O Poder Da Tristeza

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No castelo, o ambiente era mais sombrio e austero que o habitual. Ninguém conversava, ria ou sorria. Os Reis nunca saíam do escritório, esperando ansiosamente que um dos seus guardas ou uma criada lhes desse uma boa notícia. Estavam muito abalados com o desaparecimento da neta, mas a idade não lhes permitia participar nas buscas.

Uma semana se passara e as notícias eram sempre as mesmas: ninguém sabia onde parava Lua. Todos começavam a rezar para que a menina ainda estivesse viva. A falta de notícias deixava-os com muito receio.

Ninguém dizia nada de novo. Nem sobre Lua, nem sobre um possível pedido de resgate. A hipótese de rapto começava a ser posta de lado. E, ao fim de quase uma semana, o assunto quase caiu no esquecimento.

Rossana era, provavelmente, a criada mais preocupada. Lua era parte das suas responsabilidades, e começava a culpar-se por não ter vigiado devidamente a menina. Todas as noites levava horas a adormecer, e muitas vezes chorava. Tinha pesadelos e acordava com o cabelo colado à cara, por causa do suor. Só queria que a Princesa aparecesse e tudo acabasse bem.

Rafael passava os dias e as noites fechado no quarto. Nos primeiros dias ainda se juntou aos guardas, mas não aguentara a pressão e o cansaço. Vivia agora numa amargura por nunca ter acarinhado a filha. Compreendia as razões de Lua, e isso ainda o deixava mais irritado e vulnerável. Era obrigado a aceitar que errata. Pensava em Safira, em como ela ficaria desiludida Se pudesse ver aquilo em que ele se tomara. Um homem outra bonito resumia-se agora a um enorme trapo. Magro, pálido. Sempre com roupas escuras. Os seus cabelos negros deram lugar aos grisalhos, as rugas tomaram conta da sua face e os olhos nunca mais mostraram felicidade. Com quarenta e nove anos era quase um velho. Parecia ter a idade do seu pai.

Caminhava de um lado para o outro do quarto, sempre com as luzes apagadas e as janelas fechadas. A luz do sol parecia feri-lo.

De vez em quando, sentava-se no cadeirão, com o queixo apoiado no punho. Roía as unhas, puxava os cabelos, chorava, gritava. Proibira quem quer que fosse de entrar no seu quarto, a não ser para anunciar que Lua finalmente aparecera, E ao fim de uma semana estava a dar em louco. Não fazia nada. Não dormia nem comia, e apenas a esperança de encontrar a filha o mantinha preso à vida.

Daí a dois dias ia fazer-se o Baile da Primavera. Rafael não acompanharia os pais. Desde que Safira morrera, recusava-se a ir à festa onde a conhecera, por ser demasiado doloroso. E, nesse ano, tinha ainda menos razões para festejar. Os Reis iam, pois, a tradição assim o mandava. Eles gostavam de cumprir todas as regras que lhes cabiam, e nem o desaparecimento de Lua mudava isso. Afinal de contas, ficarem fechados no escritório não ia fazer com que a neta voltasse mais depressa. Se fossem ao Baile, até podiam, uma vez mais, apelar a quem tivesse a menina que a entregasse.

Os restantes criados e guardas faziam turnos entre Si para baterem todos os terrenos do castelo e a Floresta Dourada. Não havia uma única pista, ninguém a vira e não percebiam como ela pudera evaporar-se tão depressa. Nos primeiros dias, afirmavam que só podia estar no castelo, mas desistiram da ideia depois de abrirem todos os quartos, salas e torres. Lua não estava em nenhum destes sítios.

— Achas que ela ainda está viva? — perguntava uma das cozinheiras, enquanto se fazia o jantar.

— Estás doida, mulher? Claro que ela está viva! A nossa menina vai aparecer, não tarda nada — reclamava a outra. Ninguém queria realmente acreditar no pior, mas tinham consciência de que era uma das possibilidades. A esperança tinha de prevalecer, para que a tristeza não tomasse conta de todos. Lua ia voltar, e a Vida no castelo voltaria ao normal.

A noite caíra, e os Reis jantavam sozinhos na sala. Tinham desistido de insistir com o filho para que tomasse as refeições com eles.

Rafael estava irredutível, e o melhor para a sua saúde era que Lua aparecesse em breve.

The Princess Of The Golden ForestOnde histórias criam vida. Descubra agora