Na manhã do dia do Baile da Floresta, Lua estava muito calma. Tinham conversado até tarde, pois a menina queria ir ao Baile, e voltar com os avós para o castelo. Nunca tinha ido a uma festa, e essa seria a melhor oportunidade para o fazer. Não estava disposta a esperar até ao seu décimo oitavo aniversário, altura em que as Princesas eram apresentadas ao Povo.
Guidion não gostou muito da ideia, pois isso poderia chamar as atenções para ele, mas depois, quando refletiu melhor, acabou por aceitar. Podia ser que, no meio de toda a multidão, passasse afinal despercebido.
— Estás preparada? — O Baile começava ao cair da noite, portanto tinham um dia longo pela frente.
— Sim. Eu tenho saudades do castelo, e não tenho medo do meu pai. Os meus avós vão proteger-me.
Usava uma camisola e um par de calças que Guidion lhe comprara na feira.
— E eu? Vou ser castigado por ter entrado nesta aventura contigo.
O Professor estava muito pálido desde que acordara. Estava assustado com o que iria acontecer quando Lua aparecesse em público. O seu cabelo e a barba cresceram na última semana, pois nunca saía de casa, a não ser para ir à feira fazer compras necessárias. Lua achava que ele ainda ficava mais bonito assim.
— Eu não deixo, já lhe disse. Se lhe fizerem mal, eu fujo outra vez.
— Mas tu não podes fugir sempre que alguma coisa te corre mal. — disse, metendo um grande pedaço de pão na boca, enquanto Lua encolhia os ombros.
— Eu fujo... — foi a única resposta.
No castelo, Rafael recuperava do choque do dia anterior. Tornava todas as refeições na cama, para não fazer esforços, e a Rainha fazia-lhe companhia todo o tempo. Não podia deixar que o filho voltasse a cometer uma loucura.
— Como te sentes, meu filho? — Rafael acabara de acordar, e piscou muitas vezes os olhos, enquanto se habituava luz do sol, que entrava pela janela aberta. Há muitos dias que vivia na escuridão.
— Bom dia, mãe! — Dormira toda a noite, sem sonhos ou pesadelos. — Sinto-me fraco. Voltou a fechar os olhos, pronto para adormecer novamente.
— Claro que te sentes fraco! Não te tens alimentado.
A Rainha tinha o cabelo preso num carrapito e usava um roupão de cetim preto. Puxara o cadeirão para perto da cama do filho e ficam ali a noite inteira. Estava a caminho dos setenta anos. Hoje é o Baile da Primavera. Se não te sentires bem, eu e o teu pai ficamos aqui contigo, e pedimos a alguém que avise o Povo de que não vamos ao Baile.
Rafael abriu novamente os olhos, com uma expressão de desagrado.
— Nem pense nisso, mãe! Não Vão romper a tradição por minha causa. O Povo espera-vos, não o desiludam. — Pegou na mão da mãe e beijou-a. — Obrigado por cuidar de mim. Eu não mereço.
— Não digas parvoíces, meu filho! Não se trata de merecer ou não. Eu sou a tua mãe e preocupo-me contigo, sempre! Eu e o teu pai vivemos por ti. — Rafael desviou o olhar, profundamente envergonhado. Lua não tivera a mesma sorte que ele, no que tocava a pais presentes. A mãe morrera, nada havia a fazer, mas ele nunca cumprira o seu papel de pai. E nos últimos dias tinha pago com a alma o seu erro. — Mas, se achas que te aguentas, iremos ao Baile. E faremos mais um apelo para que entreguem a tua filha. Eu acredito que ela vai voltar, Rafael.
— Obrigado, mãe... — Despediram-se com um beijo na face, e o Príncipe ficou sozinho com os seus pensamentos.
Entretanto, na casa de Guidion...
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The Princess Of The Golden Forest
FantasyLua é a Princesa da Floresta Dourada, um reino aparentemente invisível aos nossos olhos e protegido do terrível Maldito. Vítima de uma infância marcada pela indiferença do pai e pela admiração que sente pela mãe que nunca conheceu, Lua fecha-se num...