Uma coletânea de flertes com o Demônio

Capítulo 17: Esklavaj

-Boa tarde! Boa tarde e boa tarde! Cheguem mais! Os livros estão de graça! Pegue um e descubra a verdade! Quem pegar mais de um, ganha um de brinde! Distribuam! Nouvo Ke está disponível! Novo livro do líder dos Coque, Elle!

E aí eu fazia o meu mercado de mentirinha. Os três tontos não sabiam como ministrar aquela gentalha que tava na porta da Mansão, pronta pra sair com quantos livros puder do grande visionário Elle. Mas eu tava curtindo. A minha volta fez com que todo aquele pandemônio da fama voltasse, mas agora eu estava preparado para contra-atacar.

Quando o primeiro repórter chato começou a pesar, eu puxei meu cigarro e mandei a Bere, Fihan e Dodó de uma vez só, e veio o mais puto dos demônios, Ioko. Sim, esse é o nome dele. Veio bufando e espumando, mas a aparência bizarra não era o mais importante; mas sim a coleira rosa que estava no seu pescoço. 

"Lil'Bitch" estava escrito, mas pouco do texto foi pego na câmera que gravava, já que o Daimon se movimentava quando eu puxava a corrente do danado.

O caralhado era um Daimon das curas, um cara de boa. Um tempo antes, eu tinha feito um acordo com ele: eu ia chamar ele e depois fazer uma oferenda. Simples. É, eu não cumpri.

Queixos caíram, eu continuei fumando meu cigarro. Disse, com o pedaço de câncer na boca, ainda:

-É, esse é o futuro da Goétia e do Culto dos Coques. Aprisionamento e escravização. Ei, olha pra mim - eu disse pra câmera. - isso é o futuro. Essas bestas são abomináveis. Não merecem nenhum direito em sociedade, a sociedade que nós, Goetas, vamos criar. Eles merecem na sarjeta, no esgoto, nos pés dos verdadeiros Pitit Salomon; Esse é o meu comprometimento com vocês, escravizar todos, com a ajuda de vocês. São 72. Os elite dessa minha missão, a Esklavaj, todos receberão seus escravos de presente. 

Puxei mais uma vez Ioko e abri a boca dele. Cuspi. Tunu e ele se foi. 

Pronto, mais e mais perguntas. Desapontado com a futilidade daquele pessoal, fiz tudo de novo, mas saí do recinto. Ouvi, bem baixo:

-É...é verdade...o que você disse??

Era Ioko, incrédulo.

-Ei, o que o Senhor disse. E sim, vocês estão ceifados, pode espalhar a palavra pros seus vendidos. Gostou não? Morde as costas.

-...Por...que??

-Deu vontade.

Eu continuei caminhando.

E fama é fama, né? É difícil conseguir, todo mundo quer, mas é fácil perder. Depois que o meu plano ficou famoso eu não parava de ouvir sobre Daimons que atacaram acampamentos da Coque por todo o país. Sim, quando eu desmantelei cada terceiro foi criando seu braço da religião, e agora tem até na Floresta.

E esse ataques eram fáceis de se resolver, qualquer peneira servia. Sim, eu só precisava pegar uma peneira e, bom, peneirar um pouco de açafrão. E, dali, com algumas palavrinhas mágicas e um pouco de pó de pirlimpimpim todos aqueles que falassem o meu nome estavam protegidos de qualquer coisa emergencial. Era um auxílio emergencial espiritual, digamos.

Sim, eu sei que todos vocês estão quarentena. Fica em casa, filhadaputa.

Mas aí foi um inferno né, todo mundo queria me bajular pra ganhar um Daimon de inspiração e estimação. E o pior que eles eram iguais esses vendidos espirituais, mas eu nem podia fazer tanta coisa. Reprimia um aqui e outro ali, mas não dava pra mudar a cabeça de todo mundo de uma vez só.

Ah, e aqueles três nunca estiveram tão desapontados comigo, Carla não queria mais falar e Melissa tirou meu nome. Mas tá bom, eles ainda estão aqui do meu lado e ainda me obedecem. É cu doce.  

Tinha gente do mundo todo stremando o que eu falava, espalhando a minha palavra, de graça, assim. Eu realmente fiquei muito famoso, tava em top 3 de tudo e até aquele falso do Maceno tava querendo fazer collab, eu ia no templo dele falar que os demônios são ruins. Ué, ele já não convida todos pro templo dele? Ele deveria saber. Mas, fazeroq, os meus propósitos não medem meios. 

E meu trabalho era só ficar mais famoso. Comecei a fazer live, entrei até no PlicPloc. É, eu não tinha muito o que fazer além disso. E, a cada ato público meu, mais eles se afastavam. Mas eu não preciso daqueles três, não preciso.

Eu não preciso deles.

Mas não era só isso também, senão o foco vai aonde? Eu também tive que modificar coisa pouca do meu discurso.

Mandei todos os Nenn, os pré-iniciados, abandonarem suas casas de Coque e viver a Goétia. E, para todos os Vye, os velhos seguidores, criarem sua casa.

É, assim eu aumentei o alcance, mas nem era esse o objetivo.

O novo ensinamento que está na Nouvo Ke é esse: cada um por si, aprenda e filtre. Os antigos sabem como o mundo funciona, então podem viver e criar suas casas. Os novos devem viver primeiro e descobrir sozinhos. Mesmo que tenham medo, vão fazer porque amadurece. E fizeram, meus números duplicaram.

É, eu sou bem foda mesmo, todos obedeceram e tão aí, vivão.

Uhul.