Entrei no meu corsinha e dormi. Eu tô desnutrido, minha última refeição foi aquele sanduíche na beira de estrada. Tô triste, claro, mas isso já é normal. Não faço a barba desde que eu me formei na escola, mas eu não tenho muito mais do que um bigodinho de cobrador bem falhado. Eu tô miserável, mas bem que eu já me acostumei.
Mas, como antes, eu quero mudar isso, quero ser famoso. Então, vamos mudar.
Eu ainda tinha agendado o encontro com os dois, acho que o meu primeiro compromisso em alguns meses, então esse seria o meu primeiro teste.
Arrumei o cabelo, fiz um penteado diferente e acho que rejuvenesci alguns anos. Eu realmente tava mórbido, mano. Lavei o rosto e, assim, a sombra pesada, ressecada e gordurosa saiu debaixo dos meus olhos. Assim, se revelava olheiras gigantescas. Não sei se mantinha a sombra ou não.
Peguei a minha roupa menos satânica e mais simpática pra encontrar o bendito casal. Quer saber? Acho que eu nem tenho raiva deles mais. Depois que eu ouvi a voz da prole, acho que todo o ódio saiu de mim. Nem sei como ou o porquê, mas eu me senti mais leve. Mas eu ainda tinha assuntos inacabados.
Perfume, calça inteira, menos pulseiras e cordões, eu tava quase chegando no nível de um Testemunha de Jeová. Credo, quando eu realizei isso eu troquei pela calça rasgada e lavei o pescoço com álcool.
Finalmente, duas horas da tarde. Marquei para as duas e meia, tempo suficiente pro meu corsinha pegar no tranco e eu chegar no ponto marcado: a quadra da escola. A quadra era fora da escola, mais um espaço alugado do que um real espaço para esporte. Bom, eu nunca entrei nela mesmo, então pelo menos eu ia ter uma experiência nova.
Tentei comer alguma coisa, mas meu corpo me dizia que eu só estaria em paz depois daquela conversa. Finalmente, o traumatizado Caifaz se pronunciou:
-Senhor, gostaria de alguma proteção para o dia que virá? Como tratarás com assunto do coração, maus Daimons podem atacar e tomar de ti o teu corpo.
Eu, puto, claro, (quem ele pensa que é?) respondi:
-Caifaz, Daimon de meu nome e minha segurança. Sei que não me recomendas por gentileza ou bom grado; caso dominem meu corpo, tomam a ti como tal. Então, tratante, cala-te ao meu dizer: estou protegido como nunca.
Eu não sei porque a gente sempre gasta no portuga quando conversa, mas cada dia mais eu me sinto mais maduro.
Duas e dez, estava ajeitando o retrovisor do corsinha amarelo. Respirei fundo e fiz meu caminho para o encontro com o meu passado. Eu não conseguiria viver com esse trauma, imagina ficar famoso? Então, eu realmente precisava resolver isso.
Cheguei no tal do "Ginásio Cantinho do Bem", eu tava quase desistindo. Saí do corsinha e tive uma crise de riso. Fazia anos que eu não ria daquela forma. Gente, como pode? "Cantinho do Bem"? Meu deus do céu.
Bom, estacionei e puxei meu cigarro. Tava igualzinho o Dean, só que sedentário, magro, fumante e sem um Impala. Bom, então eu não tava igual ao Dean. Mas fazer o quê.
Logo, eles chegaram
Num carro muito melhor do que eu. Bom, eu não entendo nada de carro, ganhei o corsinha numa rinha de galo. Mas eu um carro gigante, alto e grande, que cabia mais ou menos umas sete pessoas, o negócio era quase uma mini vã, bixo.
Em primeiro lugar, eles não me reconheceram. Entrariam logo no Ginásio, se, mesmo que contrariado por mim mesmo, eu não tivesse gritado:
-Casal!
Parecia que eu tava no centro da cidade. Era dali pra oferecer chip da Oi.
Eles viraram e foram até mim. Disse:
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Uma coletânea de flertes com o Demônio
SpirituálníEu tento mexer com isso, é a minha melhor opção. É melhor isso do que ser um vendido na protestante ou estuprado na sacra. E até que eu gosto do meu Daemon. Essa aqui é a reunião das minhas aventuras místicas, até o meu ápice e a minha situação mórb...