A Herdeira Do Reino

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Rafael abandonou as suas reccordações quando ouviu um grito ainda mais forte que os anteriores. Um grito que quase
não parecia humano. Depois disso, tudo pareccu sossegar e, alguns instantes depois, um choro agudo irrompeu os ares. Rafael tinha um herdeiro! O seu filho acabara de nascer.

Mais que nunca, sentiu necessidade de entrar no quarto. Mas conseguíu controlar o impulso, recomeçando a andar para trás e para diante. Após ter aguentado tantas horas, mais alguns minutos passariam rapidamente. Em espaços de poucos segundos, encostava o seu ouvido à porta. O bebé continuava a chorar, o que denunciava uns bons pulmões. Mas as empregadas estavam estranhamente silenciosas. Podia ouvir os seus passos apressados de um lado para o outro. Quase sem se aperceber, a porta do quarto abriu-se na sua frente. Uma empregada idosa segurava o bebé nos seus braços, que em silêncio entregou a Rafael. Este não sabia como exprimir aquela alegria e
as lágrimas correram livremente pela face. Olhou para o seu filho com ternura e sorriu-lhe. Era um bebé redondo e rosado, que precisava urgentemente de um banho. Estava apenas embrulhado num pano de linho, branco. Já não chorava e os seus pequenos olhinhos estavam ligeiramente abertos.

— É uma menina, Majestade — revelou a serva, mas Rafael continuava a olhar orgulhoso para o bebé. Ele e a mulher não tinham qualquer preferência quanto ao sexo da criança. A custo desviou o olhar do seu novo tesouro e criadas que tinha na sua frente.

- Como está a minha esposa? Posso entrar para a ver? Deve ter sofrido muito, coitada! - Mostrava-se ansioso, tal era
a sua preocupação com Safira. Segurava ainda a bebé, apertando-a contra o peito.

As criadas entreolharam-se, com o semblante pesado e foi a mais velha quem falou.

— A menina Safira não sobreviveu ao parto, Majestade - declarou pesadamente, baixando a cabeça, prestes a chorar - Lamento.

Rafael sentiu o coração parar. As palavras que aquela mulher na sua frente acabara de dizer pareciam ter sido pronunciadas num sítio muito distante. Apercebeu-se que alguém Ihe tirava a bebé dos braços, enquanto caía de joelhos e enterrava a face nas mãos grandes e fortes.

Chorou até ao amanhecer, ajoelhado à porta daquele quarto. Ninguém o conseguiu acalmar ou convencê-lo a levantar-se. Tentaram demovê-lo e chamá-lo à razão, mas ele recusava-se a ouvir fosse o que fosse. Apenas na manhã do dia seguinte, quando o Rei e a Rainha, que chegavam de viagem, foram ter com Rafael, este se levantou. Fê-lo com grande esforço, pois tinha os joelhos doridos, para além de quase não ter forças para respirar. O Rei abraçou o filho como fazia quando Rafael era uma criança, enquanto a Rainha lhe acariciava os cabelos. Os três choraram a mágoa que sentiam, e só quando se acalmaram resolveram entrar no quarto para ver o corpo de Safira. Tinham-na coberto com um lençol branco, bordado com fio de ouro a toda a volta. Rafael aproximou-se da cama, com os pais a segui-lo de perto, e puxou uma das pontas do lençol.
Safira jazia com uma expressão suave e o sorriso que todos lhe conheciam. O seu tom de pele não mudara muito. Parecia estar apenas a dormir. Não era possível que a bela mulher tivesse partido assim.

Rafael não conseguiu evitar chorar ainda mais e saiu a correr do quarto. Quando ia a passar pelo corredor central do castelo, cruzou-se com uma das empregadas que segurava bebé.

— Majestade, a menina acabou de acordar. Deseja vê-la? — perguntou, com a esperança de que a bebé pudesse atenuar um pouco a desgraça e a tristeza.

O Príncipe não parou sequer um momento e seguiu o seu caminho, até uma das torres. Não queria ver a bebé. Fora por causa dela que perdera o amor da sua vida.

The Princess Of The Golden ForestOnde histórias criam vida. Descubra agora