STOCOLMO

CAPÍTULO27

GARRAS

—Olha só quem voltou — o tom de escárnio na voz de Bill não me surpreende, só faz com que eu queira vomitar.

Ponho o meu melhor sorriso e desço do pequeno pedestal em que estou como se fosse a rainha da Inglaterra.

—Infelizmente estava muito em cima da hora pra cancelar — falo tentando fingir tranquilidade, que na verdade era a última coisa que eu estava sentindo agora.

Bill anda em minha direção e então para, vira para um dos sofás e se senta, abrindo seus braços e os apoiando sobre o encosto estofado de cor clara, ele volta a sorrir.

—Tudo o que você queria era sair daqui, e se passaram o que? Um dia e meio? Talvez dois? E você já voltou, isso me faz ter algumas ideias sabe? — ele debocha —Me faz pensar que você pode estar apaixonada por mim por exemplo...

Meu estômago se revira e embrulha, o quão fácil pra ele seria me arrastar pra um dos quartos e fazer o que quisesse comigo? Ou me trancar em uma das salas ou me jogar de volta no canil? De uma coisa eu sei, os seguranças que estão espalhados la fora não estão aqui para me proteger e não viriam ao meu socorro se eu precisasse de ajuda. Começo a finalmente enxergar o quão estupida a decisão de vir pra cá foi.

—Não precisa se enganar Bill, eu sei que você é triste e solitário mas isso não é motivo para ficar contando mentiras pra si mesmo.

—Triste e solitário? — o ouço dizer, me viro para o espelho e começo a analisar o vestido em uma clara provocação, finjo ignora-lo e se algo que Bill ama é atenção.

Balanço minha cabeça de forma positiva ainda encarando meu reflexo.

—Claro, se não qual é o motivo pra você ter tanta inveja do meu relacionamento com o Eric? — zombo, me virando para olhar direto em seus olhos azuis bonitos —Gostou do vestido? — pergunto dando uma voltinha.

Bill mantém seu semblante calmo e tranquilo, mascarando todos os sentimentos que estavam dentro dele, mas apesar de sua atuação consigo ver quando seu maxilar se aperta e seus olhos exalam violência. Sim, ele podia me machucar tão facilmente, mas sei que ele não faria, por que ele precisava de Eric ao seu lado — seja lá para o que fosse, e Eric se importava comigo, pelo menos era isso que eu achava antes de nosso pequeno fiasco no quarto. E a ideia de que Bill não pode encostar um dedo em mim me dá uma confiança que nunca senti antes.

— O vestido é bonito, mas não se preocupe, todos na cerimônia vão ver através do tecido caro e enxergar a garçonete suburbana que não tem onde cair morta.

Uau, sou atingida por uma onda de sentimentos mistos, raiva de Bill, o peso da verdade e a rejeição, pois o que ele disse foi exatamente o que eu vi nos olhos de todos os executivos e suas esposas dondocas no dia da minha festa de noivado. Não importa o quanto eu tentasse, nunca seria como eles. E honestamente isso é algo para se orgulhar.

— Bom, uma suburbana que tem onde cair morta agora. Sabe aquele lance de o que é meu é seu? Você acha que eu consigo convencer Eric a não assinar um acordo pre nupcial?

Bill solta uma pequena risadinha de ar pelo nariz, lambendo seus lábios e balança sua cabeça de um lado para o outro. Eu olho ao meu redor, as funcionárias que vieram para a prova do vestido pareciam desconfortáveis enquanto guardavam os ornamentos de forma silenciosa, tentando ao máximo passarem despercebidas. Me pergunto a quantas brigas como essa elas viram, quantas vezes elas ficaram em silêncio enquanto famílias da alta sociedade lavavam a roupa suja como se estivessem sozinhos na sala.