A Sentença

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— Entrem! — respondeu a voz autoritária do Rei.

Lua entrou, seguida de Rafael. Ambos ficaram surpreendidos por verem Guidion sentado no cadeirão em frente dos Reis. A menina quis dar-lhe um abraço, mas o professor pareceu não ter dado pela sua presença, pois nem se Virou para a olhar.

— Olá, professor — cumprimentou, com uma voz sumida. Sabia agora porque fora chamada. E de Guidion não obteve resposta, o que a deixou muito triste.

— Pai, chamou-nos? — lembrou Rafael. — O que se passa e que faz aqui o professor da minha filha? — Ainda não conseguira associar a presença de Guidion ao desaparecimento de Lua.

— Sentem-se.

Havia mais duas cadeiras, pouco confortáveis, encostadas a uma das paredes da sala. O Rei e a Rainha estavam sentados do outro lado da mesa, sempre cheia de papéis, penas e tinta. Guidion estava do lado de cá, de frente para os avós de Lua. Rafael e a filha puxaram as cadeiras e sentaram-se, um de cada lado do professor. Lua ficou desiludida ao verificar que Guidion não correspondeu ao seu sorriso. Nem um olhar lhe dirigiu.

— A que se deve esta estranha reunião, meu pai? — tornou a perguntar Rafael, ainda muito intrigado.

— Muito bem, agora que estamos cá todos, podemos discutir este assunto com mais lucidez — começou o Rei, cruzando as mãos em frente ao peito, de semblante carregado. — Rafael, não sei se já tomaste conhecimento sobre o paradeiro de Lua enquanto a menina esteve desaparecida.

O escritório quase se transformara num tribunal, e que o Rei era o juiz, com o seu ar severo e disposto a não ser brando na condenação perante o crime que se cometem; Guidion era o réu, com a cabeça baixa, dominado pela culpa; a Rainha poderia representar a testemunha de acusação, com o seu ar aparentemente calmo, atenta a tudo e a novos dados que pudessem surgir; Lua era, sem sombra de dúvida, a advogada de defesa, a portadora da verdade, disposta a enfrentar um mundo para ilibar o professor de qualquer acusação. Apenas Rafael não tinha um papel em toda aquela cena, ainda intrigado com a reunião.

— Meu pai, a verdade é que fiquei tão feliz por ter a minha filha de volta que ainda não parei para reflectir sobre o assunto. Mas, agora que fala nisso... — E voltou-se para a filha, que estava colada à cadeira, aterrada com o que se pudesse passar naquela sala. — Filha, onde estiveste todo este tempo? — Voltando-se novamente para o pai. — E que faz aqui o professor de Lua? Foi ele que a trouxe de volta para o castelo?

Quem respondeu foi o Rei, pois Lua mantinha-se em silêncio e de olhos fixos nas suas mãozinhas.

— Não, Rafael. Não foi Guidion quem nos trouxe a tua filha de Volta. Bem pelo contrário, foi ele quem a levou.

Rafael alternou o olhar com demasiada rapidez entre a filha e o professor, tentando dissimular as últimas palavras.

— Como disse? — voltou a encarar o Rei, certo de que algo estava errado. Guidion era com certeza um bom professor, um homem de carácter. O seu pai trabalhara no castelo durante muitos anos e sempre fora um fiel empregado. Não, alguma coisa não estava a bater certo.

— É como ouves, meu filho. O professor Guidion raptou a minha neta.

Lua não se conteve mais, perante tamanha injustiça, e deu um pulo na cadeira, tendo-se levantado se seguida, olhando furiosa para o avô.

— Isso é mentira! — gritou, sob o olhar de espanto de todos os presentes. — O professor Guidion não me raptou e não pode ser preso! Ele nunca me fez mal.

O Rei respirou fundo, muito devagar, como se tentasse não perder a paciência com a neta.

— Minha querida neta, acredito que estejas confusa. Nem quero pensar no que este homem te fez enquanto te manteve presa. — Lançou um olhar de desprezo a Guidion, que continuava estranhamente calmo, pouco se importando com o facto de estar a ser acusado injustamente.

The Princess Of The Golden ForestOnde histórias criam vida. Descubra agora