01 - O FUNERAL [editado]

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Era um dia quente para um funeral e o sermão do diácono parecia ainda mais longo. Os homens ao redor enxugavam suas testas com lencinhos e não se preocupavam se pareciam discretos ou não. Um par de vezes o Sr. Keaton lançou olhares repreensivos para os ventiladores que estavam quebrados há anos, como se de repente eles fossem voltar a funcionar quando repreendidos.

Algumas mulheres tinham consigo leques para se abanar, mas a grande maioria também parecia desconfortável em seus trajes escuros. A verdade é que era um funeral grande demais somente porque Scarlett era muito popular e uma empresária da pacata cidade de Tetbury. Ela não era amiga de todas aquelas pessoas, mas a maioria deles se sentia íntimo suficiente para considerar uma indelicadeza perder a chance de se despedir de uma figura tão notável.

Pode-se dizer que ninguém prestou atenção numa só palavra que o diácono Matthews tão belamente tinha preparado. Em suas roupas, o velho amigo de Scarlett também tinha sua pele oleosa pelo calor. Ele convidou alguém a dize algumas palavras ou compartilhar memórias sobre Scarlett e, após um longo e constrangedor silêncio, uma mulher na faixa dos seus quarenta anos se levantou. 

Os cabelos escuros feito carvão e os olhos extremamente claro criavam um contraste invernal na aparência da mulher que tinha um rosto tão familiar para todos. Não apenas porque ela era a cópia de Scarlett, mas porque Molly Hammond era quase um tesouro nacional. Escritora infantil de obras renomadas e, atualmente, produtora executiva de uma adaptação para uma plataforma streaming.

Talvez tenha sido o único momento em que as pessoas prestaram atenção de fato. Não necessariamente porque Molly era cara a eles, muito embora ela já tivesse sido um dia, mas porque 'a filha de Scar' - como já fora conhecida - sempre foi pauta das muitas fofocas que circulavam pela cidade. Tal qual a mãe, Molly Hammond parecia gostar de ser o centro das atenções, então por que diabos ela estava olhando para os próprios pés enquanto falava?

— Minha mãe... — Molly começou e se interrompeu. Ela fechou os olhos, ainda de cabeça baixa e levou alguns segundos antes de retomar sua fala. —  Minha mãe era uma mulher extraordinária e ela sabia disso. Ela soube aproveitar a própria vida como ninguém e sempre me ensinou a entregar meu melhor em tudo que eu escolhesse fazer. Ela foi uma mãe solteira e me criou da melhor forma possível, fazendo sacrifícios em prol da minha educação e bem-estar, trabalhando duro para que eu tivesse oportunidades tão grandiosas quanto as que ela teve quando era criança. Durante toda a minha vida, minha mãe assumiu diversos outros papéis: pai, melhor amiga, mulher, inspiração, esposa, vovó... 

O rosto cansado e sofrido de Molly Hammond se contorceu em tristeza e ela parou novamente. Seus olhos assombrosamente claros buscaram aqueles mais próximos, em especial, o viúvo de sua mãe. Um jovem de quarenta e poucos anos, não muito mais velho que ela, mas que tinha se casado com a mulher que atualmente tinha pouco mais de sessenta anos.

James Meade era o nome do viúvo de Scarlett Hammond e ele acenou na direção de Molly, encorajando-a a prosseguir - talvez não tão paternalmente como a figura de um padrasto, mas decididamente fraternal, como um irmão mais velho. Ao lado dele, um menino de cabelos extremamente pretos e olhos idênticos aos da mulher que estava no púlpito parecia alheio a toda a situação. 

Molly olhou para suas mãos e o papel em que tinha rabiscado um discurso durante seu voo para a Grã-Bretanha. Agora o papel estava manchado pelas lágrimas que tinha derramado ao longo daquele momento, mas não a impediria de dar sequência. Era de sua mãe que precisava falar e ninguém a conhecia melhor que Molly.

— Ela era engraçada, espontânea e sempre tinha um insulto na ponta da língua. — Molly disse de repente, fazendo todos rirem. Ela mesma sentiu os próprios lábios se alargarem. — Conforme ficava mais velha, ficava mais desbocada. Ela costumava dizer que Mike e eu éramos as coisas mais importantes de sua vida...

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