Vidas pra Contar

Capitulo 15

Desci do carro arrasada, me sentindo perdida e sozinha, eu não queria acreditar no que estava acontecendo. Pulei, pilei e pulei em um só pé, feito louca, me sentindo um zero a esquerda e aquela situação era a prova viva. A Heloísa me observava incapaz de qualquer demonstração de cuidado com a minha pessoa, estava claro que estávamos nos perdendo. Em um esforço desumano subi as escadas de joelho até o nosso apartamento, me arrastei pelos degraus da escada até chegar. Sentei na porta e esperei que a Helô a abrisse. Coloquei- me em pé e pulei até a cama, me jogando exausta sobre ela, sem acreditar no que estava acontecendo.

Em silêncio sozinha permaneci ali no quarto com as minhas constatações, elas me destruíam a cada lagrima que rolava em meu rosto, eu estava perplexa. Era como se eu estivesse prevendo o fim deste meu conto de fadas. Como pude ser tão tola e acreditar que isso poderia dar certo? Fui tomada por um desespero sem precedentes, não me lembrava de ter sentido essa sensação antes, nem mesmo no dia em que saí da casa da minha mãe sem ter para onde ir.

Enfiei meu rosto no travesseiro e chorei, chorei copiosamente até desligar, não sabia mais o que pensar e adormeci na tormenta dos meus pensamentos. Não sei quanto tempo dormi, despertei com as Meninas sentadas ao pé da cama me olhando assustadas. Nem bem abri os olhos e as perguntas vieram, elas estavam visivelmente assustadas com o gesso no meu pé e perguntaram:

- Tia Fê o que aconteceu? Como você se machucou? Perguntou Betina.

- Fui jogar bola com as meninas do trabalho e acabei machucando o pé. Nada sério, estou bem!

- Você está com dor? Quero colocar uma botinha dessa Mamãe. Disse Clara em seu tom peculiarmente manhoso.

Sem conseguir me controlar chorei novamente por ver que aquilo tudo era verdade, confesso que meu mundo estava desabando diante de mim, aquilo tudo era real. Estendi meus braços em direção às Meninas e elas compreenderam meu gesto, se jogaram sobre mim e me abraçaram com toda força que existia nelas. Foi um abraço de proteção e cuidado que desejei tanto ter vindo da Helô, mas foi delas que recebi e junto vieram as palavras de preocupação:

- Não chore Tia, isso vai passar. Dizia Betina, tentando me consolar.

A Helô estava em pé parada na porta nos observando e diante da comoção que tomou o quarto, perguntou-me:

- Como isso aconteceu? Você quebrou o pé?

- Não Heloísa, rompi o tendão de Aquiles. Amanhã terei que voltar ao hospital, passarei por uma cirurgia para reconstruir o nervo. O médico que me atendeu queria que eu ficasse internada imediatamente, mas eu não quis ficar.

- Como assim, isso é sério então? Você não tem a prova para professor amanhã? Você deveria ter ficado.

- Tenho e exatamente por isso, não fiquei internada. É bem grave o que aconteceu, será uma recuperação lenta, seria mais fácil ter quebrado a perna, mas até nisso as coisas são complicadas para mim.

- Calma, agora não adianta se desesperar. Amanhã te levo para você fazer a prova e depois vamos ao hospital.

- Eu agradeço, mas não precisa, meu irmão e eu faremos prova no mesmo lugar, ele passará aqui e depois me leva ao hospital.

- Para com isso Fernanda, eu te levo.

- Eu não quero. Não precisa, eu me viro.

- Irei colocar as meninas na cama e voltamos a conversar, esfria essa cabeça, não chegaremos a lugar algum deste jeito.

Ela saiu do quarto sem chegar perto de mim, são nestes pequenos detalhes que as coisas se mostram, sempre fui muito atenta nos por menores e tudo já estava posto diante de mim. Liguei para o meu irmão e combinamos nossa saída de amanhã cedo. Ele me pegaria em casa e iríamos juntos fazer a prova. Ele demonstrou preocupação com o meu estado, dizendo que era uma lesão séria e bastante delicada. Perguntei se ele conhecia alguém que tivesse uma muleta para me emprestar e ele disse que sim. Levantei com muita dificuldade e fui tomar um banho, amanhã cedo quanto menos coisas eu fizesse, seria mais fácil, não querida dar trabalho para ninguém.