Eu tive certeza que ninguém estava mais lá. Fiz questão disso. Fui até onde eu guardava as minhas drogas, misturei tudo no meu copo de whisky e virei. Foi o pior shot da minha vida. Taquei fogo nelas e zuni da janela. O fogo se espalhou pelo mato que tinha em volta da Mansão e chegou até o estacionamento. Todas elas estavam prontas, e a cada explosão dos carros, um cômodo explodia. As bombas pegaram a cozinha mais cedo do que eu pensava e alguns estilhaços me acertaram nas costas. Caí com muita dor, mas fiz questão de jogar meu isqueiro na fachada antes de desmaiar. Por fim, o fogo terminou o que as bombas não conseguiram fazer. Sei disso porque subiu um cheiro de maconha, e eu não queimei a maconha. Minha última visão foi da cabeça de um dos bonecos de vodu de Carla, que voou até mim. Desmaiei.
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Escrevi a última palavra e não dei o ponto final. Assinei, salvei e postei no Wattpad. Imprimi, encadernei e liguei pro meu amigo de uma editora. Enquanto falava com ele, empacotei o encadernado e pedi o endereço dele. Pedi um Uber pro Sedex e enviei. Voltei pra onde eu estava e atendi a chamada de vídeo que tanto me perturbou enquanto eu estava na rua. Disse:
-Eu que fiz. Se virem. Mais tarde eu vou no Jornal, aguardem.
Desliguei na cara dos entrevistadores. Foi eu beber a minha água e abrir o meu livro que eu fui infernizado por mais e mais ligações de todos os meus conhecidos, que perguntavam sobre a mesma coisa. Desliguei na cara de todos e continuei lendo. Anotava, recortava, circulava e colava o que eu achava na minha pesquisa. Digitalizada todos os meus arquivos, tenho uma história com perder os meus trabalhos. Naquele dia eu virei a noite pesquisando, comecei em voodu haitiano e terminei em esoterismo egípcio.
Dali, eu fui direto pro meu amigo Gustin, o tatuador, e cobri as minhas costas com o que eu tinha aprendido. Voltei me sentindo usado, mas tinha mais o que fazer do que sentir dor. Meu telefone ainda estava vibrando, então eu quebrei ele. Liguei o computador, porque todos os livros que eu comprei eu já tinha acabado. Mas eu fui interrompido, invadiram a minha casa. Sim, agora eu tenho uma casa, e tinha certeza que ninguém sabia onde eu estava. Mas, não, eu fui achado. Lá estava Melissa, Amanda, Manuel e a agora com 10 anos, Carla.
Melissa chorou quando me viu, Amanda e Manuel não tinham reação e Carla correu até mim. Quando quis me abraçar, eu estendi meu braço e dei um tapa de mão aberta na testa dela, dando distância. Virei pro lado, peguei uma boneca que eu tinha feito e dei pra ela. Dei um sorriso de canto de boca quando ela agarrou a boneca, virei a cabeça dela e ela inteira virou meia-volta. Dei outro tapa de mão aberta e ela andou de encontro aos pais. Levantei.
Abri uma caixa que estava no meu lado, segurei nas abas e entreguei para Melissa. Era cheia de canecas, mas algumas estavam quebradas no fundo. Pedi desculpas e voltei para aonde eu estava. Muito pleno e calmo, convidei eles para sentar comigo. Sem entender nada, eles sentaram mesmo assim, mas relutantes. Choravam como nunca, mas eu continuei sem expressão. Perguntei:
-Vocês estão bem?
Eles não conseguiram responder quando ouviram a minha voz. Acharam que eu tinha morrido no famoso Incêndio da Mansão Coque, mas cinco anos depois as buscas já tinham acabado. Assumiram que aquele corpo plantado com o roupão do Rock Lee era eu e desistiram. Depois de eles terminarem de chorar, disse que eu estava bem, mas que estaria ocupado pelo resto do dia. Perguntei se havia algum problema, eles não responderam. Ao final, convidei para irem comigo até a minha ocupação, eles aceitaram, em meio a mais choro.
Levantei mais uma vez e fui até eles. Dei um beijo na testa da Melissa e, quando abri os braços, ela me deu um abraço. Eu só queria fechar a porta, da qual ela estava na frente. Fechei e voltei para os meus estudos no computador. Ficaram ainda mais perplexos, mas eu não aguentava mais a cara de pastel deles.
Algumas horas depois, recebo a ligação. A voz dizia:
-Elle, eles já estão prontos para você. Pode conectar.
Eu disse:
-Amigo, eles não estão, disso eu tenho certeza. Mas obrigado, já vou entrar.
Sintonizei tudo o que eu tinha que sintonizar e, mesmo em casa, fiz o que eu tinha que fazer.
Ainda disse:
-Ei, vocês querem aparecer? Vem aqui pra trás, igual antigamente!
Eles aceitaram e eu loguei. Só ouvi:
-Olá Elle, meu nome é William Bonder. O que quer nos contar?
-Olá. Eu sumi por cinco anos. Me deram como morto, mas eu estou aqui. Isso não é uma gravação, eu estou ao vivo falando. Queria dizer que eu botei fogo nos carros e na Mansão Coque, como já deve ser notícia. Não me sinto culpado ou com remorso, me sinto livre e, agora que eu posso falar com alcance do que eu quero, me sinto melhor. Nunca tive apoio durante a minha vida toda, Bonder. Sempre fui excluído e menosprezado, mas eu dei o meu jeito. Como todo mundo dá, todo o dia. Mas eu não aguentei mais e fiz o que fiz. Tenho certeza que os meus fiéis e todos aqueles que me seguem vão entender o que eu digo: mantenham suas couraças protegidas e reforçadas! O Iki Koku está próximo!
Bonder me cortou, disse:
-O que está dizendo, Elle? Explique-se. Seu nome está sendo cassado pelo crime contra a propriedade dos seus fiéis e da destruição da posse de João...
-Xiu, Bonder. EU NÃO TERMINEI. Estou publicando os meus novos textos, que desenvolvi nesses cincos anos de pesquisa. Podem baixá-los ou buscarem pessoalmente, o lugar vocês sabem. Boa sorte. Pouvwa yo pa janm jwenn ou.
Meu sinal foi cortado, mas aquele foi o dia de maior audiência do Jornal. Desliguei tudo, peguei algumas caixas e apontei para os três pegarem o resto delas. Me virei para os patetas atrás de mim e disse:
-Eles já devem estar indo, estamos atrasados. Vamos para a Mansão?
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Uma coletânea de flertes com o Demônio
EspiritualEu tento mexer com isso, é a minha melhor opção. É melhor isso do que ser um vendido na protestante ou estuprado na sacra. E até que eu gosto do meu Daemon. Essa aqui é a reunião das minhas aventuras místicas, até o meu ápice e a minha situação mórb...