, estava nervosa. Não se podiam atrasar, ou nunca mais teria um pouco de liberdade. E a possibilidade de ver um mundo completamente diferente do seu estava a deixá-la impaciente. Que coisas novas iria ver? Dois dias antes, quando Renato lhe falara da Aldeia da Magia, declarara logo que queria conhecer esse lugar, e não descansara enquanto não convenceu o rapaz a levá-la lá.

Seguiram na linha do rio Cristal, até às traseiras do castelo. Lá, atravessaram o velho portão que Lua costumava usar na altura em que se escapulia para Visitar o avô. Ninguém os Viu sair. Apenas eles sabiam onde iam.

O coração da Princesa parecia querer disparar a qualquer momento, tal era o seu estado de excitação. Não sabia, nem imaginava, que tipo de coisas poderia lá encontrar, mas poder visitar um local novo, diferente e mágico era extremamente aliciante. Nunca lhe passara pela cabeça que pudesse haver outras terras para além da sua. Não aprendera isso nas aulas do professor Guidion, nem mesmo nas aulas chatas da velha rabugenta.

— Fica muito longe daqui? — perguntou, assim que passaram pelo portão enferrujado.

— Um pouco.

Enveredaram por um caminho estreito e fortemente ladeado por altas árvores, sempre bem perto do rio que corria sem parar. Mal passava uma carruagem por ali, e a Floresta parecia deserta. Estava escuro, quase como se a noite já tivesse caído. A medida que avançavam, a biodiversidade aumentava, tanto de plantas como animais. Ouvia-se ao longe um grilo e, de tempos a tempos, um mocho dava sinais da sua presença. Lua olhou para as árvores em volta, tentando encontrar o mocho, mas não ouviu. Aquela zona da Floresta era sinistra. Quase soltou um grito quando um coelho bravo se atravessou no seu caminho.

— Que susto! — sussurrou.

— Chiu! Não podemos afugentar os animais. São muito especiais. — O menino comportava-se como um adulto, perfeitamente consciente da magia que os envolvia.

A Princesa continuou a observar tudo com muita atenção, cada vez mais fascinada com o que via. Percebeu o que Renato queria dizer com o facto de os animais ali serem especiais. A medida que avançavam para o interior da Floresta, eram cada vez mais os que assomavam à face do caminho para os ver passar. Borboletas de todas as cores, tamanhos e feitios esvoaçavam à volta deles, como que lhes dando as boas-Vindas. Uma cria de veado viu-os passar em silêncio e Lua podia jurar que o animal fez uma pequena vénia. Mas logo deduziu que devia estar a imaginar coisas. Ouviu o restolhar de folhas por cima de si e, quando olhou, viu uma grande águia, que os observava com sabedoria.

The Princess Of The Golden ForestOnde histórias criam vida. Descubra agora