Capitulo 14

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No caminho da república, milhares de coisas passavam pela minha cabeça, estava na hora de eu ter um canto só meu, um lugar onde as Meninas pudessem ficar comigo no período da tarde, por que não? Eu preciso ter um lugar seguro, onde elas possam me visitar e passar um tempo comigo quando quiserem. Ao mesmo tempo que eu pensava nessa possibilidade, pensava também nas outras partes envolvidas nesta história e isso me tirava a paz. Eu não queria viver escondida, não queria viver uma mentira e como fazer como isso fosse vivido por mim e pela Helô sem perdas?

Como é complicado essas questões? Como ter paz e segurança em um relação com essa faca encravada em nossas cabeças? Como ter vida vivendo com medo de perder as pessoas que se amamos? Por que as coisas precisam ser assim? Vivemos ameaçadas como se estivéssemos cometendo um crime! Temos que viver nossa relação escondida, até quando?

Os dias, as semanas foram passando sem maiores problemas, minha relação com as Meninas era perfeita, nos entendíamos sem a menor dificuldade, nossas tardes eram regadas a alegria e amor. Elas adoravam minha comida, o momento da lição de casa era uma loucura, eu precisei reaprender a armar e efetuar as contas de matemática, para dar conta da lição da Betina.

Não demorou muito e passei a dormir frequentemente no apartamento com elas. A Helô chegava do trabalho e eu ia ficando, conversávamos sobre o dia, o trabalho, as Meninas e chegava a hora de coloca-las na cama, a Betina fazia questão que eu ficasse para ouvir a história da noite e assim as coisas foram acontecendo.

Eu era a amiga da mamãe que tomava conta das Meninas e as vezes dormia por lá, essa era a relação posta e aceitável por todos, creio eu, pois eu não queria perder tempo falando de coisas chatas e pessoas sem importância. A Hêlo não me falava das "outras partes envolvidas nesta historia" e eu não queria aborrecê-la com as minhas cobranças. Resolvi por hora entregar tudo isso ao tempo, e esperar que as coisas se aquietassem e se resolvessem sem dores e perdas.

Em uma dessas tardes a Helô chegou e me olhou fixamente nos olhos dizendo que tinha uma novidade e que precisávamos conversar. Meu coração quase saiu pela boca ao ouvir suas palavras. Eu sempre estava pronta para qualquer coisa, pronta para amar ou brigar com o mundo, pronta para ficar ou ir embora de acordo com os acontecimentos.

Sempre tive a mais absoluta certeza que a Helô nos preservava, uma preservação no sentido de não me contar exatamente tudo que acontecia, ela nos blindava para que eu não soubesse dos malfeitos do Claudio e das duas bruxas más que desejavam a todo custo controlar a vida dela. Talvez, temendo que eu chutasse o balde e mandasse todo mundo as favas e sumisse com elas, por que sem pensar duas vezes faria isso facilmente se preciso fosse.

Diante desta espera até que a Helô se sentisse segura para nos assumir, assumi uma postura de passividade, nunca era muito calmo, pois eu não sabia o que aconteceria quem bateria na porta, quem chegaria, eu sabia o que queria, o que sentia e do que era capaz, isso me bastava para eu permanecer junto delas.

A Helô estava com um semblante calmo e estava feliz, então acho que a novidade era boa, mas instintivamente fui tomada por uma curiosidade maior que meu equilíbrio, tínhamos que conversar logo, eu não iria aguentar esperar até as Meninas dormirem e perguntei logo:

- Por favor, me diga logo que novidade é essa. Fala-me logo, pois não aguentarei esperar até a noite!

- Calma, eu digo. Fui convidada para assumir a direção de uma escola que será inaugurar na próxima semana.

- Que noticia maravilhosa, você diretora de escola. E como será isso?

- Para a minha carreira será uma ótima oportunidade, porém trabalharei mais horas e como ficam você e as Meninas? Irei precisar mais de você e não quero abusar do seu amor e nem da sua boa vontade, você não tem obrigação de ficar com elas.

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